Síndrome de Lázaro: entenda o raro retorno do coração

Síndrome de Lázaro descreve o retorno espontâneo da circulação (ROSC) minutos depois de uma parada cardíaca e da interrupção das manobras de ressuscitação, fenômeno que, embora raríssimo, já conta com mais de 60 relatos médicos desde 1982.

Contrariando a lógica, pacientes declarados clinicamente mortos voltam a apresentar batimentos cardíacos, gerando surpresa em equipes de emergência e familiares e exigindo protocolos rigorosos para confirmação de óbito.

Síndrome de Lázaro: entenda o raro retorno do coração

O evento costuma surgir até 10 minutos após o fim da reanimação – há registros de até 30 minutos. A denominação faz alusão a Lázaro de Betânia, personagem bíblico ressuscitado por Jesus, mas na medicina a explicação está em processos puramente fisiológicos.

Possíveis mecanismos do fenômeno

Apesar de não haver consenso, especialistas apontam hipóteses que, isoladas ou combinadas, podem levar ao reinício dos batimentos:

Pressão intratorácica elevada: a ventilação excessiva durante a RCP comprime o coração; ao cessar o fluxo de ar, a pressão cai e o sangue volta a circular.

Efeito retardado de fármacos: adrenalina e atropina podem demorar a agir e recuperar a atividade elétrica cardíaca minutos depois.

Correção da acidose: o acúmulo de ácido láctico pode se reverter gradualmente, restaurando o ritmo.

Hipotermia: baixas temperaturas desaceleram o metabolismo, preservando tecido cardíaco até o aquecimento.

Retardo na condução elétrica: bloqueios temporários podem se desfazer espontaneamente, reativando o miocárdio.

Casos que entraram para a história

Entre os relatos mais citados estão o paciente norte-americano de 1993 cujo coração retomou o pulso 10 minutos após a RCP, a britânica de 23 anos em 2007 e o polonês de 91 anos que despertou no necrotério em 2014, caso associado à hipotermia profunda.

Protocolos para evitar falso óbito

Para reduzir erros, diretrizes internacionais recomendam:

• Monitorar o paciente por, no mínimo, 10 minutos após suspender a ressuscitação;

• Manter eletrocardiograma contínuo para detectar qualquer atividade elétrica;

• Controlar a ventilação a fim de evitar hiperinflação pulmonar.

O Organização Mundial da Saúde enfatiza que a confirmação de morte deve seguir critérios estritos, principalmente em paradas cardíacas com fatores potencialmente reversíveis.

O que diferencia da catalepsia?

A catalepsia é um distúrbio neurológico que provoca rigidez muscular e imobilidade, podendo simular morte em relatos históricos, mas sem relação com o retorno circulatório espontâneo da Síndrome de Lázaro.

Embora raro, cada novo caso documentado contribui para compreender melhor os mecanismos do ROSC tardio e aprimorar protocolos, tema que deve permanecer no radar da pesquisa cardiovascular.

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Crédito da imagem: medipic/Reprodução

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