Solução de dois Estados volta ao centro do debate internacional, impulsionada por França e Arábia Saudita na Assembleia Geral da ONU, enquanto a guerra na Faixa de Gaza agrava a urgência por um acordo duradouro.
Os dois países apresentaram um novo roteiro que prevê cessar-fogo imediato, libertação de reféns, retirada israelense e criação gradual de um Estado palestino nos territórios ocupados em 1967. Reino Unido, Canadá e Austrália anteciparam-se, reconhecendo formalmente a Palestina e somando-se a quase 150 nações que já adotaram essa posição. A expectativa é de que a França faça o mesmo ainda nesta semana.
Solução de dois Estados: ONU esbarra em EUA e Israel
Apesar da pressão internacional, Washington e Tel Aviv permanecem contrários ao plano. Os Estados Unidos impediram a participação oficial palestina na Assembleia e alegam que o reconhecimento prematuro “premia” o Hamas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ameaça responder com ações unilaterais, inclusive a anexação de partes da Cisjordânia, o que tornaria inviável a independência palestina.
A proposta franco-saudita contorna temas explosivos — fronteiras definitivas, status de Jerusalém e retorno de refugiados — concentrando-se em fases práticas de segurança e reconstrução. O projeto prevê que o Hamas entregue o controle de Gaza a um comitê independente ligado à Autoridade Palestina, com supervisão internacional e eventual presença de forças de paz.
Para o secretário-geral António Guterres, manter o atual cenário — em que israelenses desfrutam de plenos direitos e palestinos vivem sob diferentes graus de ocupação — “é intolerável” e alimenta instabilidade regional. Organizações de direitos humanos já classificam essa disparidade como apartheid.
Entretanto, Israel sustenta que um Estado palestino abriria caminho para novos ataques similares aos de 7 de outubro de 2023. Netanyahu e seus aliados de extrema-direita defendem a expansão de assentamentos, hoje habitados por mais de meio milhão de israelenses na Cisjordânia, enquanto três milhões de palestinos vivem sob lei militar.
O impasse não se limita à diplomacia. A ofensiva israelense já matou dezenas de milhares em Gaza, desalojou 90% da população e devastou infraestrutura essencial, segundo dados da Organização das Nações Unidas. A fome avança e uma nova operação ameaça esvaziar a maior cidade do enclave.
Sem conversas de paz substantivas desde 2009, analistas temem que o novo plano tenha o mesmo destino de acordos anteriores, mantendo Israel no controle do território entre o Rio Jordão e o Mediterrâneo e empurrando a solução de dois Estados para um horizonte cada vez mais distante.
Em síntese, a Assembleia Geral expõe o profundo desacordo sobre o futuro da região: enquanto a maioria global exige um caminho político, EUA e Israel reforçam barreiras que podem enterrar a perspectiva de dois Estados.
Quer acompanhar os próximos desdobramentos sobre geopolítica e tecnologia? Visite nossa editoria de Notícias e Tendências e continue informado.
Crédito da imagem: The Associated Press