Açúcar sem calorias da NASA ficou caro e não decolou

Açúcar sem calorias da NASA parecia a solução perfeita para manter o sabor doce sem os efeitos metabólicos do açúcar comum. Desenvolvido no âmbito do programa de transferência de tecnologia da agência, o composto — o tagatose — prometia entregar textura e gosto quase idênticos ao da sacarose, mas com apenas 1,5 caloria por grama.
A iniciativa nasceu das exigências de missões espaciais de longa duração, que exigem alimentos estáveis, seguros e de baixo impacto glicêmico. Fora do espaço, a promessa atraiu a indústria alimentícia e consumidores atentos à relação entre excesso de açúcar, obesidade e diabetes.
Açúcar sem calorias da NASA ficou caro e não decolou
Quimicamente, o tagatose é um isômero da galactose. Apenas 20% da molécula é absorvida no intestino delgado; o restante segue para o cólon, onde é fermentado por bactérias, reduzindo sua carga calórica e o índice glicêmico. Estudos também indicam ação prebiótica e ausência de risco à saúde dental, vantagens sobre adoçantes artificiais como aspartame ou sucralose.
Mesmo reconhecido como seguro pelo FDA e por agências europeias, o produto esbarrou em barreiras econômicas. Produzí-lo em escala requer conversão enzimática a partir da lactose, processo significativamente mais caro do que o refino da cana ou beterraba. Com preço final elevado, a substância não competiu com o açúcar tradicional.
Regulações sanitárias também atrasaram a expansão. Cada mercado exigiu dossiês extensos de segurança, retardando lançamentos globais. Enquanto isso, sucralose, stevia e outros adoçantes já ocupavam espaço e custavam menos.
A percepção do público pesou ainda mais. Parte dos consumidores associa inovação biotecnológica a ingredientes “artificiais”, optando por opções tidas como naturais. Paralelamente, diretrizes como as da Organização Mundial da Saúde (OMS) começaram a aconselhar não apenas reduzir açúcar, mas também limitar adoçantes em geral, estreitando a janela de oportunidade do tagatose.
Hoje o composto sobrevive em nichos, sobretudo produtos especiais para diabéticos, mas longe de alcançar o mercado de massa sonhado pela NASA e parceiros industriais. A história ilustra os obstáculos entre inovação científica e adoção comercial em larga escala.
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Imagem: Africa Studio/Shutterstock
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