Acionistas da Tesla votam pacote de quase US$ 1 trilhão para Elon Musk e possível aporte na xAI

Tesla submetida a decisão histórica sobre remuneração de Elon Musk e investimentos em inteligência artificial

Os acionistas da Tesla reúnem-se nesta quinta-feira (6) para deliberar sobre duas propostas que podem redirecionar o caminho estratégico da montadora de veículos elétricos. A assembleia analisará um pacote de remuneração de quase US$ 1 trilhão destinado ao diretor-executivo Elon Musk e apreciará, em paralelo, a possibilidade de a companhia aplicar recursos na xAI, startup de inteligência artificial pertencente ao próprio empresário.

O que será votado e quem está envolvido

A primeira proposta coloca em pauta a autorização de um plano de distribuição de ações a Elon Musk ao longo de dez anos. O valor potencial aproxima-se de US$ 1 trilhão, equivalente a cerca de R$ 5,7 trilhões. Em caso de aprovação e posterior cumprimento de metas, o executivo poderá ampliar a participação acionária para quase 29 % do capital da Tesla, consolidando influência adicional na companhia.

O segundo item de votação avalia se a Tesla deve investir recursos na xAI, empresa que Musk fundou para desenvolver soluções de inteligência artificial. O conselho não apresentou recomendação formal sobre esse aporte, e os próprios acionistas encontram-se divididos a respeito do tema.

Como o pacote de compensação está estruturado

O plano de remuneração é segmentado em 12 etapas de desempenho. Cada estágio libera um lote de ações somente quando metas específicas forem registradas. De acordo com o conselho, essa segmentação serve para alinhar o pagamento a resultados concretos e manter o diretor-executivo comprometido por um horizonte de longo prazo.

Entre os objetivos estipulados estão:

• elevar o valor de mercado da Tesla de US$ 1,4 trilhão para US$ 8,5 trilhões;
• comercializar 20 milhões de veículos elétricos;
• colocar 1 milhão de robôs humanoides Optimus em operação;
• ativar 1 milhão de robotáxis em escala comercial;
• conquistar 10 milhões de assinaturas do sistema de direção autônoma FSD.

Caso o executivo satisfaça todas essas metas, o montante de ações correspondente às 12 parcelas será integralmente repassado, resultando na fatia de quase 29 % das ações totais da empresa.

Argumentos favoráveis

O conselho da Tesla defende o pacote com base na visão de longo alcance atribuída a Elon Musk. Para a presidente do colegiado, Robyn Denholm, o modelo de compensação reconhece o papel central do executivo na transformação da companhia em uma líder de robótica e inteligência artificial. O formato escalonado também é apontado pela diretoria como critério de segurança, pois o desembolso só aconteceria diante do cumprimento de metas operacionais e financeiras.

Além disso, alguns acionistas sustentam que a intensificação dos projetos de inteligência artificial da xAI pode, no futuro, reforçar as iniciativas já existentes na Tesla, como o desenvolvimento do robô humanoide Optimus e o avanço do software de direção autônoma.

Críticas e recomendações de rejeição

Consultorias de votação, entre elas Glass Lewis e ISS Stoxx, recomendaram que os investidores rejeitem o plano, alegando que parte da compensação poderia ser concedida mesmo sem o atingimento pleno dos objetivos operacionais. Os relatórios dessas instituições também chamam atenção para a composição do conselho, que inclui amigos e familiares de Musk, ponto que, segundo as casas de análise, levanta dúvidas sobre a independência das decisões.

Outros críticos avaliam que o valor proposto ultrapassaria a lógica de bônus por desempenho e criaria uma concentração excessiva de poder nas mãos do executivo. O risco de desalinhamento de governança é mencionado em função da possibilidade de Musk influir decisivamente sobre votos futuros e decisões estratégicas, caso alcance a participação próxima de 29 %.

Ameaça de renúncia adiciona pressão

Elon Musk afirmou que pode se afastar do cargo de diretor-executivo se o pacote não for aprovado. A declaração intensificou a pressão sobre os votantes, pois deixa implícito que a continuidade da liderança do empresário depende do sinal verde à nova remuneração. O posicionamento também reforça a importância do executivo para iniciativas como o avanço da plataforma de direção autônoma e a expansão global de produção de veículos.

Foco dividido de Musk entre Tesla e xAI

Depois de se desligar de atividades ligadas à Casa Branca, investidores imaginavam que Musk direcionaria mais energia à Tesla. Contudo, o empresário passou a dedicar atenção crescente à xAI. A startup concentra-se no desenvolvimento de modelos de linguagem e outras aplicações de inteligência artificial. Segundo alguns acionistas, essa divisão de esforços não representa obstáculo substantivo; ao contrário, pode resultar em sinergias tecnológicas úteis à montadora.

Musk sustenta que a inteligência artificial é componente fundamental para a evolução dos robôs humanoides e da frota de robotáxis. O chatbot Grok, desenvolvido pela xAI, já se encontra integrado em determinados veículos da Tesla, funcionando como assistente de bordo. Para o executivo, a colaboração formal entre as duas empresas poderia acelerar essas frentes de inovação.

Investimento na xAI: pontos de vista em conflito

A proposta de injetar capital na xAI permanece sem orientação oficial do conselho, refletindo a diversidade de opiniões internas e externas. Parte dos acionistas acredita que um eventual aporte permitiria à Tesla captar rapidamente avanços tecnológicos produzidos pela startup, potencializando recursos de computação, processamento de dados e aprendizado de máquina.

Em contraste, acionistas contrários receiam a diluição de foco da montadora e possíveis conflitos de interesse, dado que Musk exerce controle sobre ambas as empresas. A preocupação é que a formalização de investimentos cruze fronteiras corporativas de maneira que dificulte a fiscalização de resultados ou a atribuição de responsabilidades.

Consequências potenciais para a governança da Tesla

Se aprovado, o pacote de remuneração estenderá o horizonte de incentivos de Musk até 2034, alinhando-o a metas extremamente ambiciosas. No entanto, consultorias apontam que o desenho de governança precisará ser monitorado, sobretudo em razão do aumento do poder de voto do executivo e do nível de influência que poderá exercer sobre o conselho.

Da mesma forma, a eventual injeção de recursos na xAI pode estabelecer um precedente para novos acordos entre empresas controladas por Musk. Analistas alertam que, mesmo sem recomendação formal, a convivência de interesses deve ser acompanhada com rigor para preservar a equidade entre acionistas minoritários e majoritários.

Etapas seguintes após a assembleia

O resultado da votação, seja pela aprovação ou rejeição das duas propostas, definirá o grau de controle do executivo sobre a Tesla e indicará a direção dos próximos investimentos em inteligência artificial. Um sinal favorável ao pacote colocará Musk diante do desafio de cumprir metas de escala global em veículos elétricos, robótica e serviços de software, enquanto a negativa exigirá alternativas de liderança e de incentivos de longo prazo.

No que diz respeito ao possível aporte na xAI, a decisão balizará a rapidez com que tecnologias desenvolvidas pela startup poderão ser incorporadas aos produtos da Tesla. Caso o investimento seja rejeitado, a companhia continuará a depender de acordos de colaboração não financeiros ou de desenvolvimento interno para manter o ritmo de inovação em IA.

Os acionistas, portanto, têm diante de si a definição simultânea de governança corporativa, estratégia de inteligência artificial e sucessão de liderança, com impactos que podem reverberar por toda a próxima década na Tesla.