Trump exige demissão do líder da Intel por supostos laços com a China

Donald Trump pediu a saída imediata do diretor executivo da Intel, Lip-Bu Tan, acusando-o de manter investimentos que, segundo Washington, envolvem empresas próximas ao exército chinês.

Pressão pública sobre a liderança da Intel

O antigo presidente dos Estados Unidos recorreu às redes sociais para considerar Tan «altamente conflituoso» e defender que «não existe outra solução» além da renúncia. A intervenção é invulgar mesmo para Trump, que no passado criticou outras empresas, mas raramente exigiu a demissão de um gestor de topo.

Tan, cidadão norte-americano nascido na Malásia e criado em Singapura, lidera a Intel desde março, com a missão de recuperar a competitividade da histórica fabricante de semicondutores. A companhia tem recebido milhares de milhões de dólares em incentivos federais para reforçar a produção de chips em território norte-americano, parte da estratégia de Washington para reduzir a dependência externa em tecnologia avançada.

A investida de Trump surge num momento em que a Casa Branca prepara novas tarifas sobre o sector e coincide com preocupações expressas esta semana pelo senador republicano Tom Cotton. Num ofício dirigido ao conselho de administração da Intel, Cotton questionou se os antecedentes de Tan permitem gerir «de forma responsável» fundos públicos e cumprir regras de segurança nacional.

Resposta de Lip-Bu Tan e declaração oficial da Intel

Em nota enviada aos trabalhadores, o executivo classificou as críticas como «desinformação» e garantiu ter atuado «sempre dentro dos mais elevados padrões legais e éticos» ao longo de mais de quatro décadas de carreira nos Estados Unidos.

A empresa emitiu um comunicado a sublinhar o compromisso com «os interesses nacionais e económicos» do país e a «agenda America First». «Continuaremos a dialogar com a administração», lê-se na mesma nota.

O histórico de Tan inclui quase duas décadas à frente da Cadence Design Systems. Em julho, uma subsidiária chinesa da Cadence declarou-se culpada de violar controlos de exportação ao fazer negócios com a Universidade Nacional de Tecnologia de Defesa da China, pagando 140 milhões de dólares em multas. Tan não foi acusado nesse processo.

Investimentos na China e investigações em curso

Relatórios do Congresso de 2024 e uma investigação da Reuters indicaram que o gestor aplicou capital, pessoalmente ou através dos seus fundos, em centenas de empresas chinesas entre 2012 e dezembro de 2024, algumas associadas às forças armadas do país. Investir em companhias chinesas não é ilegal para cidadãos norte-americanos, mas Washington tem apertado restrições a partir do primeiro mandato de Trump, procurando limitar o fluxo de capital para tecnologia considerada sensível.

Efeitos no mercado e interpretações dos analistas

Após as declarações de Trump, as ações da Intel recuaram mais de 3 % na quinta-feira. Patrick Moorhead, fundador da consultora Moor Insights & Strategy, entende que o ex-presidente poderá estar a usar a polémica para pressionar a empresa noutros dossiês, como os planos de investimento fabril nos Estados Unidos ou uma eventual parceria com a taiwanesa TSMC, apontada como favorita da Casa Branca.

Num encontro recente com investidores, Tan anunciara a intenção de reduzir o ritmo das despesas em novas fábricas, incluindo em solo norte-americano, para alinhar a produção com a procura. A Intel já suprimiu milhares de postos de trabalho este ano como parte de um programa de ajustamento de custos.

Bernie Moreno, senador republicano próximo de Trump, juntou-se às críticas e lamentou atrasos nos projectos de fabrico da empresa. Para Janet Egan, investigadora do Center for a New American Security, a instabilidade na liderança agrava os desafios de expandir a capacidade de produção doméstica: «É essencial garantir continuidade de gestão para acelerar esse aumento.»

Posição da Casa Branca e cenário futuro

Questionada sobre a controvérsia, a administração norte-americana declarou que o presidente «permanece totalmente empenhado em proteger a segurança nacional e económica», sublinhando a necessidade de «empresas emblemáticas em sectores de ponta» serem lideradas por pessoas «em quem os americanos possam confiar».

Até ao momento, o conselho de administração da Intel não sinalizou qualquer alteração de plano nem agendou reunião extraordinária. O episódio intensifica o escrutínio político sobre o sector dos semicondutores, num contexto de rivalidade tecnológica entre Washington e Pequim e de expectativas elevadas quanto ao fortalecimento da produção nos Estados Unidos.

A curto prazo, persiste a incógnita sobre a permanência de Lip-Bu Tan. Enquanto isso, a Intel continua pressionada a demonstrar que os incentivos públicos estão a ser aplicados de forma alinhada com os objectivos de segurança e competitividade definidos pelo governo norte-americano.

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Imagem: bbc.com

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