Síndrome da fermentação intestinal: embriaguez sem álcool é o nome de uma condição rara em que bactérias e fungos do trato gastrointestinal convertem carboidratos ingeridos em etanol, provocando sinais típicos de intoxicação alcoólica mesmo sem ingestão de bebida.
Descrita pela primeira vez em 1946, a síndrome soma pouco mais de 20 casos documentados em língua inglesa, de acordo com revisão publicada em 2021. Pacientes podem apresentar tontura, náuseas, vômito, fadiga, problemas de memória e até falhar em testes de bafômetro, gerando questões legais e diagnósticas complexas.
Síndrome da fermentação intestinal: embriaguez sem álcool
O mecanismo inicia-se quando leveduras como Saccharomyces e Candida dominam o microbioma do intestino delgado, transformando-o em um “alambique biológico”. A disbiose costuma surgir após ciclos repetidos de antibióticos, doenças gastrointestinais — como síndrome do intestino curto —, diabetes ou enfermidades hepáticas. Há ainda indícios de predisposição genética ligada à forma como o organismo metaboliza álcool.
Casos notórios reforçam o impacto social do distúrbio. Um motorista belga e outro da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, só foram absolvidos de acusações de dirigir embriagado depois de exames comprovarem níveis endógenos de etanol incompatíveis com a ausência de consumo. Estudos de caso publicados na revista BMJ Open Gastroenterology recomendam que profissionais de saúde considerem a síndrome sempre que houver sintomas alcoólicos sem histórico de bebida.
O diagnóstico envolve monitoramento do sangue após ingestão controlada de carboidratos, colonoscopia ou biópsia para identificar microrganismos dominantes. Quando confirmado, o tratamento combina antifúngicos específicos, dieta com baixo teor de carboidratos e uso de probióticos para restaurar bactérias benéficas. A abordagem precisa ser ajustada caso surja resistência medicamentosa, fenômeno frequente por causa do uso prévio de antibióticos.
Embora o álcool endógeno possa permanecer no sangue por até 12 horas, a duração e a intensidade dos sintomas variam conforme a quantidade de carboidratos ingeridos e a atividade das leveduras. Controlar a dieta é, portanto, passo essencial para reduzir picos de etanol e mitigar riscos de acidentes ou complicações hepáticas.
Como mostra a médica infectologista Rahel Zewude, da Universidade de Toronto, o suporte multidisciplinar é decisivo: “sem intervenção nutricional e acompanhamento clínico, o paciente corre o risco de perpetuar a produção de álcool e sofrer danos progressivos”.
Para quem convive com tontura e sonolência sem explicação, a orientação é buscar avaliação médica, relatar uso recente de antibióticos e solicitar investigação laboratorial específica. O reconhecimento precoce evita diagnósticos equivocados e problemas legais.
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Imagem: gerada por inteligência artificial Dell-E/Nayra Teles