A trajetória histórica da Black Friday: da crise do ouro em 1869 ao fenômeno global de consumo

A trajetória histórica da Black Friday: da crise do ouro em 1869 ao fenômeno global de consumo

Black Friday é hoje sinônimo de descontos e forte movimento no comércio, mas o termo nasceu em um contexto totalmente diferente, ligado a um colapso na Bolsa de Nova York no século XIX. Ao longo de mais de 150 anos, a expressão sofreu mudanças de significado, foi adotada por lojistas, atravessou fronteiras e, atualmente, impulsiona bilhões de reais em vendas somente no comércio eletrônico brasileiro. A seguir, cada etapa dessa transformação é apresentada em detalhes.

Índice

1869: a primeira “sexta-feira negra” e o colapso do mercado de ouro

A origem do nome remonta a 24 de setembro de 1869, quando os especuladores Jay Gould e James Fisk tentaram dominar o mercado de ouro na Bolsa de Valores de Nova York. Para conter a manobra e estabilizar a economia, o governo dos Estados Unidos liberou grandes volumes do metal no mercado.

Com a oferta repentina, o preço do ouro caiu de forma drástica. Investidores que haviam apostado na alta perderam fortunas, e o dia ficou marcado na história financeira como Black Friday. À época, o adjetivo “negro” era usado com frequência para designar tragédias ou eventos de forte impacto negativo, característica que definiu a conotação inicial da expressão.

1905 a 1924: desfiles de Natal transformam a relação entre sexta-feira e compras

Apesar da marca negativa, a associação da sexta-feira seguinte ao Dia de Ação de Graças com o consumo começou a ganhar força décadas depois. Em 1905, a rede canadense Eaton’s passou a organizar um desfile com a presença do Papai Noel. A chegada do bom velhinho sinalizava o início das compras de fim de ano.

A ideia atravessou a fronteira e, em 1924, a loja de departamentos Macy’s, nos Estados Unidos, realizou um desfile similar logo após o feriado de Ação de Graças. Como o feriado ocorre sempre em uma quinta-feira, o desfile inevitavelmente acontecia na sexta, reforçando a ligação entre esse dia específico e a abertura da temporada de presentes.

1939 a 1941: ajustes no calendário oficial de feriados

Entre o século XIX e o início do XX, o Dia de Ação de Graças era celebrado na quarta ou na quinta quinta-feira de novembro, o que podia encurtar o período disponível para compras antes do Natal. Em 1939, o feriado caiu na última quinta-feira do mês, reduzindo a janela de vendas.

Para estender o tempo disponível aos comerciantes, o presidente Franklin Roosevelt atendeu a uma petição do setor varejista e antecipou o início das festividades de fim de ano em uma semana. Dois anos depois, em 1941, uma resolução do Congresso dos Estados Unidos oficializou o Dia de Ação de Graças na quarta quinta-feira de novembro, assegurando sete dias extras de vendas até o Natal em todos os anos subsequentes.

Década de 1960: Filadélfia adota o termo para problemas de trânsito

Na prática, o aumento repentino de consumidores após o feriado provocava congestionamentos e poluição. Policiais da cidade da Filadélfia começaram a se referir à data como Black Friday devido ao tráfego intenso e à necessidade de jornadas de trabalho prolongadas.

Os lojistas da região, preocupados com a conotação negativa, tentaram substituir a expressão por Big Friday (“Grande Sexta-feira”) em 1961. A iniciativa não prosperou, e o uso popular manteve a denominação original dentro dos limites da cidade.

Anos 1990: disseminação do termo e consolidação nacional nos EUA

Durante décadas, a implementação das promoções de sexta-feira após o Dia de Ação de Graças permaneceu restrita principalmente à Filadélfia. A adoção em escala nacional nos Estados Unidos só ganhou corpo em meados dos anos 1990, quando o termo Black Friday espalhou-se por outras regiões do país. Mesmo assim, a explosão de popularidade, com filas extensas e cobertura midiática, tornou-se realidade apenas nos anos 2000.

Expansão internacional: Canadá, México e outros mercados

Originalmente restrita ao território norte-americano, a data cruzou fronteiras por razões comerciais. Lojistas do Canadá perceberam que consumidores viajavam aos Estados Unidos para aproveitar descontos e, para evitar a perda de receita, passaram a oferecer promoções próprias na mesma sexta-feira.

Posteriormente, o modelo chegou ao México e, gradualmente, a vários outros países. Em praticamente todos eles, o calendário segue a referência norte-americana: a Black Friday ocorre um dia após o Dia de Ação de Graças, ou seja, sempre em uma sexta-feira.

Chegada e evolução da Black Friday no Brasil

No Brasil, o evento foi incorporado ao varejo com peculiaridades locais. Muitas empresas iniciam as ofertas uma semana antes e mantêm promoções até dias depois, aproveitando o período geral de compras de fim de ano.

O crescimento mais perceptível aparece no comércio eletrônico. Dados da Associação Brasileira de Inteligência Artificial e E-commerce (Abiacom) indicam que, em 2022, a semana da Black Friday movimentou R$ 7,93 bilhões apenas nas vendas online, valor que inclui até a segunda-feira subsequente.

Para 2023, a mesma entidade projeta um volume financeiro ainda maior, estimando R$ 9,08 bilhões em compras realizadas exclusivamente pela internet. Esse crescimento confirma a relevância da data para o varejo digital nacional.

Linhas do tempo e principais marcos

Organizando a evolução da Black Friday, é possível destacar os seguintes marcos cronológicos, todos baseados nas informações anteriores:

• 1869 – Crise do ouro nos Estados Unidos e primeira utilização do termo com sentido negativo.
• 1905 – Loja canadense Eaton’s introduz desfile de Papai Noel, marcando o começo simbólico das compras natalinas.
• 1924 – Macy’s replica a ideia do desfile em Nova York, reforçando a sexta-feira como ponto de partida para o varejo.
• 1939 – Presidente Roosevelt antecipa o início das festividades de fim de ano para apoiar o comércio.
• 1941 – Congresso norte-americano fixa o Dia de Ação de Graças na quarta quinta-feira de novembro.
• 1961 – Tentativa frustrada de rebatizar o dia como Big Friday na Filadélfia.
• Anos 1990 – Termo Black Friday se populariza em todo o território dos Estados Unidos.
• Anos 2000 – Data se consolida como um dos períodos de maior faturamento do varejo norte-americano.
• 2022 – Black Friday movimenta R$ 7,93 bilhões no comércio eletrônico brasileiro.
• 2023 – Projeção de R$ 9,08 bilhões em vendas online no Brasil.

Fatores que sustentam o sucesso comercial da Black Friday

O ganho de importância da Black Friday resulta da convergência de três elementos descritos nos eventos anteriores:

Cronograma estratégico – A fixação do Dia de Ação de Graças na penúltima quinta-feira de novembro, decidida em 1941, cria um intervalo de cerca de quatro semanas até o Natal, permitindo que consumidores planejem compras com antecedência e lojistas escoem estoque.

Adoção de símbolos festivos – Desfiles iniciados em 1905 no Canadá e herdados pela Macy’s em 1924 incorporam o imaginário natalino, despertando interesse do público e conectando o período de promoções às emoções típicas do fim de ano.

Expansão territorial – A adoção por outros países, motivada inicialmente por fluxos de consumidores transfronteiriços, consolidou a data como fenômeno global, mantendo o foco na sexta-feira imediatamente posterior ao feriado norte-americano.

Impacto econômico recente no Brasil

Os números coletados pela Abiacom para os anos de 2022 e 2023 mostram a Black Friday como um dos principais motores de receita do varejo digital nacional. A diferença de R$ 1,15 bilhão entre a movimentação confirmada na edição passada e a projeção para a edição corrente indica um ritmo elevado de expansão.

A tendência de estender as ofertas por vários dias — iniciando antes da própria sexta-feira e mantendo descontos no final de semana e na segunda-feira seguinte — amplia o período de receitas e distribui melhor o fluxo de acessos às lojas virtuais, o que contribui para minimizar picos de demanda e instabilidades de sistema.

Conclusão factual

Da crise financeira de 1869 ao papel de catalisador de vendas bilionárias no comércio eletrônico brasileiro, a Black Friday percorreu um caminho marcado por mudanças de significado, ajustes de calendário e expansão geográfica. Mantendo-se fiel à referência do Dia de Ação de Graças, a data sustenta sua posição como um dos momentos mais aguardados pelo varejo e pelos consumidores ao redor do mundo.

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