SpaceX assegura parceria com Itália para enviar experiências científicas a Marte
A SpaceX firmou o primeiro contrato comercial para transportar cargas científicas rumo a Marte. O acordo, assinado com a Agência Espacial Italiana (ASI), prevê o envio de três experiências a bordo das missões inaugurais do foguetão Starship para o Planeta Vermelho.
Experiências italianas a caminho de Marte
O entendimento foi anunciado a 7 de agosto por Teodoro Valente, presidente da ASI. Segundo a agência, as cargas incluirão um ensaio de crescimento vegetal, uma estação de monitorização meteorológica e um sensor de radiação. Os instrumentos recolherão dados durante os cerca de seis meses de viagem entre a Terra e Marte e continuarão a operar depois da alunagem, permitindo avaliar a viabilidade de atividades humanas de longo prazo no planeta.
Gwynne Shotwell, presidente e diretora de operações da SpaceX, saudou a cooperação nas redes sociais, sublinhando que se trata de um acordo “sem precedentes” para utilização comercial do Starship fora da órbita terrestre.
Estado do programa Starship
O Starship é o sistema de lançamento totalmente reutilizável concebido pela SpaceX para missões de carga e tripulação de grande escala. O conjunto é composto pelo propulsor Super Heavy, com 70 metros de altura, e pela nave superior Starship, de 50 metros. Ambos os estágios foram pensados para regressar à Terra, reduzindo custos e aumentando a cadência de voos.
Desde abril de 2023, a empresa realizou nove voos de teste a partir da base Starbase, no Texas. As três tentativas mais recentes terminaram sem a recuperação controlada do estágio superior, mas cada missão forneceu dados cruciais para a evolução do projeto. A décima decolagem está planeada para agosto, focando-se em melhorias estruturais e na capacidade de reentrada.
Objetivos a longo prazo
Elon Musk, fundador da SpaceX, defende que o Starship é essencial para criar um “sistema de transporte interplanetário” e estabelecer um assentamento humano permanente em Marte. Num evento realizado em maio de 2025, Musk apresentou um roteiro preliminar para a construção de uma cidade marciana, assente em voos frequentes e na reutilização rápida do veículo.
O contrato com a ASI assinala um passo prático nesta estratégia. Ao incorporar cargas externas logo nas primeiras missões, a empresa demonstra confiança na maturidade do sistema e abre a porta a outras agências e entidades privadas interessadas em investigação marciana.
Próximos desafios
Apesar do avanço, persistem obstáculos técnicos. Os testes recentes revelaram dificuldades na recuperação do propulsor e na estabilidade da nave durante a descida. Além disso, a certificação para transporte de humanos dependerá de um histórico de voos bem-sucedidos e da validação de sistemas de suporte de vida, escudo térmico e proteção contra radiação.
Para a ASI, o maior desafio será conceber instrumentos capazes de resistir à vibração do lançamento, às condições do espaço profundo e ao ambiente marciano, caracterizado por temperaturas extremas, poeira fina e níveis elevados de radiação cósmica.
Impacto para a Europa
O envolvimento italiano coloca a Europa entre os primeiros clientes da plataforma interplanetária da SpaceX. A iniciativa reforça a capacidade de investigação científica do bloco e pode incentivar outras agências europeias a considerar parcerias semelhantes, sobretudo num contexto de crescente competição pelo acesso ao espaço profundo.
Se o cronograma da SpaceX se mantiver, as experiências italianas poderão partir já na segunda metade da década, inaugurando uma nova fase de missões europeias a Marte. Até lá, cada ensaio em voo servirá para validar componentes, aperfeiçoar procedimentos de reentrada e demonstrar a fiabilidade do sistema reutilizável.
Com o acordo agora formalizado, a atenção concentra-se no próximo teste do Starship. Um lançamento bem-sucedido aumentará a confiança de investidores e parceiros institucionais, aproximando o objetivo de transformar a rota Terra-Marte numa operação comercial regular.
Imagem: SpaceX via olhardigital.com.br
