Rússia acelera plano nacional de terras raras para reduzir dependência da China e avançar em tecnologias de ponta

Rússia acelera plano nacional de terras raras para reduzir dependência da China e avançar em tecnologias de ponta

Quem: o governo da Federação Russa, por determinação do presidente Vladimir Putin, mobiliza ministérios, agências de mineração e parceiros da iniciativa privada.

O quê: elaboração, até 1.º de dezembro, de um plano de longo prazo para extração, refino e comercialização de terras raras — grupo de 17 elementos essenciais a ímãs, semicondutores, baterias e turbinas eólicas.

Quando: o prazo limite estabelecido pelo Kremlin termina no início de dezembro, mas a estratégia tem caráter continuado, mirando a próxima década.

Onde: jazidas russas distribuídas em diferentes regiões do país serão mapeadas para exploração. O plano também envolve instalações de refino que ainda precisam ser ampliadas ou construídas.

Como: por meio de investimentos públicos, incentivos a parcerias estrangeiras e modernização da infraestrutura, apesar das sanções econômicas que restringem o acesso a equipamentos ocidentais.

Por quê: Moscou busca reduzir a dependência de matérias-primas chinesas, diversificar a economia concentrada em petróleo e gás e conquistar posição de destaque numa cadeia global avaliada como uma das mais lucrativas do século XXI.

Índice

Cenário global das terras raras

As terras raras compreendem os 15 lantanídeos mais o escândio e o ítrio. Embora não sejam escassas na crosta terrestre, aparecem em baixas concentrações, exigindo processos de mineração complexos e custosos. A elevada condutividade, o magnetismo e a luminescência desses metais tornaram-nos indispensáveis a tecnologias modernas que incluem veículos elétricos, smartphones, sistemas de energia renovável e equipamentos médicos.

O domínio do mercado está hoje nas mãos da China, responsável por cerca de 70 % da produção global, segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos. O controle chinês não se limita à extração: o país concentrou investimentos pesados nas etapas subsequentes de separação química e refino, consolidando uma posição quase monopolista.

Os Estados Unidos tentam reagir por motivos estratégicos, já que a cadeia de produção de semicondutores, defesa e mobilidade elétrica depende desses insumos. Nesse espaço competitivo surgem outros atores, entre eles Rússia e Brasil, que possuem reservas consideráveis, mas ainda ocupam fatias mínimas do mercado.

Participação russa: grande reserva, produção modesta

Apesar do potencial geológico, a Rússia responde por somente 0,64 % da oferta mundial. O fosso entre capacidade de extração e participação efetiva explica a rapidez imposta ao plano nacional. Sem infraestrutura adequada de beneficiamento, as jazidas permanecem subaproveitadas, e o país compra produtos refinados de fornecedores externos, especialmente da China.

Autoridades russas enxergam nas terras raras a oportunidade de diversificar a economia, minimizando a dependência de petróleo e gás — setores pressionados pela transição energética global. A atração de capital externo, entretanto, é dificultada por sanções internacionais relacionadas ao conflito na Ucrânia. Essas restrições limitam trocas tecnológicas, dificultam o financiamento e, em alguns casos, impedem a importação de equipamentos de separação química.

Metas e diretrizes do plano a ser concluído

A determinação presidencial abrange três eixos principais. O primeiro é o levantamento detalhado de reservas para definir prioridade de licenciamento. O segundo envolve a criação ou ampliação de usinas de processamento capazes de realizar as etapas de refino que hoje concentram valor agregado. O terceiro prevê incentivos econômicos, como subsídios, redução de impostos e garantias de compra para atrair ao menos parte do capital privado necessário.

Embora a mineração seja considerada a fase mais simples, o processo de separação exige domínio de técnicas químicas de alta precisão, controle ambiental rigoroso e mão de obra especializada. A China consolidou vantagem justamente nesse ponto, operando plantas integradas que entregam óxidos, metais e ligas prontos para uso industrial.

Disputa geopolítica: restrições e contramedidas

Em meio à chamada “guerra dos chips”, Pequim anunciou restrições à exportação de certas terras raras, estabelecendo que empresas interessadas em vender ao exterior necessitem de licenças especiais. A medida foi apresentada como proteção da segurança nacional, porém analistas enxergam nela uma resposta a sanções norte-americanas contra a indústria chinesa de semicondutores. O movimento ampliou a percepção de risco na cadeia global e estimulou esforços paralelos de países que dependem desses materiais.

Para Moscou, o contexto cria um incentivo adicional. Caso consiga elevar rapidamente a produção e dominar o refino, a Rússia pode tornar-se fornecedora alternativa e ganhar margem de negociação em outros campos da política externa. Ainda assim, especialistas ponderam que o país parte atrasado: enquanto a China consolidou a cadeia em quatro décadas, a Rússia busca acelerar em poucos anos.

Desafios tecnológicos e ambientais

O processamento de terras raras gera resíduos químicos que precisam de tratamento adequado para não contaminar solo e água. A construção de instalações seguras demanda investimentos elevados e rígida regulação ambiental. Nesse ponto, a Rússia enfrenta a necessidade de equilibrar rapidez de implementação com padrões de sustentabilidade, sob escrutínio de potenciais compradores internacionais que valorizam cadeias de suprimento responsáveis.

Também pesa a escassez de equipamentos de alta precisão fabricados em países sob sanções. A busca por fornecedores alternativos poderá envolver parcerias com economias da Ásia e do Oriente Médio menos sujeitas a restrições ocidentais. Ainda assim, a integração desses sistemas a parâmetros industriais globais representa desafio complexo.

Comparativo com a situação brasileira

O Brasil detém a segunda maior reserva de terras raras, estimada em 21 milhões de toneladas, distribuídas sobretudo em Minas Gerais, Goiás, Amazonas, Bahia e Sergipe. Apesar desse volume, a produção brasileira em 2024 ficou em 20 toneladas, menos de 1 % do total mundial. O entrave principal é semelhante ao russo: dependência de tecnologia estrangeira para refino.

Um marco recente foi a inauguração de uma fábrica em Aparecida de Goiânia dedicada ao processamento de argila iônica para obtenção de elementos utilizados em ímãs de alto desempenho. A planta atinge pureza superior a 95 %, sinalizando que o país busca reduzir o descompasso entre reserva geológica e produção efetiva.

Tanto Brasil quanto Rússia se posicionam, portanto, como fornecedores potenciais em um mercado dominado pela China. O sucesso de qualquer um deles dependerá do avanço na etapa de valor agregado, o que passa por transferência de tecnologia, investimentos contínuos e garantia de mercado consumidor.

Perspectivas de mercado e transição energética

A demanda por terras raras cresce à medida que economias desenvolvidas e emergentes intensificam metas de neutralidade de carbono. Turbinas eólicas utilizam ímãs permanentes à base de neodímio; motores de veículos elétricos exigem disprósio e térbio; catalisadores de refino de petróleo dependem de cério e lantânio. Com a diversificação de fontes renováveis, o consumo desses elementos tende a aumentar.

Nesse cenário, países que controlarem reservas e refino podem conquistar não apenas receitas expressivas, mas vantagem estratégica sobre cadeias industriais altamente dependentes. A Rússia avalia que, ao ocupar espaço vago entre grandes consumidores, poderá diluir a preponderância chinesa e negociar em melhores termos com parceiros do Ocidente e da Ásia.

Contudo, prazos curtos e contexto geopolítico adverso impõem incertezas. A obtenção de licenças ambientais, a construção de plantas químicas e o domínio de rotas tecnológicas raramente se completam em menos de dois a três anos, mesmo em ambientes estáveis. A meta de apresentar plano até dezembro é apenas o primeiro passo de um percurso longo.

Conclusões embutidas nos próprios fatos

O movimento russo ilustra a corrida global por insumos críticos em setores de alto valor tecnológico. Enquanto a China consolida liderança e os Estados Unidos buscam alternativas, Rússia e Brasil tentam converter reservas abundantes em presença significativa na cadeia de produção. A velocidade com que Moscou superar barreiras de financiamento, tecnologia e confiabilidade determinará se o país conseguirá, de fato, reduzir a dependência externa e inserir-se como fornecedor relevante de terras raras nas próximas décadas.

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