Telefunken regressa ao Brasil, mas deixa as televisões de fora

A Telefunken marcou gerações com televisores de madeira que povoaram salas de estar em vários países, incluindo Portugal e Brasil. Após décadas de ausência, o nome regressa ao mercado brasileiro, agora associado a pequenos eletrodomésticos e sem ligação direta à empresa original criada em 1903.

Origem na Alemanha e avanço tecnológico

A marca nasceu a 27 de maio de 1903, em Berlim, resultado de um acordo entre Siemens & Halske e AEG, mediado pelo Kaiser Guilherme II para resolver disputas sobre patentes de rádio. A nova sociedade, batizada Gesellschaft für drahtlose Telegraphie, rapidamente adoptou a designação Telefunken, junção alemã para “distância” e “faísca”.

Nos anos seguintes, destacou-se na produção de transmissores, receptores e equipamentos de radar. Na década de 1920 surgiram os primeiros protótipos de televisão, exibidos publicamente em 1928. Já nos anos 1930, engenheiros da companhia criaram o sistema de varrimento entrelaçado que permitiu formar imagens completas, avanço que viria a definir a norma televisiva da época.

Chegada ao Brasil e domínio dos televisores

Consolidada na Europa, a Telefunken instalou-se oficialmente no Brasil no final dos anos 1940, inaugurando fábricas que aceleraram a produção local de televisores e rádios. O preço competitivo e o corpo em madeira tornaram os aparelhos populares, tanto para acompanhar noticiários como para ligar consolas de jogos, como o Atari 2600.

Com a introdução da televisão a cores no início dos anos 1970, a marca beneficiou do padrão PAL-M, combinação do sistema PAL — desenvolvido pelo engenheiro da Telefunken Walter Bruch — com o NTSC norte-americano. Além dos televisores, rádios valvulados como os modelos Mignon e Largo reforçaram a presença no sector áudio.

Projectos além das televisões

O portefólio da empresa era vasto. Em 1968, apresentou o Rollkugel, um trackball ligado ao computador TR440, considerado o primeiro rato esférico comercializado. A divisão de semicondutores participou ainda em projectos de computadores militares e científicos, bem como em soluções de reconhecimento de fala, telefonia, células solares e sistemas de gravação áudio profissionais.

Crise, reestruturação e extinção

Problemas financeiros, visíveis a partir da década de 1970, levaram à separação da área de electrónica de consumo e à venda de diversas subsidiárias. Em 1982, a AEG entrou em processo de concordata preventiva e, três anos depois, foi adquirida pelo grupo Daimler-Benz, que continuou a desfazer activos. No Brasil, a Gradiente comprou a produção local da Telefunken em 1989, encerrando-a pouco tempo depois.

O nome desapareceu do panorama industrial em 1996, com a dissolução definitiva da AEG. Em 2007, a Live Holding adquiriu os direitos globais de uso da marca, abrindo caminho para licenças comerciais a partir de 2009.

Regresso como marca licenciada

Em 2022, o grupo argentino Someco passou a explorar o nome Telefunken no Brasil. A operação concentra-se em pequenos eletrodomésticos — air fryers, aspiradores, batedeiras, liquidificadores e sanduicheiras — além de produtos áudio, como colunas Bluetooth e soundbars. As televisões, outrora carros-chefe, ficaram fora do plano inicial, segundo a empresa.

O actual modelo de negócios limita-se ao licenciamento: o fabricante detém o direito de aplicar a marca em linhas específicas, sem continuidade tecnológica com os produtos históricos. Consumidores interessados em aparelhos originais recorrem a plataformas de revenda, onde surgem ocasionalmente televisores Pal Color ou rádios valvulados em estado de colecção.

Presença no mercado vintage

A longevidade dos dispositivos analógicos fez das unidades remanescentes peças procuradas por entusiastas. Sites como eBay, OLX e Mercado Livre listam televisores e rádios restaurados, alguns ainda funcionais, que recordam a época em que a Telefunken definia padrões de durabilidade na electrónica de consumo.

Assim, a marca que durante quase um século inovou em telecomunicações e entretenimento renasce hoje como selo comercial aplicado a pequenos aparelhos domésticos, mantendo viva uma designação histórica, embora sem a engenharia que lhe deu fama mundial.

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Imagem: tecmundo.com.br

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