Keeta enfrenta queixas, protestos e investigação policial nos primeiros dias de operação no Brasil

Keeta enfrenta queixas, protestos e investigação policial nos primeiros dias de operação no Brasil

Lead — quem, o quê, quando, onde e por quê

A plataforma de entregas Keeta, controlada pela chinesa Meituan, iniciou uma operação-piloto há pouco mais de uma semana nas cidades de Santos e São Vicente, no litoral paulista. O lançamento, que integra um plano anunciado de investimento de R$ 5,6 bilhões para disputar espaço com o iFood, foi marcado por reclamações de entregadores, protestos em vias públicas e a abertura de uma investigação da Polícia Civil por suposta espionagem corporativa envolvendo terceiros que teriam se passado por funcionários da empresa.

Índice

Início das operações e promessa de investimento

A Meituan, gigante asiática do segmento de delivery, escolheu a Baixada Santista para testar no Brasil o aplicativo Keeta. O cronograma apresentado pela companhia prevê desembolso bilionário e rápida expansão territorial, com o objetivo declarado de concorrer com o iFood, responsável por mais de 80 % do mercado nacional de entregas de comida. A fase atual, restrita a Santos e São Vicente, serve de laboratório para calibrar processos logísticos e remuneração antes de um eventual avanço para outras regiões.

Reclamações de entregadores antes da primeira quinzena

Em grupos de WhatsApp voltados a motoboys e ciclistas locais, surgiram relatos de ganhos considerados abaixo das expectativas. Os prints compartilhados pelos trabalhadores indicam que corridas pagavam valores base de R$ 7,50 para motociclistas e R$ 7,00 para ciclistas, sem inclusão de adicionais variáveis, como quilometragem ou tempo de espera. Embora a empresa tenha concedido um bônus de R$ 5,00 por entrega nos primeiros dias, a soma foi vista como insuficiente por parte dos cadastrados, que alegam custo elevado de combustível, manutenção de veículo e desgaste físico.

Outro ponto de insatisfação foi a aplicação automática de bloqueios em perfis que recusavam corridas consideradas longas ou pouco vantajosas. De acordo com os entregadores, a recusa de pedidos resultava em suspensão temporária da conta, impossibilitando a aceitação de novos chamados. Havia ainda a possibilidade de o próprio cliente solicitar que um trabalhador fosse afastado da plataforma, mecanismo que, segundo os motoboys, era executado sem aviso prévio ou espaço para defesa. Após a repercussão negativa, a Keeta informou que o recurso esteve ativo por período limitado e foi retirado do sistema.

Protestos nas ruas de Santos e São Vicente

A conjunção de pagamento reduzido, bloqueios recorrentes e falta de transparência motivou protestos presenciais nos dois municípios. Grupos de motoboys estacionaram veículos em frente a pontos de coleta popularmente conhecidos e exibiram cartazes pedindo revisão da política de remuneração. O movimento ganhou visibilidade local porque interrompeu trechos de avenidas de alto fluxo, atraindo a atenção de pedestres, comerciantes e motoristas.

Modelo de Operadores Logísticos e questionamentos trabalhistas

Paralelamente às manifestações, o modelo organizacional da Keeta foi colocado em debate. A companhia adotou a figura dos Operadores Logísticos (OLs), empresas terceirizadas responsáveis por contratar entregadores, definir turnos, delimitar áreas de cobertura e repassar pagamentos. Na prática, esses OLs atuam como intermediários entre a plataforma e os trabalhadores.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) considera esse arranjo uma forma de terceirização irregular quando impõe metas, horários fixos e subordinação típica de vínculo empregatício, mas sem assegurar direitos previstos na Consolidação das Leis do Trabalho. Diante das críticas, a Keeta afirmou que 60 % dos entregadores em Santos e São Vicente atuam de forma independente, isto é, sem ligação com operadores logísticos. A companhia também declarou acompanhar o cenário econômico regional e avaliar ajustes futuros na remuneração.

Disputa judicial com a 99Food

A entrada da Keeta no mercado brasileiro desencadeou contencioso empresarial com a 99Food, aplicativo que, segundo a informação divulgada, voltou a operar no país em 2025. A empresa chinesa acusou a rival de concorrência desleal por supostamente firmar contratos de exclusividade com restaurantes, inviabilizando que esses estabelecimentos assinassem acordo simultâneo com a plataforma recém-chegada.

O Tribunal de Justiça de São Paulo analisou o teor das cláusulas contratuais e, em decisão divulgada em outubro, considerou ilícita a imposição de exclusividade integral. O órgão determinou que tais termos fossem removidos dos contratos firmados pela 99Food. Em resposta, a concorrente refutou qualquer irregularidade e alegou que os acordos de exclusividade parcial seriam necessários para proteger investimentos num setor dominado pelo iFood.

Investigação de espionagem corporativa

A estreia do aplicativo também coincidiu com a abertura de inquérito policial sobre possível espionagem industrial. De acordo com informações da Polícia Civil de São Paulo, ao menos oito indivíduos teriam se apresentado falsamente como funcionários da Keeta junto a restaurantes parceiros. O objetivo, segundo a corporação, era acessar sistemas internos e fotografar telas que exibiam dados de caráter confidencial, como modelos de contratos, prazos de pagamento e taxas cobradas.

Os crimes investigados incluem falsa identidade e concorrência desleal. Em nota, a Keeta declarou que os suspeitos buscavam informações estratégicas do negócio e que a própria empresa não possui ligação com o grupo. A plataforma comunicou às autoridades estar colaborando com a apuração.

Resposta corporativa às críticas e próximos passos

Sobre o conjunto de reclamações, a empresa sustenta que as tarifas oferecidas estão alinhadas ao padrão de mercado local, diferença que, na avaliação da própria Keeta, é parcialmente compensada por bonificações promocionais. Quanto aos bloqueios, a companhia reiterou ter desativado o mecanismo que permitia a clientes solicitar suspensão de entregadores e afirmou revisar continuamente os critérios de avaliação.

Em relação ao modelo dos Operadores Logísticos, a Keeta defende que a terceirização proporciona flexibilidade operacional e que a maioria dos entregadores já opta por atuação autônoma. A plataforma informa ainda monitorar indicadores econômicos regionais, como custo médio de combustível e rotatividade de mão de obra, antes de implementar qualquer alteração estrutural.

Cenário competitivo dominado pelo iFood

O pano de fundo de todos esses eventos é a elevada concentração de mercado em torno do iFood, cuja participação supera 80 % no segmento de entregas de refeições no Brasil. Para reduzir a dependência de um único operador, redes de restaurantes e trabalhadores demonstram interesse por alternativas, mas ressaltam preocupação com práticas que possam replicar problemas já identificados no modelo predominante.

No caso da Keeta, a promessa de investimento vultoso atraiu a atenção do setor, porém os acontecimentos das primeiras semanas — reclamações, protestos e investigação policial — adicionaram variáveis de risco que podem influenciar a adesão de estabelecimentos e a permanência de entregadores na plataforma.

Perspectivas de expansão e ajustes necessários

Embora ainda não exista cronograma oficial para saída da fase-piloto, o plano de crescimento depende da capacidade de a empresa solucionar arestas levantadas por trabalhadores e órgãos fiscalizadores. A continuidade de bloqueios contestados, a remuneração percebida como baixa e as dúvidas sobre a legalidade do modelo de Operadores Logísticos constituem fatores que tendem a receber atenção do Ministério Público do Trabalho e de sindicatos de motofretistas.

Do lado concorrencial, a decisão do Tribunal de Justiça envolvendo a 99Food estabelece precedente para discussões futuras sobre cláusulas de exclusividade no setor de delivery. A maneira como restaurantes irão reagir a decisões judiciais e à oferta de condições comerciais propostas tanto por Keeta quanto por rivais poderá redefinir o equilíbrio de forças em um mercado historicamente concentrado.

Por fim, a investigação de espionagem ainda em curso adiciona elemento de cautela para as empresas que embarcam na digitalização do serviço de entregas. O desfecho do inquérito poderá sinalizar se práticas de obtenção indevida de informações estão se tornando mais comuns e quais medidas deverão ser adotadas para proteger dados estratégicos.

Enquanto isso, motoboys, ciclistas e parceiros comerciais aguardam manifestações concretas da Keeta que indiquem resolução das questões mais urgentes, como transparência na remuneração, estabilidade no acesso à plataforma e segurança jurídica nos contratos adotados.

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