Tarifas dos EUA podem cortar 488 mil milhões de dólares nas exportações chinesas até 2027
A continuidade das tarifas impostas por Washington à China pode reduzir em 488 mil milhões de dólares o valor das exportações chinesas para o mercado norte-americano até 2027. A estimativa resulta de uma simulação do Observatório da Complexidade Económica (OEC), que calculou o impacto das taxas aduaneiras introduzidas pela administração Trump e ainda em vigor.
Simulação aponta perdas em vários sectores
O modelo do OEC parte de uma tarifa de 34 % aplicada aos bens chineses desde o início de Abril, conjugada com taxas anteriores. O estudo também considera um aumento temporário para 245 %, actualmente suspenso por 90 dias, período que termina a 12 de Agosto.
De acordo com a ferramenta, o sector dos computadores será o mais penalizado, com quebras que podem atingir dezenas de milhares de milhões de dólares nos próximos dois anos. Equipamentos eléctricos, produtos de radiodifusão, brinquedos e vestuário surgem igualmente entre os mais afectados.
Os bens que deixarem de entrar nos Estados Unidos deverão, contudo, encontrar destino noutros mercados. O OEC prevê uma reorientação substancial das exportações chinesas para o Sudeste Asiático, enquanto a Europa registaria ganhos mais modestos, sobretudo em países como Itália, Países Baixos e França.
Novos destinos para os produtos chineses
A simulação detalha que a Índia poderá absorver mais 40 mil milhões de dólares em mercadorias chinesas no mesmo período, ao passo que o Vietname captaria cerca de 38 mil milhões. A Rússia aparece logo a seguir, com potencial para aumentar as importações provenientes da China em 33,1 mil milhões de dólares.
Do lado oposto, Pequim deverá reduzir as compras de bens norte-americanos em cerca de 101 mil milhões de dólares, afectando sobretudo soja, circuitos integrados, petróleo bruto, gás de petróleo e automóveis.
Negociações continuam sem acordo
Autoridades chinesas e norte-americanas realizaram três rondas de conversações desde que o “tarifaço” entrou em vigor. Os encontros tiveram lugar em Genebra, Londres e, mais recentemente, Estocolmo, mas ainda não produziram consenso sobre o levantamento ou ajuste das taxas.
Antes da reunião na capital sueca, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, referiu que as discussões avançam de forma “construtiva” e admitiu prorrogar a suspensão temporária das tarifas mais altas. Até ao momento, porém, não foram divulgados detalhes concretos sobre um eventual acordo.
Impacto global da disputa comercial
A prolongação das tarifas amplia a incerteza nas cadeias de abastecimento internacionais, segundo analistas ouvidos pelo OEC. Empresas dos sectores visados continuam a redistribuir produção e encomendas para minimizar custos, tendência que deverá intensificar-se caso não haja entendimento antes do prazo limite de Agosto.
O cenário traçado pela ferramenta sugere ainda que a deslocação de fluxos comerciais poderá beneficiar economias emergentes que oferecem mão-de-obra competitiva e acordos de livre-comércio favoráveis. Apesar disso, o OEC alerta que ganhos rápidos podem ser temporários, dependendo da evolução das políticas tarifárias dos dois gigantes económicos.
Próximos passos
Washington e Pequim não anunciaram novas datas para negociações formais, mas fontes diplomáticas indicam contactos técnicos permanentes. Enquanto isso, empresas exportadoras, plataformas logísticas e investidores monitorizam o calendário político nos Estados Unidos, em particular o debate sobre política comercial em ano pré-eleitoral.
Sem entendimento, o OEC mantém a previsão de queda acumulada de 488 mil milhões de dólares nas exportações chinesas para os EUA até 2027, reforçando a perspectiva de ajustamentos prolongados no comércio global.

Imagem: tecmundo.com.br