Série Tremembé revela bastidores da penitenciária que abriga os crimes mais célebres do Brasil

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A produção Tremembé, disponibilizada pelo Prime Video, leva o espectador para dentro da Penitenciária II de Tremembé, interior de São Paulo, instituição que ficou conhecida por receber condenados de casos de grande repercussão no Brasil. Combinando drama, crime e jornalismo investigativo, a série recupera episódios que chocaram a opinião pública e investiga a vida de nomes como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e Alexandre Nardoni após a sentença. Guiada pelas investigações do jornalista Ulisses Campbell e pela direção de Vera Egito, a obra questiona o impacto da mídia, o funcionamento do sistema prisional e a tênue fronteira entre o retrato documental e a liberdade artística.
- O cenário real: Penitenciária II de Tremembé
- Investigação como ponto de partida
- Uma abordagem focada nas consequências
- A rotina por trás das grades
- Escalação de elenco e reconstrução de personagens
- Suzane von Richthofen: protagonista de uma narrativa pós-sentença
- Elize Matsunaga e Sandrão: complexidade de vínculo dentro da prisão
- A entrevista a Gugu Liberato recriada quadro a quadro
- Reação de envolvidos e conflito entre versões
- A questão financeira e a legislação brasileira
- Ausências notadas e foco narrativo
- Entretenimento, jornalismo e o desafio de retratar o real
O cenário real: Penitenciária II de Tremembé
Construída em 1948 e oficialmente chamada de Doutor José Augusto César Salgado, a Penitenciária II de Tremembé transformou-se, a partir de 2002, no destino de detentos classificados como “especiais”. A unidade não abriga integrantes de facções, mas sim condenados cujos processos ganharam destaque nacional, situação que exige rígido controle de segurança e vigilância constante. Ao longo dos anos, o local recebeu Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, Roger Abdelmassih, Alexandre Nardoni e outros nomes que voltam a aparecer, agora, no streaming.
Tremembé retrata celas com capacidade para até oito presos, oficinas de trabalho, aulas de teatro e demais atividades utilizadas para remição de pena. A série enfatiza a diferença entre essa estrutura e a superlotação que marca a maioria das penitenciárias brasileiras, apresentando ao público um cotidiano disciplinado, mas submetido a protocolos especiais devido à notoriedade dos internos.
Investigação como ponto de partida
Todos os episódios são baseados em dois livros-reportagem de Ulisses Campbell: “Suzane: Assassina e Manipuladora” e “Elize: A Mulher que Esquartejou o Marido”. O jornalista pesquisou autos processuais, entrevistou fontes ligadas aos casos e reuniu documentos inéditos. Essa apuração sustenta a narrativa audiovisual e garante que os fatos centrais permaneçam ancorados em registros oficiais. Campbell também assina o roteiro, o que assegura coerência entre a obra literária e sua adaptação.
Uma abordagem focada nas consequências
Ao contrário de produções que reconstroem passo a passo as cenas do crime, Tremembé desloca o foco para o período após o julgamento. A série pergunta o que ocorre com os condenados quando as câmeras se apagam e as manchetes mudam. Esse recorte investigativo permite examinar efeitos psicológicos, convívio entre presos famosos e estratégias de autopromoção ou autoproteção adotadas por pessoas que, fora dos muros, eram alvo de cobertura intensa.
A rotina por trás das grades
Entre os elementos mostrados estão a distribuição de tarefas nas oficinas, aulas de teatro como meio de reduzir a pena e normas internas específicas para preservar segurança e integridade física. A produção destaca ainda as restrições impostas a visitas e a forma como a administração penitenciária lida com figuras conhecidas, que, apesar da visibilidade, continuam sujeitas às mesmas regras formais de qualquer interno.
Escalação de elenco e reconstrução de personagens
Marina Ruy Barbosa interpreta Suzane von Richthofen, em sua primeira atuação após um vínculo de duas décadas com outra emissora. A escolha gerou comparações com representações anteriores da mesma figura, porém, na série, a atriz se concentra no período intramuros, fugindo da reconstituição pura e simples do crime original. Além dela, Bianca Comparato vive Anna Carolina Jatobá, Lucas Oradovschi interpreta Alexandre Nardoni, Felipe Simas e Kelner Macêdo ocupam os papéis dos irmãos Cravinhos, enquanto Anselmo Vasconcelos encarna Roger Abdelmassih.
Suzane von Richthofen: protagonista de uma narrativa pós-sentença
A personagem Suzane é retratada em fases que incluem adaptação à cela, relações com outras presas e tentativa de reconstruir a própria imagem fora das barras. A série exibe discussões que surgem em torno de entrevistas concedidas e de possíveis benefícios legais, destacando o interesse da mídia na trajetória de uma condenada que se tornou sinônimo de crime familiar no país.
Elize Matsunaga e Sandrão: complexidade de vínculo dentro da prisão
Carol Garcia assume o papel de Elize Matsunaga, condenada pelo assassinato e esquartejamento do marido. Tremembé dedica tempo dramático à relação entre Elize e Sandra Regina, a Sandrão, interpretada por Letícia Rodrigues. O enredo se baseia em relatos sobre um triângulo amoroso envolvendo Elize e Suzane, transformando o caso em um estudo sobre afeto, poder e sobrevivência em ambiente carcerário.
A entrevista a Gugu Liberato recriada quadro a quadro
Paulo Vilhena encarna Gugu Liberato na reconstrução da famosa entrevista exibida em rede nacional, na qual Suzane tenta demonstrar arrependimento diante das câmeras. Na série, o momento é utilizado para evidenciar a disputa entre narrativa pessoal e julgamento público, além de pontuar a influência que programas televisivos exercem na percepção social de casos criminais.
Reação de envolvidos e conflito entre versões
Depois da estreia, Cristian Cravinhos, também condenado no caso Richthofen, usou redes sociais para contestar a veracidade de várias cenas. Ulisses Campbell rebateu divulgando cartas trocadas na prisão e outros objetos que teriam embasado o roteiro. O embate ressuscitou o debate sobre os limites da dramatização de crimes reais e sobre a responsabilidade de produtores ao converter processos judiciais em entretenimento.
A questão financeira e a legislação brasileira
Uma dúvida recorrente diz respeito a eventuais pagamentos a detentos retratados. A legislação nacional impede que criminosos lucrem com a exploração econômica de seus atos, e qualquer quantia obtida pode ser bloqueada e revertida ao Estado ou às vítimas. Dessa forma, Tremembé foi produzida sem remuneração aos retratados, mantendo a obra dentro dos parâmetros legais de liberdade de expressão artística.
Ausências notadas e foco narrativo
Apesar de abordar figuras já instaladas na memória coletiva, a série deixa de fora outros presos de destaque que passaram por Tremembé II. Entre os ausentes mencionados estão o ex-jogador Robinho, condenado por estupro; Ronnie Lessa, acusado de envolvimento na morte de Marielle Franco; o Maníaco do Parque, sentenciado por múltiplos assassinatos; Thiago Brennand, condenado por estupro; e Edinho, filho de Pelé, condenado por lavagem de dinheiro. A exclusão desses nomes indica uma decisão de recorte, concentrando o roteiro em casos com forte apelo midiático já explorado por Ulisses Campbell nos livros.
Entretenimento, jornalismo e o desafio de retratar o real
Tremembé combina elementos de arquivo judicial, depoimentos e dramatização para ilustrar a tensão constante entre o registro factual e a liberdade criativa. Ao apresentar bastidores do sistema carcerário, a obra questiona que tipo de narrativa é construída quando crimes reais ganham versões audiovisuais e como a exposição prolongada de condenados interfere em sua reinserção social ou manutenção de fama.
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