Tecnologia tátil See Color permite a identificação de quase 100 tonalidades por pessoas com deficiência visual

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Um sistema de linguagem tátil desenvolvido na Universidade Federal do Paraná (UFPR) possibilita que pessoas cegas ou com baixa visão reconheçam cores usando apenas as mãos. Batizada de See Color, a solução foi criada pela pesquisadora Sandra Regina Marchi e já conta com kits pedagógicos para crianças, adultos, educadores e instituições. O projeto, patenteado pela universidade, pretende, nos próximos passos, estabelecer um instituto voltado à sua expansão.
- A importância das cores na vida cotidiana
- O desafio de seis milhões de brasileiros com baixa visão
- Limitações do Braille para quem perde a visão na vida adulta
- Concepção do See Color: inspiração na Teoria das Cores e no relógio analógico
- Estrutura do código tátil: posições e variações que alcançam quase 100 tonalidades
- Kits pedagógicos: aprendizagem lúdica para crianças, adultos e educadores
- Resultados obtidos nos testes escolares
- Potencial de impacto social
- Desafios e próximos passos: criação de um instituto dedicado
- Conclusão factual
A importância das cores na vida cotidiana
Diferenciar uma embalagem no mercado, escolher uma roupa ou interpretar sinais de trânsito são ações banais para quem enxerga, mas envolvem a percepção de tonalidades específicas. As cores, além de servirem como orientação, despertam emoções, criam associações e influenciam decisões de consumo ou comportamento. Esse conjunto de estímulos visuais, porém, fica restrito a quem possui algum grau de perda de visão, reduzindo a autonomia em situações rotineiras.
O desafio de seis milhões de brasileiros com baixa visão
Dados citados pela pesquisadora revelam que mais de 6,5 milhões de brasileiros apresentam deficiência visual. Dentro desse grupo, cerca de 500 mil pessoas são completamente cegas e aproximadamente seis milhões convivem com baixa visão. Para esse público, tarefas como reconhecer rostos ou ler placas exigem recursos adicionais, tornando a independência um objetivo permanente. A lacuna informacional abrange também o universo cromático, do qual esses cidadãos ficam parcialmente excluídos.
Limitações do Braille para quem perde a visão na vida adulta
Apesar de ser fundamental para leitura e escrita em relevo, o sistema Braille traz desafios, principalmente para quem perdeu a visão já na fase adulta. O processo de aprendizagem, que envolve a memorização de 63 combinações de pontos, pode ser longo e desmotivador. Isso cria um obstáculo extra para a inclusão, pois muitos adultos não conseguem alcançar fluência e, consequentemente, seguem dependentes de terceiros para acessar informações visuais, inclusive sobre cores.
Concepção do See Color: inspiração na Teoria das Cores e no relógio analógico
Percebendo essa lacuna, Sandra Regina Marchi analisou como simplificar a comunicação cromática para o tato. A pesquisadora recorreu à Teoria das Cores, que define relações entre primárias, secundárias e neutras, e ao relógio analógico, objeto familiar e de visualização intuitiva. A premissa foi que, se as posições dos ponteiros já representam números de maneira universal, poderiam igualmente representar cores em um código padronizado, fácil de memorizar e reproduzir.
Estrutura do código tátil: posições e variações que alcançam quase 100 tonalidades
No See Color, cada uma das oito posições principais do relógio recebe uma cor específica. Entre os exemplos, a marca das doze horas indica vermelho, a posição das seis horas traduz-se em verde e o ponto das dez horas corresponde ao roxo. Sobre essa base, surgem três camadas de variação:
1. Tonalidade clara ou escura: pequenos pontos adicionados ao lado do eixo principal sinalizam se a cor é luminosa ou profunda.
2. Cores metálicas: um semicírculo envolvendo o código original indica acabamento metálico.
3. Combinações: a sobreposição dessas marcas possibilita descrever quase 100 cores distintas de forma exclusivamente tátil.
A escolha de oito posições, em vez de doze, simplifica a memorização e reduz possíveis confusões. Ao mesmo tempo, a lógica permanece suficiente para cobrir o espectro cromático com riqueza de detalhes.
Kits pedagógicos: aprendizagem lúdica para crianças, adultos e educadores
Para converter o conceito em prática, foram elaborados kits didáticos que incluem placas táteis com as posições do relógio, cartões de referência e material de apoio teórico sobre Teoria das Cores. O conteúdo atende diferentes faixas etárias e perfis: estudantes, professores, famílias e instituições especializadas. Durante testes em salas de aula, os alunos não apenas identificaram rapidamente as cores por meio do tato, mas também demonstraram entusiasmo ao transformar o exercício em brincadeira. Em uma das turmas avaliadas, os participantes se dividiram espontaneamente em grupos, vendaram os próprios olhos e competiram para decifrar as tonalidades, evidenciando engajamento e absorção do método.
Resultados obtidos nos testes escolares
Os estudos de aplicação mostraram que o See Color promove ganhos de autonomia ao permitir que aprendizes associem, sem auxílio, o código tátil à cor correspondente. Ao contrário do Braille, que demanda tempo para atingir fluência, a representação baseada no relógio se vale de um conhecimento prévio — a noção de horas — que a maioria das pessoas adquire na infância. Esse reconhecimento pré-instalado agiliza o aprendizado e diminui a curva de dificuldade, tornando o método especialmente atraente para quem perdeu a visão na vida adulta.
A capacidade de identificar cores por meio do tato amplia a participação de pessoas com deficiência visual em uma série de atividades. No âmbito escolar, a ferramenta pode ser utilizada em aulas de arte, ciência e educação infantil, integrando estudantes cegos a discussões sobre pigmentação e mistura de cores. No mercado de trabalho, o sistema tem aplicação em manufatura, moda, design de interiores e outras áreas nas quais a distinção de tonalidades é crucial. Em ambientes domésticos, ele facilita ações cotidianas, como selecionar roupas ou entender etiquetas de produtos.
Desafios e próximos passos: criação de um instituto dedicado
Apesar do reconhecimento obtido, o projeto enfrenta o desafio de expandir-se em escala nacional. Para elevar o alcance e dialogar com políticas públicas, a pesquisadora planeja fundar um instituto voltado exclusivamente ao See Color. A entidade deve concentrar esforços em três frentes: formar parcerias com escolas e organizações, captar recursos financeiros e treinar voluntários para disseminar o método em diferentes regiões do país. Uma estrutura formalizada permitirá maior capilaridade, além de assegurar continuidade ao programa.
Conclusão factual
O See Color surge como alternativa inovadora ao Braille para a comunicação cromática. Ao converter posições do relógio em códigos táteis, o sistema simplifica o reconhecimento de quase 100 tonalidades, atendendo tanto crianças quanto adultos com deficiência visual. Com kits pedagógicos já disponíveis e planos para a criação de um instituto, o projeto avança na direção de integrar milhões de brasileiros a um universo de cores antes inacessível.
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