Transição energética na COP30: como o Brasil ganha protagonismo no caminho global rumo ao net-zero

Belém, entre 10 e 21 de novembro de 2025, sedia a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, e o centro das negociações é a transição energética. Durante esse período, chefes de Estado, pesquisadores e representantes da sociedade civil de todos os continentes discutem uma questão central: substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis em ritmo compatível com a meta de emissões líquidas zero até 2050, limite apontado pelos cientistas para restringir o aquecimento global a 1,5 °C.
- O que se entende por transição energética
- Por que a mudança é considerada urgente
- Quem conduz e quem participa do processo
- Como a transição energética se manifesta na prática
- Metas globais debatidas na COP30
- A influência dos recursos naturais e da tecnologia
- Vantagens econômicas e sociais em curto e longo prazos
- Brasil: posição privilegiada e novos desafios
- Ritmo desigual e custos do atraso
- O papel estratégico da COP30
- Transição energética como vetor de transformação global
O que se entende por transição energética
O termo designa a alteração estrutural no sistema de produção, distribuição e consumo de energia em escala mundial. O objetivo é reduzir progressivamente o uso de carvão, petróleo e gás natural — vetores que respondem por aproximadamente 75 % das emissões de gases de efeito estufa — e ampliar a participação de alternativas de baixo carbono, como solar, eólica, hidrelétrica, biomassa e hidrogênio verde.
Por que a mudança é considerada urgente
Os combustíveis fósseis, ao longo de mais de um século, sustentaram o crescimento industrial, mas também elevaram a concentração de dióxido de carbono na atmosfera. A consequência direta é o aumento da temperatura média do planeta, fenômeno que intensifica secas, inundações e ondas de calor. Ao migrar para matrizes limpas, os países atacam a principal causa da crise climática e, simultaneamente, colhem ganhos adicionais: menores custos de saúde pública, melhoria da qualidade do ar urbano e fortalecimento de economias menos dependentes de importações de energia.
Quem conduz e quem participa do processo
Governos, empresas, organismos multilaterais e sociedade civil exercem papéis complementares. Autoridades criam políticas de incentivo, definem marcos regulatórios e estabelecem metas. Companhias investem em pesquisa e desenvolvimento, enquanto entidades internacionais coordenam compromissos comuns, caso das Conferências da ONU. Cidadãos, por sua vez, pressionam por objetivos mais ambiciosos e por critérios de justiça social, assegurando que trabalhadores e comunidades vulneráveis não fiquem à margem da transformação.
Como a transição energética se manifesta na prática
Sinais concretos da mudança já aparecem em diversos setores. Em telhados residenciais e em grandes fazendas solares, painéis fotovoltaicos alimentam redes elétricas. Parques eólicos em terra e em alto-mar aproveitam ventos constantes para gerar eletricidade. O transporte inicia uma virada com veículos a bateria recarregados em estações ligadas a fontes renováveis. No campo dos biocombustíveis, o etanol de cana-de-açúcar, amplamente usado no Brasil, complementa a estratégia de reduzir emissões no curto prazo.
Metas globais debatidas na COP30
Não existe prazo único para a conclusão da transição, pois a realidade econômica, tecnológica e social varia entre países. Entretanto, na conferência de Belém, os negociadores reforçam um objetivo comum: alcançar o status de net-zero até 2050. A lógica é simples: limitar o aquecimento a 1,5 °C exige cortes rápidos e permanentes nos gases de efeito estufa. Nações desenvolvidas, historicamente responsáveis pela maior parcela das emissões, são cobradas a acelerar o cronograma. Economias em desenvolvimento reivindicam apoio financeiro e tecnológico, permitindo avançar sem sacrificar o progresso social.
A influência dos recursos naturais e da tecnologia
Ter abundância de sol, vento ou grandes cursos d’água favorece custos mais baixos para a geração renovável, mas não é condição indispensável. O fator decisivo é a possibilidade de mobilizar investimentos e estabelecer cadeias de suprimentos de materiais críticos, entre eles o silício usado em painéis solares e as terras raras que compõem turbinas eólicas. Além disso, formar profissionais capazes de projetar, instalar e operar sistemas modernos se torna requisito para qualquer país que pretenda competir na economia verde.
Vantagens econômicas e sociais em curto e longo prazos
No horizonte imediato, a instalação de usinas solares, parques eólicos e infraestrutura de recarga para veículos elétricos gera postos de trabalho em engenharia, construção e manutenção. A médio prazo, o estímulo à inovação tecnológica impulsiona setores inteiros, criando novos mercados e atraindo investimentos. Em escala de décadas, sociedades que completarem a transição colherão ar mais limpo, menor incidência de doenças respiratórias e redes energéticas mais resilientes a choques externos.
Brasil: posição privilegiada e novos desafios
Durante as negociações em Belém, o Brasil recebe atenção especial por apresentar mais de 80 % de sua matriz elétrica proveniente de fontes renováveis, principalmente hidrelétricas, complementadas por sistemas eólicos e solares que crescem ano após ano. Esse dado serve de evidência concreta de que desenvolvimento econômico pode caminhar ao lado de eletricidade limpa. Entretanto, dois obstáculos permanecem no radar nacional: a descarbonização do setor de transportes, ainda fortemente dependente de combustíveis fósseis, e o combate ao desmatamento, principal origem das emissões brasileiras fora do segmento energético.
Ritmo desigual e custos do atraso
A velocidade da transição não se distribui de forma homogênea pelo planeta. Países com maior capacidade de investimento avançam mais rapidamente, enquanto outros enfrentam limitações orçamentárias e tecnológicas. Cada ano de postergação, contudo, eleva o risco de impactos climáticos severos e amplia as despesas futuras com adaptação. Por essa razão, a COP30 procura alinhar cronogramas e estabelecer mecanismos de financiamento que reduzam a disparidade entre nações.
O papel estratégico da COP30
Conferências climáticas funcionam como arenas de negociação onde são fixados compromissos multilaterais. Em 2025, a reunião de Belém tornou-se simbólica por ocorrer na Amazônia, bioma fundamental para a regulação climática global. Ao concentrar debates sobre transição energética na região, o evento reforça a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento que concilie proteção ambiental, inclusão social e avanço tecnológico.
Transição energética como vetor de transformação global
A discussão sobre fontes renováveis transcende a esfera tecnológica. Trata-se de uma mudança com implicações sociais e econômicas profundas, que redefine cadeias produtivas, padrões de consumo e estratégias de investimento. A meta de emissões líquidas zero até 2050, reapresentada na COP30, sintetiza o consenso científico e político de que não há alternativa viável à descarbonização. O Brasil, ao hospedar o encontro, assume responsabilidade adicional: demonstrar que sua combinação de biodiversidade, matriz elétrica limpa e capacidade de inovação pode servir de referência para outros países em busca de um futuro mais sustentável.

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