Rússia limita chamadas no Telegram e WhatsApp para travar crimes digitais
A autoridade reguladora das comunicações russa, Roskomnadzor, anunciou esta quarta-feira que impôs restrições às chamadas de voz e vídeo nos serviços Telegram e WhatsApp. Segundo o organismo, a medida pretende dificultar atividades de sabotagem, terrorismo, fraude e extorsão que estariam a ser coordenadas através destas plataformas.
Escopo e condições da restrição
De acordo com o regulador, a limitação incide apenas sobre as funcionalidades de chamada; as restantes formas de comunicação, como envio de mensagens de texto, ficheiros ou imagens, permanecem operacionais. O Ministério do Desenvolvimento Digital acrescentou que a suspensão será revista assim que os operadores das aplicações cumprirem os requisitos previstos na legislação russa para cooperação com investigações criminais.
Roskomnadzor afirma ter contactado anteriormente os responsáveis pelo Telegram e pelo WhatsApp — controlado pela Meta — exigindo a adoção de mecanismos de bloqueio de canais e contas associados a práticas ilícitas. Face à alegada falta de resposta, o governo decidiu avançar com o bloqueio parcial.
Justificação oficial e impacto económico
Rifat Sabitov, vice-presidente do Conselho Público do Ministério do Desenvolvimento Digital, declarou que a decisão pretende proteger os utilizadores e a infraestrutura nacional de informação. O responsável acusa as empresas de “ignorar repetidamente” solicitações formais de remoção de conteúdos maliciosos e aponta alegados “padrões duplos”, referindo que as plataformas colaboram com serviços de inteligência de outros países, mas não com as autoridades russas.
Segundo Sabitov, o prejuízo causado por esquemas de fraude ligados às duas aplicações superou 85 mil milhões de rublos (cerca de 5,7 mil milhões de euros) entre janeiro e maio. No mesmo período, o número de cidadãos russos visados por burlas via WhatsApp terá aumentado 3,5 vezes face ao ano anterior.
Resposta das empresas
Em nota enviada à agência estatal TASS, o Telegram afirmou estar a “combater de forma ativa” o uso indevido do serviço. A empresa explica que uma combinação de moderadores humanos e ferramentas de inteligência artificial analisa continuamente os espaços públicos da plataforma, removendo diariamente milhões de mensagens consideradas fraudulentas ou que incitam à violência. Até ao momento, a Meta não se pronunciou sobre o bloqueio parcial aplicado ao WhatsApp.
Avisos de especialistas
Analistas citados pela TASS alertam que a contenção das chamadas poderá gerar “falsa sensação de segurança” entre os utilizadores. Maria Sergeyeva, do grupo de testes sociais e técnicos da empresa Bastion, considera provável que operadores de esquemas ilícitos migrem para aplicações menos populares ou criem novos métodos de contacto. Já Kirill Levkin, gestor de projetos da MD Audit, lembra que as restrições não eliminam outras vias de aproximação, como correio eletrónico ou redes sociais, salientando a importância de literacia digital e vigilância individual.
Próximos passos
O governo russo não avançou prazos para reavaliar a medida. A Roskomnadzor sublinha que a normalização das chamadas depende da implementação, por parte do Telegram e da Meta, de mecanismos considerados adequados para identificar e bloquear contas envolvidas em criminalidade. Até lá, os utilizadores na Rússia continuarão impedidos de realizar chamadas através das duas plataformas, ainda que as comunicações por texto se mantenham disponíveis.

Imagem: DenPhotos via olhardigital.com.br