Vontade de comer doce: por que ela dispara quando estamos tristes, segundo estudos da USP

Sentir uma vontade de comer doce logo após um momento de tristeza é uma experiência relatada por muitas pessoas, e a ciência já descreve o fenômeno com clareza. Pesquisas conduzidas na Universidade de São Paulo mostram que estados emocionais negativos — como ansiedade, melancolia ou baixa autoestima — alteram o comportamento alimentar, levando ao consumo preferencial de chocolates, balas e outros itens ricos em açúcar. A explicação envolve mecanismos químicos de recompensa cerebral, ativados pela liberação de dopamina e serotonina, responsáveis por aquele alívio rápido, porém passageiro.
Vontade de comer doce: resumo dos estudos da USP
O principal levantamento citado foi realizado com voluntários que passaram por situações indutoras de emoções negativas. Ao término dessas atividades, os participantes puderam escolher entre diferentes alimentos. Os resultados revelaram preferência consistente por opções açucaradas, reforçando a ligação entre estado emocional e seleção de alimentos. De acordo com os pesquisadores da USP, compreender esse padrão contribui para identificar a chamada “fome emocional” e, assim, guiar escolhas mais equilibradas no cotidiano.
Os achados ganharam reforço em uma pesquisa publicada em 2024 que investigou a relação entre depressão, ingestão de açúcar e controle de desejos alimentares. O novo estudo mostrou que quanto maior o nível de tristeza ou desânimo relatado, maior era a dificuldade relatada pelos participantes em resistir a doces, sugerindo forte componente emocional no impulso por açúcar.
Juntos, esses trabalhos acadêmicos oferecem um quadro robusto: emoções negativas não apenas influenciam o apetite, mas parecem direcionar especificamente para alimentos capazes de provocar uma resposta química de bem-estar rápido.
Como a tristeza amplifica a vontade de comer doce
Quando o humor decai, o cérebro busca recompensas imediatas que compensem a sensação desagradável. Alimentos açucarados cumprem esse papel ao dispararem sinais de prazer quase instantâneos. É nesse momento que a vontade de comer doce surge como uma resposta automática, muitas vezes antes mesmo de a pessoa perceber o processo de forma consciente.
No estudo da USP, a exposição a experiências estressantes ou vídeos tristes foi suficiente para alterar a próxima escolha alimentar de grande parte dos voluntários. Tal mudança não ocorre por simples preferência de paladar, mas pela necessidade química de restabelecer o equilíbrio emocional. Dessa forma, o açúcar funciona como uma espécie de “atalho” fisiológico para minorar emoções desagradáveis.
Além disso, o levantamento de 2024 enfatizou que a depressão, caracterizada por estado de humor persistentemente baixo, prolonga essa busca por alívio rápido, aumentando a frequência de episódios de ingestão de açúcar. O ciclo se realimenta: o bem-estar dura pouco, a tristeza retorna e o impulso por doces reaparece com intensidade semelhante ou maior.
Neurotransmissores envolvidos na vontade de comer doce
A explicação bioquímica para o fenômeno é direta: ingestão de açúcar estimula a liberação de dopamina e serotonina, neurotransmissores ligados à sensação de prazer e bem-estar. Esse “abraço químico” — como descrevem os pesquisadores — é capaz de suavizar temporariamente emoções negativas, motivo pelo qual muitos enxergam o doce como alimento de conforto.
A dopamina atua no sistema de recompensa, conferindo sensação de conquista; a serotonina, por sua vez, está associada à regulação do humor. A combinação torna o açúcar altamente eficaz para produzir alívio momentâneo. No entanto, como as pesquisas apontam, a duração do efeito é curta. Passado o pico de prazer, o cérebro retorna ao estado emocional anterior, podendo até experimentar queda de energia, o que favorece um novo episódio de fome emocional.
É nesse contexto que a vontade de comer doce exibe traços quase compulsivos: o organismo se lembra da sensação agradável e, diante de um novo gatilho emocional, repete o pedido por mais açúcar.
Estratégias práticas para controlar a vontade de comer doce
Reconhecer o ciclo químico é o primeiro passo para reduzi-lo. O estudo da USP sugere estratégias simples que preservam a sensação de recompensa sem recorrer ao excesso de açúcar:
Frutas e snacks naturais: o açúcar naturalmente presente em frutas, aliado às fibras, prolonga a saciedade e mantém os níveis de energia mais estáveis. Iogurte adoçado naturalmente também substitui o chocolate sem abrir mão do sabor adocicado.
Hidratação constante: sede e fome dividem sinais fisiológicos semelhantes. Beber água em intervalos regulares evita confundir carência hídrica com fome emocional.
Atividade física leve: exercícios rápidos — como caminhada de dez a quinze minutos — liberam endorfinas, colaborando para melhorar o humor e, por extensão, reduzir o desejo impulsivo por açúcar.
Mindfulness e respiração: técnicas de atenção plena auxiliam a diferenciar fome real de impulso emocional. Ao perceber o gatilho, respirações profundas criam uma pausa entre o estímulo e a reação.
Planejamento de refeições: escolher e preparar lanches saudáveis com antecedência diminui a chance de recorrer a opções açucaradas em momentos de pressa ou ansiedade.
Adotar essas práticas não elimina totalmente o desejo por açúcar, mas oferece alternativas que mantêm o sabor adocicado enquanto moderam a carga glicêmica.
Benefícios de reconhecer a vontade de comer doce como fome emocional
Os pesquisadores destacam que pessoas capazes de identificar a origem emocional de seus impulsos alimentares relatam ganhos importantes de saúde mental, produtividade e foco. Ao substituir o “atalho” açucarado por estratégias equilibradas, o indivíduo evita flutuações bruscas de energia, preservando o bom desempenho ao longo do dia.
A consciência sobre a vontade de comer doce também contribui para reduzir sentimentos de culpa. Em vez de perceber o consumo de açúcar como falha de disciplina, o indivíduo passa a enxergá-lo como resposta fisiológica previsível. Essa mudança de perspectiva melhora a relação com a comida e facilita ajustes graduais na dieta.
Além disso, o controle da fome emocional cria um círculo virtuoso: menor ingestão de açúcar diminui a frequência de variações de humor, o que, por sua vez, reduz novos episódios de consumo motivado pela tristeza.
Os resultados das pesquisas da USP e do estudo de 2024 indicam que a compreensão desses mecanismos serve como ferramenta prática para o cotidiano. Ao reconhecer os sinais do corpo, planejar refeições e adotar exercícios leves, qualquer pessoa pode reduzir o impacto da tristeza na alimentação e manter escolhas mais alinhadas a seus objetivos de saúde.
Os próximos trabalhos acadêmicos da equipe da USP devem expandir a investigação sobre como diferentes faixas etárias respondem a emoções negativas em termos de escolha alimentar, oferecendo detalhes adicionais sobre estratégias personalizadas de enfrentamento.

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