JUICE, a missão interplanetária da Agência Espacial Europeia (ESA) dedicada ao estudo das luas geladas de Júpiter, realizou com sucesso um sobrevoo a Vénus às 07:28 CEST de 31 de agosto. A manobra, essencial para ajustar a velocidade e a trajetória da nave, decorreu sem incidentes e manteve o cronograma que prevê a chegada ao sistema joviano em julho de 2031.
Gravidade de Vénus fornece o empurrão necessário
Lançada da Guiana Francesa em abril de 2023 a bordo de um Ariane 5, a sonda Jupiter Icy Moons Explorer baseia grande parte do seu plano de viagem na técnica de assistências gravitacionais. Depois de uma passagem conjunta pela Terra e pela Lua em 2024, Vénus foi o segundo corpo celeste escolhido para alterar a velocidade e a direção da espaçonave sem gastar combustível adicional.
O encontro decorreu a cerca de 200 mil quilómetros da superfície venusiana. Ao aproximar-se do planeta, JUICE recebeu um impulso gravitacional que a coloca na rota para uma nova passagem pela Terra em setembro de 2026. Outra assistência prevista para 2029 fornecer-lhe-á a aceleração final antes da inserção orbital em torno de Júpiter.
Sensores desligados para evitar sobreaquecimento
Diferentemente do primeiro flyby, a ESA optou por manter os instrumentos científicos e as câmaras desligados durante a aproximação a Vénus. A decisão visou proteger a eletrónica do calor intenso reflectido pelo planeta, reduzindo o risco de danos permanentes. Apesar da ausência de imagens, a equipa de operações confirmou que todos os sistemas reencontraram o modo normal poucos minutos após a manobra.
Recuperação de comunicação foi decisiva
O êxito do sobrevoo esteve pendente até meados de julho, quando uma anomalia impediu o contacto entre a sonda e a estação de Cebreros, em Espanha, durante várias horas. Investigações apontaram para um erro de temporização no software que controla o amplificador de comunicações. Durante vinte horas, operadores enviaram comandos repetidos até realinhar a antena de ganho médio e restabelecer a telemetria.
Com a ligação restituída, a ESA emitiu uma actualização de firmware destinada a evitar falhas semelhantes. Segundo a responsável de operações, Angela Dietz, a perda de contacto é um dos cenários mais críticos numa missão deste tipo; a resolução atempada garantiu que os preparativos para Vénus prosseguissem dentro do calendário.
Objectivos científicos no sistema de Júpiter
Após percorrer 6,6 mil milhões de quilómetros, JUICE deverá entrar em órbita de Júpiter no verão de 2031 e permanecer 2,5 anos a explorar três das quatro luas galileanas: Ganimedes, Calisto e Europa. Estas luas albergam camadas de gelo espesso sob as quais se suspeita existirem oceanos salinos. Ao executar 35 aproximações de alta precisão, a missão pretende analisar estrutura interna, composição química e actividade magnética, procurando indícios de ambientes habitáveis.
No final do programa, a ESA planeia colocar a nave em órbita permanente de Ganimedes, tornando-a a primeira sonda a circundar um satélite natural de Júpiter. A fase permitirá mapear a superfície, estudar a magnetosfera própria da lua e fornecer dados inéditos sobre a maior lua do Sistema Solar.
Próximas etapas da viagem
Até ao encontro com a Terra em 2026, JUICE continuará a testar instrumentos, recolher dados de partículas e monitorizar o meio interplanetário. Cada comunicação implica um atraso de 22 minutos em cada sentido, devido à distância actual de cerca de 200 milhões de quilómetros. A equipa mantém um calendário de correcções de trajectória e calibrações periódicas para garantir a precisão necessária às futuras assistências gravitacionais.
Com a manobra de Vénus concluída com sucesso e os sistemas em pleno funcionamento, a missão mantém-se no rumo previsto para esclarecer questões fundamentais sobre a formação de planetas gigantes e o potencial de vida em ambientes gelados além da Terra.