Zelensky recusa ceder Donbass horas antes da reunião Trump-Putin no Alasca
Volodymyr Zelensky deixou claro que a Ucrânia não aceitará entregar a região do Donbass em troca de um cessar-fogo, numa declaração feita dias antes da reunião agendada entre Donald Trump e Vladimir Putin, marcada para sexta-feira, no Alasca. O chefe de Estado ucraniano sublinhou que qualquer proposta que modifique as fronteiras do país por força militar será liminarmente rejeitada.
Recusa de concessões territoriais
Ao falar com jornalistas na terça-feira, Zelensky afirmou que “retirar-se do Donbass abriria uma cabeça-de-ponte” para futuras ofensivas russas, colocando em risco outras áreas do leste do país. De acordo com a Constituição ucraniana, alterações territoriais só podem ser aprovadas através de referendo nacional, ponto que o presidente fez questão de lembrar.
O Donbass — que abrange as províncias de Luhansk e Donetsk — encontra-se parcialmente ocupado pela Rússia desde 2014. Moscovo controla hoje praticamente todo o território de Luhansk e cerca de 70 % de Donetsk, além de quase 20 % do total da Ucrânia.
Movimentos militares no terreno
Enquanto prosseguem as movimentações diplomáticas, as forças russas levaram a cabo uma ofensiva repentina nas imediações de Dobropillia, no leste, avançando aproximadamente 10 km em curto espaço de tempo. Zelensky reconheceu progressos “em vários pontos” mas garantiu que as unidades envolvidas serão “brevemente neutralizadas”.
O presidente acrescentou que Moscovo procura criar a impressão de avanço constante para influenciar a perceção internacional antes da cimeira no Alasca. Segundo Kiev, novas operações ofensivas estão a ser preparadas em Zaporizhzhia, Pokrovsk e Novopavlov.
Cimeira Trump-Putin e reação internacional
Donald Trump declarou que qualquer acordo de paz “incluirá alguma troca de territórios”, indiciando que o Kremlin poderá exigir que Kiev abdique das zonas de Donetsk e Luhansk que ainda mantém. As declarações suscitaram inquietação tanto na capital ucraniana como entre parceiros europeus.
Na véspera, a Casa Branca descreveu o encontro de sexta-feira como um “exercício de escuta” para Trump, garantindo que o presidente norte-americano pretende obter “o melhor enquadramento possível” sobre como terminar o conflito. O próprio Trump classificou a reunião como um “feel-out meeting”, baixando as expectativas de um acordo imediato.
Zelensky, excluído da cimeira presencial, qualificou a escolha do Alasca como uma “vitória pessoal” para Putin, argumentando que o líder russo está “a sair do isolamento” ao reunir-se em solo dos Estados Unidos. O presidente ucraniano reforçou que qualquer decisão tomada sem a participação de Kiev será “uma decisão morta”.
Esforços diplomáticos paralelos
Na quarta-feira, Zelensky deverá participar por videoconferência numa sessão conjunta com Trump, líderes da União Europeia, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o secretário-geral da NATO, Mark Rutte. O objetivo passará por persuadir Washington a não ceder às exigências territoriais de Moscovo.
Os chefes de Estado e de governo europeus reiteraram que as fronteiras ucranianas não podem ser alteradas pela força, posição que sustentam desde o início da invasão em fevereiro de 2022. Contudo, persistem receios de que a busca de um cessar-fogo rápido possa legitimar a ocupação russa de quase um quinto do país.
Contexto do conflito
A guerra, que entrou no terceiro ano, causa elevados custos humanos e materiais. Desde o verão, Moscovo tem concentrado esforços em operações limitadas, procurando obter ganhos territoriais simbólicos que reforcem a sua posição negocial. Kiev, por sua vez, insiste em recuperar todos os territórios ocupados, incluindo a Crimeia.
Com o impasse militar a prolongar-se, a cimeira de sexta-feira no Alasca é vista como uma oportunidade para avaliar se existe margem para um roteiro diplomático. Porém, a resolução do estatuto do Donbass continua a ser o principal obstáculo, como confirma a declaração inequívoca de Zelensky: “Não iremos ceder nem um centímetro.”
Para já, o Kremlin não divulgou publicamente as exigências que apresentará a Trump. A poucos dias do encontro, a linha vermelha ucraniana parece cada vez mais nítida, e a controvérsia sobre possíveis “trocas de território” domina a agenda internacional.

Imagem: bbc.com