Trump impõe novas tarifas a 90 países e ameaça chips estrangeiros com taxa de 100%
O Governo dos Estados Unidos colocou em vigor um vasto pacote de tarifas comerciais que abrange mais de 90 países, numa iniciativa apresentada pelo Presidente Donald Trump como resposta às “práticas injustas” de comércio internacional. A medida, anunciada à meia-noite de Washington, envolve percentagens diferenciadas e condiciona futuras negociações bilaterais.
Tarifas atingem parceiros de vários continentes
Entre os casos mais significativos está a Índia, visada com uma tarifa de 50 % que entrará em vigor a 27 de agosto caso Nova Deli não interrompa a compra de petróleo russo. A Europa também foi abrangida: a União Europeia aceitou um quadro provisório que fixa uma taxa de 15 % sobre as suas exportações para o mercado norte-americano.
No sudeste asiático, Laos e Myanmar enfrentam taxas de 40 %, valor que, segundo analistas, reflete as suas ligações comerciais à China. Taiwan recebeu um encargo de 20 %; o presidente Lai Ching-te classificou-o como “temporário” e indicou que as conversações continuam.
Alguns parceiros conseguiram condições mais favoráveis. Reino Unido, Japão e Coreia do Sul fecharam acordos que reduzem as taxas inicialmente anunciadas em abril. México ganhou um adiamento de 90 dias, enquanto o Canadá viu a tarifa subir de 25 % para 35 % mas mantém a maioria das exportações isentas ao abrigo do USMCA.
Pressão adicional sobre o sector tecnológico
Paralelamente, a Casa Branca ameaçou aplicar uma tarifa de 100 % a semicondutores produzidos fora dos EUA, medida destinada a incentivar investimento doméstico. Entre as empresas potencialmente afetadas estão fabricantes asiáticos, mas fontes governamentais indicaram que TSMC, SK Hynix e Samsung ficam, para já, excluídas do novo encargo.
A estratégia coincide com o anúncio da Apple de um investimento de 100 mil milhões de dólares em operações nos Estados Unidos, decisão tomada após pressões para relocalizar parte da produção.
Objectivos declarados e reação internacional
Washington enquadra o pacote tarifário numa tentativa de “redefinir” o sistema de comércio global, que Trump considera desfavorável ao país. A curto prazo, o Executivo espera que a uniformização das taxas reduza a incerteza sentida pelos operadores económicos nos últimos meses.
Em Singapura, o economista Bert Hofman afirmou que a adoção de um quadro amplo permite “começar a analisar o impacto real das tarifas”, depois de um período de revisões sucessivas. Ainda assim, vários governos classificaram as medidas como injustificadas. A Índia prometeu proteger os seus interesses, classificando a decisão norte-americana de “injusta e irrazoável”.
No Brasil, as exportações enfrentam agora um encargo de 50 % depois de Trump acusar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de atacar empresas tecnológicas dos EUA. A administração norte-americana também citou alegadas falhas brasileiras no combate à desinformação sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Próximos passos nas negociações
O Departamento do Comércio estabeleceu 7 de agosto como data-limite para que os países cheguem a acordos que possam reduzir ou eliminar as novas tarifas. Em paralelo, Washington e Pequim mantêm diálogo sobre a eventual extensão de uma trégua de 90 dias, que expira a 12 de agosto, relativamente a imposições tarifárias bilaterais.
A implementação imediata das taxas abre um período de intensas negociações. Vários países procuram enquadrar exceções ou, pelo menos, suavizar os encargos. Entretanto, empresas com forte dependência do mercado dos EUA analisam o impacto nos seus modelos de negócio, enquanto os consumidores norte-americanos aguardam para perceber em que medida os preços finais poderão ser afetados.

Imagem: bbc.com