Sismo no Afeganistão faz 800 mortos e mobiliza resgates de helicóptero

Helicópteros continuam a percorrer as montanhas do leste do Afeganistão em busca de sobreviventes depois de um sismo de magnitude 6,0 ter provocado pelo menos 800 mortos e 1 800 feridos no domingo, junto à fronteira com o Paquistão.

Operações dificultadas pelo relevo e estradas bloqueadas

As equipas de resgate entraram esta terça-feira no segundo dia de buscas aéreas, já que muitas estradas permanecem cobertas de escombros e deslizamentos de terra. Segundo fontes no terreno, realizaram-se 90 voos de evacuação na segunda-feira para retirar habitantes de aldeias isoladas na província de Kunar. Em alguns vales, o terreno impediu a aterragem dos aparelhos, obrigando a lançamentos de mantimentos a partir do ar.

O Ministério da Gestão de Desastres, controlado pelo governo talibã, admite que dezenas de pessoas permanecem soterradas debaixo de habitações construídas em adobe. A mesma fonte sublinha que a prioridade é localizar sobreviventes antes de o tempo se deteriorar nas zonas montanhosas.

Hospitais sobrelotados e testemunhos de perda

O hospital regional de Nangarhar, em Jalalabad, já recebia centenas de pacientes por dia antes do desastre e encontra-se agora perto do limite. Entre os feridos está Maiwand, de dois anos e meio, com traumatismo craniano e hemorragias. O tio, Khawat Gul, pede tratamento urgente face à escassez de sangue e material cirúrgico.

Mir Zaman contou que escavou com uma pá para retirar os corpos dos filhos durante a noite: «Não havia luz nem ajuda; toda a aldeia estava devastada.» Outro sobrevivente, Nader Khan, com ferimentos na cabeça e na coluna, afirma ter perdido dois filhos e duas noras. Conseguiu salvar dois netos, mas desconhece o paradeiro dos corpos dos restantes familiares.

Apelo internacional e primeiros compromissos de apoio

O governo talibã solicitou assistência externa logo após o abalo. As Nações Unidas libertaram fundos de emergência, enquanto o Reino Unido garantiu um milhão de libras (cerca de 1,3 milhões de dólares) em ajuda, a canalizar através do Fundo de População da ONU (UNFPA) e do Comité Internacional da Cruz Vermelha, confirmou o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, David Lammy.

A Índia enviou 1 000 tendas para Cabul e está a transportar 15 toneladas de alimentos para Kunar, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Subrahmanyam Jaishankar, adiantando que chegarão mais remessas nos próximos dias. China e Suíça também manifestaram disponibilidade para prestar auxílio.

Sismo agrava crise humanitária existente

O abalo surge num contexto de seca severa e de uma «crise alimentar sem precedentes», nas palavras da ONU, que identifica 23 milhões de afegãos em situação de insegurança alimentar. Os cortes de financiamento internacional, em particular de programas norte-americanos, reduziram significativamente o fluxo de ajuda desde o início do ano, deixando comunidades vulneráveis com menos recursos para responder a desastres naturais.

A responsável do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários no Afeganistão, Amy Martin, alerta que os sobreviventes necessitam «com urgência de abrigo, mantas e apoio psicossocial». Com o inverno a aproximar-se das regiões montanhosas, as autoridades locais tentam garantir tendas e materiais de construção provisória antes da queda das temperaturas.

País situa-se sobre linhas de falha ativas

O Afeganistão é particularmente vulnerável a sismos, pois encontra-se sobre o encontro das placas tectónicas indiana e euro-asiática. Segundo o Serviço Geológico local, o evento de domingo figura entre os mais fortes registados nos últimos anos, embora a magnitude moderada tenha causado grande destruição devido à profundidade rasa do epicentro e à fragilidade das construções rurais.

Especialistas recordam que a melhoria dos métodos de construção poderia reduzir de forma significativa o número de vítimas em futuros abalos. Contudo, a atual conjuntura económica dificulta a aplicação de normas sísmicas nas áreas mais remotas.

Enquanto prosseguem as buscas, as autoridades pedem aos residentes que fiquem atentos a réplicas e evitem reentrar em edifícios danificados. A contagem oficial de vítimas pode aumentar nas próximas horas, à medida que as equipas de resgate alcançam aldeias ainda isoladas.

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