Rússia reforça sistema “Mão Morta” e leva EUA a deslocar submarinos nucleares

O sistema nuclear russo conhecido por “Mão Morta”, ou Perimetr, voltou a destacar-se no xadrez geopolítico depois de Moscovo ameaçar recorrer ao dispositivo. A reação imediata de Washington, com a ordem de deslocação de submarinos nucleares para posições próximas da Rússia, sublinha o peso estratégico desta arma de retaliação automática.

O que é o sistema “Mão Morta”

Projectado na década de 1970 e operacional desde 1986, o Perimetr foi concebido para assegurar uma resposta nuclear mesmo que a cadeia de comando russa esteja destruída. O mecanismo pode ser activado manualmente ou iniciar-se autonomamente se detectar sinais de um ataque maciço contra o território russo.

Sensores instalados em centros de comando medem parâmetros como radiação, pressão sísmica e comunicações militares. Quando esses indicadores sugerem um ataque nuclear, o sistema inicia um protocolo em várias etapas:

  1. Envia alertas à liderança política e militar para uma decisão imediata.
  2. Se o presidente responder, a instrução é introduzida na plataforma.
  3. Caso falhe o contacto, o Perimetr consulta a maleta nuclear Cheget.
  4. Persistindo o silêncio, liga-se a centros de comando das Forças de Foguetes Estratégicos.
  5. Se nenhuma resposta é registada, autoriza automaticamente o lançamento de mísseis balísticos.

Durante o voo, esses mísseis servem de retransmissores, transmitindo códigos de disparo para silos e plataformas móveis espalhados pela Rússia, garantindo uma segunda vaga de ataques contra alvos predefinidos.

Motivações para a criação

O programa nasceu no auge da Guerra Fria, numa altura em que a União Soviética temia que um primeiro ataque dos Estados Unidos pudesse incapacitar totalmente a sua capacidade de resposta. A solução encontrada foi uma “máquina de retaliação” que assegurasse destruição mutuamente garantida, conceito central para o equilíbrio nuclear da época.

Relatórios do Centro para Análises Navais, nos Estados Unidos, indicam que a ativação operacional ocorreu em 1986, após anos de testes. Desde então, o sistema permaneceu essencialmente no núcleo da doutrina de dissuasão russa, embora os detalhes sobre upgrades tecnológicos não sejam públicos.

Reação dos Estados Unidos

A recente ameaça de utilização do Perimetr levou o então presidente norte-americano Donald Trump a ordenar, numa sexta-feira, o reposicionamento de submarinos nucleares em zonas próximas da Rússia. O objectivo, de acordo com fontes governamentais citadas pela imprensa norte-americana, é reforçar a prontidão para um eventual cenário de escalada.

Embora Washington mantenha sistemas próprios de alerta e resposta nuclear, a existência de um mecanismo automático como a “Mão Morta” eleva o risco de lançamento inadvertido, caso sensores interpretem dados de forma errada ou falhem as comunicações de última hora.

Funcionamento técnico e cadeia de comando

O Perimetr é composto por:

– Sensores ambientais: detectam luz térmica, radiação atmosférica e ondas de choque.
– Rede de comunicações dedicadas: liga centros de comando subterrâneos, silos e unidades móveis.
– Mísseis de comando: lançados para transmitir códigos de activação a outros vectores.
– Algoritmo de decisão: avalia sinais e verifica respostas da liderança antes de autorizar o disparo.

Especialistas em segurança nuclear alertam que qualquer falha técnica ou erro de leitura pode desencadear uma resposta irreversível, dado que o processo depende de múltiplos níveis de confirmação, mas termina com um ciclo totalmente automatizado se todos os contactos falharem.

Implicações para a segurança global

A combinação de sistemas automáticos e armas de destruição maciça relança o debate sobre controlo humano em decisões nucleares. Organizações internacionais têm defendido protocolos que garantam sempre a supervisão directa de líderes políticos, argumento que se torna mais premente diante de dispositivos como o “Mão Morta”.

Até ao momento, não há indícios públicos de que a Rússia tenha alterado o estado de prontidão do Perimetr. Contudo, a simples menção ao sistema tem demonstrado capacidade de influenciar movimentos militares dos Estados Unidos e de outros membros da NATO, evidenciando o papel que a retaliação automática continua a desempenhar na estratégia nuclear contemporânea.

Com a tensão entre grandes potências a manter-se elevada, o Perimetr surge como um lembrete de que a dissuasão nuclear assenta não apenas em ogivas, mas também em algoritmos que podem decidir o destino de milhões em questão de minutos.

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Imagem: Hamara via olhardigital.com.br

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