Erupções solares de classe X1.8 e X1.2 provocam blecautes de rádio e elevam risco de tempestades geomagnéticas

Uma série de explosões solares de alta intensidade abalou as comunicações na Terra entre o domingo, 9 de novembro, e a manhã de segunda-feira, 10 de novembro de 2025. O ponto de origem foi a mancha AR4274, posicionada próximo ao centro da face visível do Sol. Às 4h (horário de Brasília) de domingo, a região produziu um clarão de classe X1.8, o patamar mais elevado da escala usada para medir a emissão de raios-X provenientes dessas erupções. Vinte e quatro horas depois, às 5h55 de segunda-feira, o mesmo local desencadeou um segundo evento, agora de classe X1.2. Ambos lançaram ejeções de massa coronal (CME) e causaram blecautes de rádio classificados como nível R3, considerados fortes.
- Quem está por trás dos eventos: a mancha solar AR4274
- O primeiro clarão: detalhes do evento X1.8
- A onda coronal que acompanhou o X1.8
- O segundo clarão: evento X1.2 e novo blecaute
- Outras regiões ativas e o total de 15 erupções em 48 horas
- Como os blecautes de rádio se formam
- Classificação das erupções: da letra A à letra X
- Contexto do Ciclo Solar 25
- Impactos potenciais além dos blecautes
- Monitoramento contínuo e estados de alerta
- Resumo da situação no disco solar
Quem está por trás dos eventos: a mancha solar AR4274
AR4274 é descrita como magneticamente complexa, apresentando uma configuração beta-gama-delta. Essa nomenclatura indica que o campo magnético dentro da mancha possui polaridades embaralhadas e altamente instáveis, condição propícia para liberar energia acumulada em grandes explosões. Além dos dois fenômenos de classe X, a mesma região produziu oito erupções menores de classe C em um intervalo de 24 horas, revelando atividade sustentada e intensa.
O primeiro clarão: detalhes do evento X1.8
Pouco antes do amanhecer de domingo, sensores terrestres e espaciais registraram a emissão de raios-X categorizada como X1.8. O coronógrafo LASCO C2, a bordo do Observatório Solar e Heliosférico (SOHO), observou um halo completo ao redor do Sol, sinal típico de uma CME dirigida ao planeta. Esse instrumento bloqueia a luz direta da estrela e permite enxergar a coroa externa, onde a nuvem de plasma se formou. Como consequência imediata, ocorreu um blecaute de rádio de alta frequência (HF) em todo o hemisfério diurno da Terra. A interrupção durou mais de uma hora, afetou operações aéreas sobre o Oceano Pacífico e comunicações marítimas no Oceano Índico, de acordo com a escala da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, que classificou o episódio como R3.
A onda coronal que acompanhou o X1.8
Simultaneamente ao clarão, imagens em ultravioleta extremo capturaram uma onda coronal — uma perturbação que se propaga pela atmosfera externa solar, comparável a um tsunami magnético. Essa onda, também chamada de EIT, carrega energia e partículas que podem tanto impulsionar quanto intensificar uma CME. O registro confirma o vigor do evento e reforça os sinais de que o material ejetado tinha direção provável de impacto com o campo magnético terrestre.
O segundo clarão: evento X1.2 e novo blecaute
Na manhã de segunda-feira, a mesma mancha AR4274 voltou a entrar em erupção, desta vez com magnitude X1.2. A nova explosão também projetou uma CME, cujo trajeto e velocidade permanecem em análise para determinar com precisão o potencial de impacto. O blecaute de rádio associado igualmente atingiu o nível R3, porém concentrou-se nas comunicações de HF utilizadas em rotas aéreas e operações marítimas sobre o sul da África, com duração aproximada de 30 minutos.
Outras regiões ativas e o total de 15 erupções em 48 horas
Embora AR4274 tenha sido o epicentro dos fenômenos mais poderosos, outras áreas do disco solar contribuíram para a escalada de atividade:
AR4276 apresentou configuração beta-gama e gerou um clarão de classe M6.3, nível intermediário entre C e X.
AR4277, classificada como beta, produziu três eventos de classe C.
Uma região ainda não numerada originou um clarão M4.0.
No total, 15 erupções foram relatadas entre sábado, 8 de novembro, e a manhã de segunda-feira, evidenciando que o Sol atravessa um período de excitação magnética generalizada.
Como os blecautes de rádio se formam
Quando uma erupção solar atinge a categoria X, a emissão de raios-X e radiação ultravioleta aumenta drasticamente. Essa radiação ioniza as camadas superiores da atmosfera terrestre em questão de minutos, alterando a densidade eletrônica da ionosfera. Como resultado, as ondas de alta frequência, usadas para comunicação trans-continental e rotas de aviação, refletem de forma irregular ou se dissipam, instaurando um blecaute de rádio. Na escala aplicada, um nível R3 indica degradação severa do sinal e perda total por até uma hora em extensas áreas iluminadas pelo Sol.
Classificação das erupções: da letra A à letra X
A intensidade dos clarões solares é mensurada por um sistema que agrupa os eventos nas classes A, B, C, M e X. Cada categoria representa incremento de dez vezes na emissão de raios-X. Assim, um evento de classe X libera no mínimo dez mil vezes mais radiação que o nível básico da escala. Dentro de uma mesma letra, os números detalham a força relativa: por exemplo, um X2 equivale ao dobro da potência de um X1. A erupção de domingo alcançou X1.8, enquanto a de segunda-feira ficou em X1.2, ambas no topo da hierarquia solar.
Contexto do Ciclo Solar 25
O Sol passa por ciclos aproximados de 11 anos, alternando fases de mínima e máxima atividade. Os registros atuais pertencem ao Ciclo Solar 25, o 25.º a ser acompanhado de maneira sistemática por astrônomos modernos. Durante o auge, manchas solares mais numerosas e campos magnéticos entrelaçados elevam a probabilidade de clarões. Como a estrela gira em torno de si a cada 27 dias, regiões ativas como a AR4274 permanecem visíveis à Terra por cerca de duas semanas, desaparecem na borda e podem retornar após completar o giro.
Impactos potenciais além dos blecautes
Ejeções de massa coronal transportam plasma e linhas de campo magnético até o ambiente próximo à Terra. Quando a nuvem alcança a magnetosfera, choques podem gerar tempestades geomagnéticas. Especialistas alertam para possíveis distúrbios em satélites, sinais de navegação por GPS, redes elétricas de longa distância e, em casos extremos, transformadores. Por outro lado, o mesmo mecanismo estimula auroras intensas, visíveis em latitudes mais altas tanto no hemisfério norte quanto no sul.
Monitoramento contínuo e estados de alerta
Sinais de instabilidade foram captados no campo magnético terrestre logo após os clarões, o que levou centros de previsão espacial a manterem vigilância ampliada. A permanência da AR4274 próxima ao meridiano central significa que novas erupções teriam trajetória propícia para interceptar a Terra. Enquanto isso, as demais regiões numeradas — AR4276, AR4277 e AR4278 — exibem evolução, embora com menor complexidade magnética. Relatórios indicam estabilidade nas áreas restantes, mas o cenário pode mudar rapidamente devido à dinâmica solar.
Resumo da situação no disco solar
Na face voltada para o planeta durante a madrugada de 10 de novembro, cinco áreas estavam catalogadas:
AR4274: maior e mais ativa, classe beta-gama-delta;
AR4276: beta-gama, crescimento leve;
AR4277: beta, atividade moderada;
AR4278: beta, pequena e simples;
Outra região não identificada: origem de um M4.0.
Enquanto AR4274 concentra a atenção, a presença de múltiplas manchas demonstra que o pico do Ciclo Solar 25 se aproxima ou já está em curso, reforçando a necessidade de acompanhamento diário para mitigar riscos a infraestruturas sensíveis.
Os dois clarões de classe X, sucedidos por quinze eventos adicionais em um intervalo de 48 horas, revelam o comportamento volátil do Sol nesta fase do ciclo. Até que a mancha AR4274 se desloque para fora da área de visibilidade, agências espaciais e centros de meteorologia espacial seguem avaliando dados de coronógrafos, medidores de raios-X e observatórios solares para emitir alertas de tempestades geomagnéticas que possam afetar comunicações, transporte e sistemas de energia no planeta.
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