Tornado de categoria F3 devasta o Centro-Sul do Paraná e figura entre os mais severos já observados no Brasil

Palavras-chave centrais: tornado no Paraná, categoria F3, ventos de 250 quilômetros por hora
- Fenômeno extremo atinge a região Centro-Sul paranaense
- Classificação e intensidade segundo o Simepar
- Posicionamento de especialista indica raridade e gravidade
- Geografia e clima favorecem a formação de tornados no Cone Sul
- Impactos humanos e estruturais observados
- Escala Brasileira de Ventos propõe parâmetros locais
- Distorções entre cultura de prevenção e realidade brasileira
- Relação entre o ciclone extratropical e a gênese do tornado
- Efeitos colaterais e encaminhamentos emergenciais
- Retrospecto de tornados severos no Paraná
- Perspectivas para mitigação de futuras ocorrências
Fenômeno extremo atinge a região Centro-Sul paranaense
Um tornado de categoria F3, impulsionado por um ciclone extratropical que se formou sobre a Região Sul do Brasil, provocou destruição extensiva na noite de sexta-feira, 7 de junho, sobretudo no Centro-Sul do Paraná. Os ventos chegaram a 250 quilômetros por hora, deixando seis vítimas fatais e obrigando as equipes de emergência a atenderem, até a manhã de sábado, 750 pessoas com diferentes graus de ferimentos. O município de Rio Bonito do Iguaçu foi o mais castigado: estimativas preliminares apontam dano estrutural em 90 % do território urbano, cenário que levou ao adiamento da aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) marcada para domingo, 9 de junho.
Classificação e intensidade segundo o Simepar
O Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) avaliou o episódio como categoria F3 na Escala Fujita, que vai de 0 a 5. Nesse patamar, os ventos sustentados ultrapassam 250 quilômetros por hora e são capazes de promover arrancamento de telhados, colapso parcial de construções de alvenaria, derrubada de postes de energia e lançamento de veículos a longas distâncias. A velocidade aferida coloca o fenômeno no limite superior dessa classe, reforçando a severidade registrada em campo pelas equipes de monitoramento.
Posicionamento de especialista indica raridade e gravidade
Para o pesquisador Daniel Henrique Cândido, doutor em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em climatologia severa, o tornado paranaense tem potencial para integrar a lista dos dez mais fortes já catalogados no Brasil. O estudioso mantém um banco de dados com 205 ocorrências confirmadas entre 1990 e 2011, onde constam eventos de grande impacto, como:
• Itu (São Paulo) em 1991, com 15 mortos;
• Almirante Tamandaré (Paraná) em 1992, também de escala F3, com seis mortos;
• Nova Laranjeiras (Paraná) em 1997, com quatro mortos.
A possível inclusão do recente tornado nesse ranking ressalta a relevância de compreender as particularidades atmosféricas do Centro-Sul brasileiro.
Geografia e clima favorecem a formação de tornados no Cone Sul
Cândido destaca que o Brasil compõe, junto a Paraguai e norte da Argentina, a segunda área de risco mais intenso de tornados do planeta, atrás apenas do chamado “corredor dos tornados” dos Estados Unidos. A extensa planície que domina o interior do Cone Sul facilita o encontro de massas de ar com perfis térmicos contrastantes. A oeste, a Cordilheira dos Andes atua como barreira, canalizando os ventos frios de origem polar. A leste, a Serra do Mar regula a interação com a umidade oceânica. O resultado é a rápida formação de tempestades severas, incluindo ciclones extratropicais e tornados, principalmente nos meses de transição sazonal.
Impactos humanos e estruturais observados
Além das seis mortes notificadas pelo governo estadual, 750 pessoas deram entrada em postos de saúde com lesões decorrentes de escombros, objetos arremessados e colapso de edificações. Em Rio Bonito do Iguaçu, a extensão da destruição — 90 % da malha urbana — comprometeu vias de acesso, rede elétrica e prédios públicos. A suspensão do Enem na localidade exemplifica a magnitude dos danos logísticos, já que muitos locais de prova ficaram sem condições mínimas de operação ou serviam de abrigo temporário para desalojados.
Escala Brasileira de Ventos propõe parâmetros locais
Na tese de doutorado apresentada em 2012, o pesquisador sugeriu a criação da Escala Brasileira de Ventos (Ebrav), segmentada de 0 a 7, para refletir melhor as particularidades construtivas e sociais do país. Nesse sistema, o tornado paranaense alcançaria o nível 6, definido por:
• Possibilidade de desabamento de casas de alvenaria;
• Levantamento de automóveis pelo vento;
• Ruptura de postes de concreto e queda de torres de alta tensão;
• Fratura de vidros em edifícios de múltiplos pavimentos.
Essa classificação reforça a necessidade de parâmetros nacionais, pois muitas edificações brasileiras são erguidas em alvenaria e concreto, materiais mais pesados que o padrão de madeira predominante em regiões sujeitas a tornados nos Estados Unidos. Embora apresentem maior resistência inicial, tais estruturas ocasionam colapsos mais perigosos quando não suportam a força do vento, ampliando o risco de vítimas.
Distorções entre cultura de prevenção e realidade brasileira
Segundo o pesquisador, mesmo com menor frequência relativa em comparação à América do Norte, os tornados que ocorrem no Brasil produzem consequências graves. Um dos pontos críticos é a cultura de prevenção. Nos Estados Unidos, a população em zonas de risco foi treinada ao longo de décadas para acompanhar alertas meteorológicos e buscar refúgio em abrigos subterrâneos ou cômodos reforçados. Em território brasileiro, a rotina de monitorar boletins climáticos ainda não é generalizada, e parte das pessoas permanece vulnerável, seja por desconhecimento, seja pela inexistência de espaços seguros adequados em residências e prédios públicos.
Relação entre o ciclone extratropical e a gênese do tornado
O ciclone extratropical que avançou sobre a Região Sul serviu de motor atmosférico para canalizar ventos de diferentes direções e intensidades em níveis variados da troposfera. Esse arranjo gerou cisalhamento vertical favorável à rotação ascendente de nuvens, culminando no desenvolvimento do tornado. A mesma circulação foi responsável por chuvas intensas e rajadas em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde também se registraram fatalidades associadas ao sistema.
Efeitos colaterais e encaminhamentos emergenciais
Equipes da Defesa Civil estadual e municipal trabalham na remoção de destroços, restabelecimento da energia elétrica e acolhimento de famílias que perderam suas moradias. Obras emergenciais priorizam a desobstrução de rodovias, a fim de permitir o fluxo de insumos básicos e de equipamentos de resgate. A interrupção das atividades escolares, incluindo o adiamento do Enem, ilustra a reorganização necessária para acomodar as limitações estruturais resultantes do desastre.
Retrospecto de tornados severos no Paraná
O estado acumula episódios de destaque na climatologia severa brasileira. Em 1992, Almirante Tamandaré registrou um tornado também classificado como F3, que deixou seis vítimas. Cinco anos depois, em 1997, Nova Laranjeiras contabilizou quatro mortos. A repetição de eventos de alta intensidade reforça a importância de políticas públicas contínuas de mitigação de risco, desde a implementação de sistemas de alerta rápido até treinamentos comunitários de evacuação.
Perspectivas para mitigação de futuras ocorrências
Especialistas apontam que acompanhar previsões em tempo real e adotar protocolos de segurança padronizados pode reduzir significativamente o número de vítimas em eventos futuros. Entre as recomendações figuram o fortalecimento de edificações críticas, a criação de abrigos coletivos em regiões de maior vulnerabilidade e a difusão de educação climática nas escolas, para que a população reconheça sinais de formação de tornados e atue preventivamente.
O tornado de categoria F3 que varreu o Centro-Sul do Paraná evidencia a complexa interação entre geografia, clima e ocupação do solo no Cone Sul. As informações colhidas pelos órgãos de monitoramento e pelas equipes científicas servem como alerta para a adoção de medidas estruturais e comportamentais capazes de reduzir a exposição das comunidades a fenômenos atmosféricos extremos.
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