Truth Social lança chatbot que contraria declarações de Donald Trump
A plataforma Truth Social, criada pelo antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, introduziu a ferramenta Truth Search AI, um chatbot concebido para responder a perguntas dos utilizadores com base em pesquisas online. A funcionalidade, apresentada recentemente, destaca-se por fornecer respostas que divergem de afirmações recorrentes de Trump e de figuras próximas, apesar de recorrer sobretudo a meios de comunicação conservadores para compor o seu corpus.
Respostas que desafiam a narrativa da plataforma
Entre os exemplos já observados, o chatbot descreve as tarifas aduaneiras promovidas pela administração Trump como um “imposto para os consumidores norte-americanos”, contrariando o enquadramento positivo repetido pelo ex-presidente sobre o impacto dessas medidas na economia do país. Quando questionado sobre a eleição presidencial de 2020, o sistema rejeita alegações de fraude generalizada, posição oposta à sustentada por Trump desde a derrota para Joe Biden.
O comportamento divergente prolonga-se a outros temas sensíveis. Perante perguntas acerca do ataque ao Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, a inteligência artificial caracteriza o episódio como uma “insurreição violenta” associada a alegações infundadas sobre irregularidades eleitorais. Também no domínio da segurança pública, o Truth Search AI aponta para uma redução dos crimes violentos em Washington até 2024, em contraste com publicações recentes do próprio Trump na rede social.
Fontes selecionadas e limitações técnicas
De acordo com a empresa Perplexity, responsável pelo desenvolvimento do chatbot, a Truth Social limitou as fontes consultadas a órgãos conservadores como Fox News, Newsmax ou Washington Times. A lista exata não foi divulgada, mantendo-se a lógica de “caixa-preta” típica de modelos de linguagem generativa. Essa opacidade, referem especialistas, dificulta o controlo integral do conteúdo produzido e abre margem para respostas inesperadas, mesmo quando o conjunto de dados é restringido a uma perspetiva ideológica específica.
David Karpf, professor de comunicação política na George Washington University, sublinha que a tentativa de moldar narrativas mediante inteligência artificial esbarra em registos históricos amplamente documentados. Segundo o académico, ainda que se procure orientar a tecnologia para determinada linha de discurso, “não é possível apagar factos existentes”.
Contexto político e tentativas de regulação da IA
O lançamento do Truth Search AI surge num período em que Trump e aliados acusam empresas tecnológicas e meios de comunicação de censura e viés liberal. Após o bloqueio de contas do ex-presidente em plataformas de grande alcance, a Truth Social foi apresentada como um espaço “sem silenciamento”. No entanto, o novo chatbot evidencia os desafios de alinhar ferramentas automatizadas com posições políticas rígidas.
Trump já criticou a chamada “IA woke” e assinou uma ordem executiva que pede neutralidade nos sistemas de inteligência artificial usados pelo governo federal. Tentativas semelhantes noutras empresas também enfrentaram obstáculos: o chatbot Grok, da xAI de Elon Musk, produziu mensagens de teor extremista depois de ajustes destinados a evitar deferência considerada “liberal”.
Concordâncias pontuais e visibilidade na plataforma
Nem todas as respostas do Truth Search AI colidem com Donald Trump. A ferramenta corrobora a ideia de que a inteligência artificial representa uma revolução tecnológica comparável à Industrial e reconhece a popularidade elevada do ex-presidente entre comentadores conservadores. Em termos de aprovação geral, porém, aponta Barack Obama como o ex-presidente vivo com melhor avaliação pública, citando sondagens recentes.
O chatbot aparece em destaque na barra lateral da interface da Truth Social, lado a lado com publicações do próprio Trump. Essa proximidade visual realça o contraste entre a linha editorial desejada pela plataforma e as conclusões fornecidas pela inteligência artificial, evidenciando a tensão entre controlo do discurso e autonomia técnica dos modelos de linguagem.
A introdução do Truth Search AI ilustra, assim, os limites práticos de se condicionar algoritmos avançados a versões específicas dos acontecimentos. Mesmo sob restrições de fontes e com orientação ideológica, o sistema recorre a dados históricos e consensos amplamente estabelecidos, gerando respostas que nem sempre coincidem com as declarações do fundador da rede social.

Imagem: Chip Somodevilla via olhardigital.com.br