Torres de vento persas mostram como refrescar casas há 2.000 anos sem eletricidade

Torres de vento persas mostram como refrescar casas há 2.000 anos sem eletricidade

No centro do Irão, especialmente na cidade histórica de Yazd, ergue-se uma tecnologia concebida há mais de dois milénios para desafiar o calor extremo do deserto. As torres de vento, ou badgirs, funcionam como um sistema de arrefecimento totalmente passivo, capaz de reduzir sensivelmente a temperatura interior das habitações sem recurso a energia elétrica.

Índice

Sistema passivo de arrefecimento

Estas estruturas apresentam entre 5 e 30 metros de altura e são construídas, na sua maioria, com tijolos de barro e argila — materiais que acumulam e dissipam calor de forma lenta. A torre possui aberturas orientadas para vários pontos cardeais, captando o vento dominante em qualquer direção. Quando o ar entra pela parte superior, é conduzido por um eixo vertical até compartimentos subterrâneos frescos, onde perde calor antes de chegar às divisões principais da casa.

Nos dias em que o vento é inexistente, o próprio aquecimento do ar interior provoca convecção: o ar quente sobe pela chaminé, sai pela abertura superior e gera uma corrente ascendente que puxa ar mais fresco do subsolo. Dessa forma, a ventilação mantém-se contínua, garantindo renovação de ar e queda de temperatura até cerca de 10 °C em relação ao exterior, segundo medições locais.

Muitos edifícios recorrem ainda a cisternas ou canais subterrâneos húmidos ligados à torre. A evaporação da água nesses espaços reforça o arrefecimento, aproveitando o mesmo princípio dos sistemas modernos de arrefecimento evaporativo.

Arquitetura que resiste ao tempo

Os primeiros registos de badgirs remontam a cerca de 2.500 anos, atribuídos a engenheiros persas que já dominavam técnicas hidráulicas para enfrentar verões que ultrapassam 40 °C. Embora vários exemplares atuais datem do período islâmico medieval — entre 800 e 1.000 anos de existência — muitos continuam operacionais, servindo habitações, mesquitas e escolas.

Yazd, considerada Património Mundial pela UNESCO, preserva dezenas destas torres como parte integrante do traçado urbano. Além do Irão, variantes do mesmo conceito surgem no Médio Oriente e Norte de África, adaptadas a condições climáticas semelhantes. Algumas construções utilizam múltiplas torres interligadas, aumentando a eficiência e garantindo ventilação constante mesmo quando o vento muda de direção.

O sucesso do sistema deve-se a soluções simples de física: diferença de pressão, convecção natural e capacidade térmica dos materiais. Por dispensarem motores, filtros ou componentes móveis, as torres requerem pouca manutenção e operam sem custos energéticos, um fator determinante em comunidades remotas.

Referência para a construção sustentável

Com a procura atual por edifícios energeticamente eficientes, arquitetos e engenheiros voltam a olhar para os badgirs como fonte de inspiração. Projetos residenciais e comerciais nos Emirados Árabes Unidos, no próprio Irão e até em algumas regiões mediterrânicas incorporam chaminés de vento modernizadas, combinadas com materiais contemporâneos e sistemas de monitorização ambiental.

Estas aplicações comprovam que princípios antigos podem contribuir para reduzir o consumo de ar-condicionado convencional, responsável por parte significativa da fatura energética em climas quentes. Nos edifícios experimentais, medições indicam poupanças de eletricidade que variam entre 30 % e 50 % durante os meses de verão, conforme a envolvente térmica e a altura das torres.

Ao demonstrar a viabilidade de soluções passivas, as torres de vento de Yazd reforçam a importância de integrar estratégias de ventilação natural já na fase de conceção dos projetos. A adoção de paredes espessas, pátios internos sombreados e materiais de elevada inércia térmica complementa o efeito das chaminés, criando microclimas habitáveis mesmo em zonas áridas.

Mais do que relíquias arquitetónicas, os badgirs permanecem um exemplo funcional de como o conhecimento tradicional pode responder a desafios atuais de sustentabilidade e de conforto térmico. A longevidade das torres e a eficácia comprovada do método sublinham o potencial de técnicas ancestrais na construção do futuro.

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Imagem: Poliorketes via olhardigital.com.br

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