Talibã proíbe livros escritos por mulheres nas universidades

Talibã proíbe livros escritos por mulheres nas universidades: o governo de fato do Afeganistão determinou que todas as instituições de ensino superior retirem do currículo 140 obras de autoras e eliminem 18 disciplinas consideradas “contrárias à sharia”.

A lista, distribuída no fim de agosto, contém 679 títulos “problemáticos”, entre eles “Safety in the Chemical Laboratory”. Além de barrar livros de mulheres, o Talibã ordenou que assuntos como Direitos Humanos, Assédio Sexual, Gênero e Desenvolvimento e Sociologia da Mulher deixem de ser ministrados.

Talibã proíbe livros escritos por mulheres nas universidades

Um comunicado assinado por Ziaur Rahman Aryubi, vice-diretor acadêmico do Ministério do Ensino Superior, afirma que a decisão partiu de um painel de “eruditos religiosos e especialistas”. Segundo um membro do comitê de revisão, “todos os livros de autoria feminina estão proibidos”.

Motivos alegados e escopo da proibição

Entre as obras vetadas, 310 foram escritas ou publicadas no Irã. Fontes ouvidas pela BBC disseram que a medida busca evitar “a infiltração de conteúdo iraniano” no sistema acadêmico afegão. A relação tensa entre os dois países inclui disputas por recursos hídricos e o repatriamento forçado de mais de 1,5 milhão de afegãos desde janeiro.

Impacto para docentes e estudantes

Professores relatam dificuldades para suprir a lacuna bibliográfica. Um docente de Cabul, sob anonimato, afirmou que terá de elaborar capítulos de livros por conta própria, mas questiona se conseguirá manter padrões internacionais. A restrição soma-se a outras que afetam sobretudo mulheres e meninas, proibidas de frequentar aulas a partir do 6.º ano e, desde 2024, impedidas até mesmo de cursar enfermagem obstétrica.

Reações e contexto

Zakia Adeli, ex-vice-ministra da Justiça e autora de obras agora vetadas, disse não se surpreender: “Quando as mulheres não podem estudar, é natural que suas ideias e escritos também sejam silenciados”. Apesar das críticas, o Talibã insiste que respeita os direitos femininos “de acordo com a cultura afegã e a lei islâmica”.

Na mesma semana, o líder supremo do grupo ordenou o corte da internet de fibra óptica em dez províncias para “evitar a imoralidade”, demonstrando o escopo mais amplo das restrições à informação no país.

Com mais essa medida, especialistas temem um isolamento acadêmico profundo, comprometendo a formação de profissionais e a integração do Afeganistão à comunidade científica global.

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Crédito da imagem: AFP via Getty Images

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