Simone Gbagbo lança candidatura à Presidência marfinense

Simone Gbagbo, ex-primeira-dama da Costa do Marfim e conhecida como “dama de ferro”, confirmou sua candidatura à Presidência após ser oficialmente autorizada a concorrer nas eleições de outubro.

Com 76 anos e uma condenação anulada por anistia, Simone promete “modernizar” o país e clama aos apoiadores para “construir uma nova nação”. A liberação surpreendeu analistas, pois ela cumpria pena de 20 anos por ameaçar a segurança do Estado, mas foi beneficiada por perdão presidencial em 2018.

Simone Gbagbo lança candidatura à Presidência marfinense

A trajetória política de Simone começou ao lado do então marido Laurent Gbagbo, com quem fundou, em 1982, a Frente Popular Marfinense (FPI). Professora com formação em História e Linguística, ela ganhou reputação de liderança austera, temida até entre correligionários. Seus discursos inflamados, ancorados na fé cristã evangelista, a tornaram peça-chave nas campanhas do marido, presidente de 2000 a 2011.

Durante o governo de Laurent, a influência atribuída à primeira-dama sobre as forças de segurança foi alvo de críticas. O apoio ao conceito de “Ivoirité” contribuiu para a guerra civil que dividiu o país entre Norte e Sul e adiou eleições por cinco anos. Em 2010, quando Laurent perdeu para Alassane Ouattara e se recusou a deixar o cargo, Simone o defendeu publicamente, classificando o rival de “líder bandido”. O conflito resultante deixou mais de 3 000 mortos.

Capturada em um bunker ao lado do marido, Simone relatou tentativas de estupro durante a detenção. Em 2015, foi condenada por organizar milícias, mas o presidente Ouattara a perdoou como gesto de reconciliação. A agência Reuters lembra que acusações similares no Tribunal Penal Internacional acabaram arquivadas.

Separada de Laurent desde 2021, após um divórcio público e conturbado, Simone ergueu o Movimento das Gerações Capazes (MGC), de orientação esquerdista. A legenda sustenta que ela “representa renovação e prosperidade” e pode canalizar o capital político do ex-presidente, impedido de concorrer.

A candidatura tem peso simbólico num país onde apenas 30 % dos deputados são mulheres. Se eleita, Simone Gbagbo será a primeira presidente mulher da Costa do Marfim, coroando quatro décadas de ativismo que a levaram de prisões por protestar contra o autoritarismo de Félix Houphouët-Boigny a figura central da sucessão de 2024.

Analistas observam que sua retórica combativa e a manutenção de redes de apoio podem torná-la a principal adversária de Ouattara. Contudo, a marca de violações de direitos humanos ainda gera resistência entre parte do eleitorado.

No mês que antecede o pleito, a “dama de ferro” deve intensificar caravanas e comícios, apostando no discurso de unidade nacional para superar fantasmas do passado e atrair jovens e mulheres, dois grupos cada vez mais decisivos nas urnas.

Para acompanhar os desdobramentos desta eleição histórica e outras análises políticas, visite nossa editoria de notícias e permaneça informado.

Crédito da imagem: Reuters

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