Trump eleva tarifas até 50% e intensifica pressão sobre parceiros comerciais

Washington, 00h01 de quinta-feira. A administração norte-americana passou a cobrar tarifas aduaneiras mais elevadas a importações de mais de 60 países e da União Europeia, inaugurando uma das maiores ofensivas comerciais das últimas décadas.

Novas taxas alfandegárias em vigor

Logo após a meia-noite, todos os produtos abrangidos passaram a enfrentar direitos de pelo menos 10 %. As mercadorias provenientes da União Europeia, Japão e Coreia do Sul pagam agora 15 %. Taiwan, Vietname e Bangladesh foram alvo de uma sobretaxa de 20 %. A Índia viu a carga fiscal duplicar para 50 % em retaliação pelas compras de petróleo russo.

O Presidente Donald Trump recorreu a uma lei de 1977 que lhe permite declarar emergência económica para justificar a medida. De acordo com a Casa Branca, a estratégia pretende reduzir o défice comercial e incentivar novas fábricas nos Estados Unidos. “O crescimento vai ser sem precedentes”, afirmou Trump horas antes da entrada em vigor das tarifas, sem quantificar as receitas esperadas.

Sinais de arrefecimento na economia norte-americana

Estudos divulgados desde abril, quando surgiram as primeiras ameaças tarifárias, apontam para um abrandamento no mercado laboral, aumento de pressões inflacionistas e queda dos preços das casas em regiões industriais. O economista John Silvia, da Dynamic Economic Strategy, indica que a menor produtividade resultante das taxas reduz os salários reais e trava a contratação.

A antecipação das sobretaxas levou importadores a reforçar compras antes da data-limite, fazendo com que o défice comercial norte-americano nos primeiros seis meses do ano alcançasse 582,7 mil milhões de dólares, mais 38 % do que em 2024. No mesmo período, o investimento em construção recuou 2,9 %.

Repercussões globais e reacções dos parceiros

A Alemanha, que envia cerca de 10 % das exportações para o mercado norte-americano, registou em junho uma descida de 1,9 % na produção industrial, já influenciada por aumentos tarifários anteriores. Em Berna, o Conselho Federal foi convocado para uma reunião extraordinária depois de uma missão de alto nível a Washington não ter conseguido impedir tarifas de 39 % sobre bens suíços, incluindo produtos farmacêuticos.

Na Ásia, a Federação das Organizações de Exportadores da Índia estima que 55 % das vendas destinadas aos EUA ficarão sujeitas a taxas adicionais, comprometendo margens consideradas “já muito estreitas”.

Mercados financeiros mantêm-se resilientes

Apesar do endurecimento comercial, o índice S&P 500 recuperou mais de 25 % desde o mínimo de abril, apoiado em cortes de IRS assinados por Trump no feriado de 4 de Julho. Analistas como Carsten Brzeski, do ING, alertam, contudo, que os efeitos negativos das tarifas “desenrolar-se-ão gradualmente” mesmo que os investidores aparentem indiferença.

Contestação jurídica e incerteza futura

O recurso à lei de 1977 enfrenta um processo em tribunal federal. Caso os juízes concluam que o Presidente excedeu poderes, a Casa Branca poderá ter de encontrar novo fundamento legal para manter as taxas. Paul Ryan, antigo líder republicano no Congresso e hoje crítico de Trump, considera que o país se prepara para “águas agitadas” devido a eventuais impugnações.

A administração mantém, contudo, a expectativa de que a maior clareza sobre as regras comerciais incentive empresas a investir em fábricas domésticas e a criar empregos. Economistas como Brad Jensen, da Universidade de Georgetown, advertem que o impacto se assemelhará mais a “areia fina nas engrenagens” do que a um choque súbito: a actividade abrandará, mas sem colapso imediato.

Para já, consumidores e empresas norte-americanas começam a suportar preços mais altos, enquanto parceiros estrategizam respostas num cenário de tensão prolongada.

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