Tylenol e autismo: Trump deve anunciar ligação polêmica. O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve afirmar nesta segunda-feira, em evento no Salão Oval, que o uso do analgésico Tylenol por gestantes estaria relacionado ao aumento de casos de autismo, conforme reportado pela imprensa norte-americana.
No domingo, durante o memorial de Charlie Kirk, Trump antecipou que faria um “anúncio incrível” sobre a síndrome, classificando o autismo como “fora de controle” e sugerindo que agora teria “uma razão” para explicar o fenômeno. Fontes ligadas à Casa Branca indicam que ele recomendará cautela no uso do medicamento, conhecido no Brasil como paracetamol.
Tylenol e autismo: Trump deve anunciar ligação polêmica
Embora alguns estudos observacionais apontem possível associação entre a exposição pré-natal ao Tylenol e transtornos do espectro autista, a literatura científica não demonstra relação causal. Uma revisão liderada pela Escola de Saúde Pública de Harvard, em agosto passado, indicou “maior probabilidade” de problemas neurodesenvolvimentais, mas admitiu lacunas metodológicas e reforçou a importância do fármaco no controle de febre materna, condição que também pode afetar o feto.
Entidades médicas contestam a posição do ex-presidente. O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas reitera que “não há evidência clara” de danos fetais decorrentes do acetaminofeno em qualquer trimestre. A avaliação é respaldada por outras organizações de saúde e por governos ao redor do mundo. Em nota enviada à BBC, a fabricante Kenvue afirmou: “As evidências independentes demonstram que o acetaminofeno não causa autismo. Qualquer insinuação contrária preocupa-nos pelos riscos às gestantes”.
Uma investigação publicada em 2024 reforçou essa visão ao não encontrar correlação estatisticamente significativa entre o medicamento e o transtorno. Para a professora Monique Botha, da Universidade de Durham, “não existem estudos robustos que sustentem uma relação causal” e a oferta de analgésicos seguros para grávidas “é lamentavelmente limitada”.
O debate ocorre em meio a iniciativas do secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., que prometeu um “esforço massivo” para descobrir a causa do autismo em cinco meses. Especialistas observam, porém, que o transtorno resulta de combinação complexa de fatores genéticos e ambientais, tornando improvável uma explicação única. Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostram que diagnósticos em crianças de oito anos passaram de 0,67% em 2000 para 2,77% em 2020, avanço atribuído, em parte, à maior conscientização e a definições ampliadas.
Analistas de mercado já registraram queda nas ações da Kenvue após surgirem rumores sobre a declaração de Trump. Para Andrea Harris, pesquisadora em políticas de saúde da Universidade Johns Hopkins, “a mensagem presidencial, se confirmada, pode gerar insegurança desnecessária em um momento em que as evidências apontam para a segurança do Tylenol quando usado adequadamente”. Relatório recente da BBC destaca que a medicação continua sendo o analgésico mais recomendado durante a gestação.
Enquanto a comunidade científica pede cautela, resta saber se o anúncio influenciará futuras orientações do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA.
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