Mais de 800 pessoas morreram e vários milhares ficaram feridas após um sismo de magnitude 6,0 atingir o leste do Afeganistão na noite de domingo. O abalo, registado às 23:47 locais (19:47 GMT), teve epicentro a 27 km de Jalalabad, na província de Nangarhar, mas os efeitos mais graves ocorreram na vizinha província de Kunar, onde aldeias inteiras ficaram reduzidas a escombros.
Epicentro no leste do país
O sismo, considerado raso por ter ocorrido a apenas 8 km de profundidade, foi sentido até 140 km de distância, incluindo na capital, Cabul, e em partes do Paquistão. A pouca profundidade ajudou a intensificar a destruição em Kunar, uma região montanhosa onde as habitações são maioritariamente construídas em adobe e pedra.
Habitantes da cidade de Asadabad relataram tremores seguidos de pequenas réplicas ao longo da noite. Em Mazar Dara, na zona de Nurgal, 95 % das casas ruíram, deixando “entre cinco e dez feridos por família”, segundo moradores. Testemunhas descrevem um cenário de medo, com famílias a passar a noite ao relento receando novos abalos.
Socorro dificultado pela geografia
Estradas estreitas, feitas de terra batida e serpenteando encostas, ficaram obstruídas por deslizamentos de terra recentes, complicando o acesso terrestre. Equipas governamentais e voluntários recorreram a helicópteros para alcançar as comunidades mais isoladas na manhã de segunda-feira. Um responsável local admitiu que, face às dificuldades, a prioridade passou de recuperar corpos para socorrer sobreviventes ainda encurralados.
No terreno, equipas de resgate relatam vítimas presas debaixo dos escombros durante horas. A Cruz Vermelha alerta para a escassez de tendas e para o receio generalizado de regressar a casas que permaneceram de pé. As instalações de saúde, já limitadas, encontram-se sobrelotadas: o hospital principal de Jalalabad recebeu cerca de 460 feridos, dos quais 250 necessitaram de internamento imediato.
Apoio internacional e desafios internos
Vários países, incluindo China, Índia, Reino Unido e Suíça, anunciaram ajuda de emergência. Londres canalizará fundos para o Fundo de População das Nações Unidas e para o Comité Internacional da Cruz Vermelha, visando cuidados de saúde e material de primeira necessidade.
O desastre chega numa altura em que o Afeganistão enfrenta seca prolongada, cortes na assistência internacional e uma crise alimentar descrita pelo Programa Alimentar Mundial como “sem precedentes”. Desde que os talibãs retomaram o poder em 2021, muitas organizações suspenderam operações, e as sanções internacionais continuam a limitar o fluxo de financiamento — exceção feita à ajuda humanitária.
A sismicidade é frequente no Afeganistão, localizado sobre várias falhas geológicas nos contrafortes dos Himalaias. Em 2023, tremores na província de Herat provocaram mais de mil mortes, enquanto em 2022 um abalo em Paktika deixou cerca de dois mil mortos. A repetição de eventos destrutivos sublinha a vulnerabilidade das construções tradicionais e a necessidade de preparação para emergências, apontam organismos humanitários.
Com aldeias inacessíveis por terra, as autoridades admitiram que o número de vítimas pode aumentar à medida que as equipas cheguem a zonas remotas. Nos vales montanhosos de Kunar, residentes continuam a escavar manualmente entre os destroços, enquanto aguardam reforços e materiais de abrigo.
No final da tarde de segunda-feira, persistiam réplicas ligeiras e o medo de novos deslizamentos devido às chuvas recentes. Especialistas aconselham a população a permanecer em áreas abertas sempre que possível. Entretanto, organizações internacionais coordenam esforços para enviar unidades médicas móveis, água potável, mantimentos e kits sanitários, tentando atenuar o impacto imediato de um desastre que agrava uma crise humanitária já profunda.