Rússia avalia envio do míssil hipersônico Oreshnik à Venezuela em meio a tensão com os EUA

Lead — Quem, o quê, quando, onde e por quê
Em 5 de novembro de 2025, autoridades de Moscou admitiram a possibilidade concreta de enviar o míssil hipersônico Oreshnik para a Venezuela. A iniciativa foi tornada pública pelo vice-presidente da comissão parlamentar de defesa da Rússia, Alexei Zhuravlyov, poucos dias após os Estados Unidos deslocarem o maior porta-aviões do mundo para o mar do Caribe, numa operação de combate ao narcotráfico. O armamento russo, capaz de atingir velocidade Mach 10 e transportar ogivas convencionais ou nucleares, já foi empregado num ataque à cidade de Dnipro, na Ucrânia, em 21 de novembro de 2024. O pleito venezuelano por maior apoio militar, capitaneado pelo presidente Nicolás Maduro, sustenta o pano de fundo para uma escalada que reacende debates sobre segurança regional.
- Contexto geopolítico da proposta
- Demanda venezuelana por reforço defensivo
- Características técnicas do míssil Oreshnik
- Histórico de uso operacional
- Processo de desenvolvimento e origem institucional
- Míssil Kalibr: a alternativa citada
- Posicionamento russo e cálculo estratégico
- Reação e movimentação dos Estados Unidos
- Implicações regionais e possíveis desdobramentos
- Tratado INF e a brecha para novos armamentos
- Pedidos paralelos a China e Irã
- Conclusão factual
Contexto geopolítico da proposta
A hipótese de transferência do Oreshnik surge em um cenário de atrito permanente entre Washington e Caracas. O governo norte-americano intensificou ações navais no Caribe no final de outubro de 2025, justificando a presença militar como parte de uma campanha contra o narcotráfico. A resposta retórica da Rússia, aliada histórica da Venezuela, incluiu o alerta de Zhuravlyov de que os Estados Unidos “podem ter algumas surpresas”. Para o parlamentar, inexiste obstáculo técnico ou político a que Moscou forneça armamentos de última geração a “um país amigo”.
Demanda venezuelana por reforço defensivo
Relatos apontam que Nicolás Maduro recorreu diretamente ao presidente russo, Vladimir Putin, em busca de suporte adicional. O pedido compreende três elementos: reforço das vias aéreas da Venezuela, devolução de caças Sukhoi Su-30MK2 que já se encontram sob controle venezuelano e aquisição de até 14 conjuntos de mísseis — entre eles o próprio Oreshnik. De acordo com Maduro, os Su-30 representam “a peça mais importante” para dissuadir qualquer ameaça bélica, argumento que sustenta a pressa na modernização do arsenal.
Características técnicas do míssil Oreshnik
O Oreshnik destaca-se como o míssil hipersônico de médio alcance mais veloz do inventário russo. Dados do Centro de Controle de Armas e Não Proliferação estimam que o projétil percorra entre 1 000 e 3 000 quilômetros, cobrindo distâncias estratégicas em velocidade de 2,5 a 3 quilômetros por segundo, equivalentes a Mach 10. Além da rapidez extrema, o projeto difere de outros modelos por acomodar múltiplas ogivas, ampliando o número de alvos que podem ser atingidos numa única salva.
Moscou atribui ao sistema a capacidade de portar tanto munição convencional quanto nuclear. A complexidade de interceptação reside na combinação de velocidade, manobrabilidade e trajetória pouco previsível, fatores que, segundo o presidente Putin, poderiam produzir efeitos “tão devastadores quanto uma bomba nuclear” se empregados em grande quantidade.
Histórico de uso operacional
A primeira aparição documentada do Oreshnik em combate ocorreu em 21 de novembro de 2024, durante o conflito russo-ucraniano. Naquele dia, a cidade de Dnipro foi alvo do míssil, episódio que especialistas apontam como o batismo de fogo de armas hipersônicas desse porte. O incidente confirmou a efetividade do sistema e reforçou a percepção de que sua introdução em outros teatros de operação pode alterar balanços de poder regionais.
Processo de desenvolvimento e origem institucional
Embora autoridades mantenham sigilo sobre detalhes de engenharia, informações disponíveis indicam participação do Instituto de Tecnologia Térmica de Moscou (MIT) no projeto. O cronograma de desenvolvimento é associado ao período posterior a 2020, aproveitando o vácuo regulatório criado pela expiração, em 2019, do Tratado INF (Forças Nucleares de Alcance Intermediário). Esse acordo buscava conter mísseis com alcance entre 500 e 5 500 quilômetros na Europa; seu término liberou a Rússia para avançar em novos vetores como o Oreshnik.
Míssil Kalibr: a alternativa citada
No mesmo pronunciamento, Zhuravlyov mencionou a família de mísseis Kalibr como outro recurso passível de exportação à Venezuela. Diferentemente do Oreshnik, o Kalibr é classificado como míssil de alta precisão lançado a partir de navios, submarinos e aeronaves de caça. Embora compartilhe o rótulo de armamento estratégico, sua velocidade inferior e seu perfil de voo subsônico o enquadram em outra categoria de ameaça. A referência aos dois sistemas destaca o leque de opções considerado por Moscou para robustecer a defesa venezuelana.
Posicionamento russo e cálculo estratégico
Ao sinalizar que “não vê obstáculos” para a entrega de tecnologia avançada, a Rússia reforça o compromisso político com Caracas e busca projetar poder além de seu entorno imediato. A retórica de Zhuravlyov cumpre também função de dissuasão: ao indicar que o Caribe poderia receber armamento hipersônico, Moscou transmite mensagem de paridade frente à presença naval norte-americana. Esse equilíbrio simbólico se agrava quando se recorda que o Oreshnik já demonstrou letalidade em combate real.
Reação e movimentação dos Estados Unidos
A operação naval chefiada pelos Estados Unidos antecede a declaração russa e funciona como gatilho para o atual embate de narrativas. A Casa Branca, por meio do Departamento de Guerra, manteve o maior porta-aviões do planeta navegando no Caribe ao final de outubro, amparada no objetivo oficial de conter o narcotráfico. Para a Venezuela, o deslocamento de uma força-tarefa desse porte configura ameaça potencial, justificando a procura por aliados como Rússia, China e Irã para expansão de suas capacidades bélicas.
Implicações regionais e possíveis desdobramentos
A simples possibilidade de implantação do Oreshnik em território venezuelano altera cálculos geoestratégicos no Hemisfério Ocidental. Com alcance máximo estimado em 3 000 quilômetros, o míssil cobriria grande parte do Caribe e porções do continente norte-americano, adicionando uma variável de risco ao jogo diplomático. Enquanto Washington aposta em poder naval para conter o governo de Caracas, Moscou apresenta poder aéreo ofensivo como contrapeso, acentuando a dinâmica de ação-e-reação típica da Guerra Fria, agora em cenário latino-americano.
Tratado INF e a brecha para novos armamentos
A caducidade do Tratado INF, firmada em 2019, é elemento central para compreender a atual etapa de modernização de mísseis russos. O acordo, que durou mais de três décadas, impunha limites severos aos arsenais de alcance intermediário, alvo principal das tensões na Europa durante os anos 1980. A partir de 2020, libertas das restrições, as equipes de engenharia russas puderam acelerar projetos como o Oreshnik, cujos testes culminaram no ataque à Ucrânia e, agora, na potencial transferência à Venezuela.
Pedidos paralelos a China e Irã
Além da interlocução com Moscou, Nicolás Maduro teria buscado colaborações junto a Pequim e Teerã para ampliar a rede de apoio militar. O movimento sinaliza estratégia multifacetada de obtenção de equipamentos que abranjam defesa aérea, aviação de combate e mísseis de médio alcance. A diversificação de fornecedores reforça a tentativa de minimizar vulnerabilidades e equilibrar o poder diante das sanções e pressões externas.
Conclusão factual
Até o momento, o envio do míssil hipersônico Oreshnik à Venezuela permanece possibilidade, não fato consumado. A proposta, articulada publicamente por Alexei Zhuravlyov, está inserida numa sequência de iniciativas que incluem pedidos formais de Caracas por aeronaves, sistemas de defesa e apoio de aliados. Com histórico comprovado de uso em 2024, velocidades que alcançam Mach 10 e capacidade de múltiplas ogivas, o Oreshnik se tornou peça chave nas discussões de segurança no Caribe, acrescentando um novo parâmetro de dissuasão à já complexa relação entre Estados Unidos, Rússia e Venezuela.
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