Relatório da ONU projeta aquecimento global de até 2,5 °C sob compromissos climáticos atuais

Relatório da ONU projeta aquecimento global de até 2,5 °C sob compromissos climáticos atuais

O mais recente Relatório sobre a Lacuna de Emissões, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), aponta que o planeta se encaminha para um aumento de temperatura entre 2,3 °C e 2,5 °C até o final do século. A constatação decorre da análise atualizada das promessas nacionais registradas no âmbito do Acordo de Paris. Ainda que o estudo mostre ligeira melhora em relação à projeção anterior, que variava de 2,6 °C a 2,8 °C, o quadro permanece distante da meta internacional de limitar o aquecimento a 1,5 °C.

Índice

Escopo e metodologia do levantamento

O documento reúne dados de emissões de gases de efeito estufa referentes a 2024, cotejando‐os com as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) submetidas pelos governos. O relatório calcula cenários futuros e utiliza modelos capazes de projetar o impacto agregado dessas políticas ao longo de décadas. A melhoria de 0,1 °C na previsão resulta, em grande parte, de ajustes metodológicos e da anunciada retirada dos Estados Unidos do próprio acordo, fator que reduz outro 0,1 °C por alterar a contabilidade de cortes prometidos.

Compromissos climáticos: quem já atualizou metas

Entre os 195 signatários do tratado climático, apenas 60 países — responsáveis coletivamente por 63 % das emissões globais — protocolaram metas revisadas para 2035. Isso significa que pouco mais de um terço das nações contemplou a janela temporal além de 2030, deixando lacunas consideráveis no planejamento mundial de descarbonização. No grupo das economias que apresentaram novos objetivos, variam tanto a ambição quanto a clareza sobre mecanismos de execução.

Trajetória de emissões e números globais

As emissões planetárias somaram 57,7 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente em 2024, cifra 2,3 % superior à registrada no ano anterior. Segundo o relatório, o patamar atual estabelece um desafio de grande magnitude: para alinhar a curva ao limite de 1,5 °C, seria necessário cortar 40 % dessas emissões até 2030, tomando 2019 como base. Entretanto, caso todas as promessas vigentes fossem plenamente executadas, o resultado seria uma redução de apenas 15 % até 2035, valor insuficiente para alterar o quadro de sobreaquecimento.

Inflexão acima de 1,5 °C já é considerada inevitável

A análise do PNUMA indica que a temperatura média global ultrapassará 1,5 °C em relação aos níveis pré‐industriais durante a próxima década. Mesmo os cortes de emissões implementados de imediato não impedirão esse desvio temporário. O ponto ainda pode ser mitigado em duração e intensidade, mas não totalmente evitado, segundo os autores do estudo. As consequências desse excedente incluem riscos mais elevados de eventos climáticos extremos, embora o relatório não especifique detalhes setoriais.

Rota alternativa proposta pelo relatório

Para minimizar a “ultrapassagem” e retornar a 1,5 °C até 2100, o PNUMA descreve um caminho que exige ação rigorosa a partir de 2025. Nesse cenário, os cortes de emissões alcançariam 26 % até 2030 e 46 % até 2035, sempre comparados a 2019. A adoção desse itinerário reduziria o pico de aquecimento adicional a 0,3 °C antes de iniciar trajetória descendente. O estudo sublinha que tecnologias já disponíveis, como geração solar e eólica, oferecem viabilidade técnica, dependente de vontade política e de financiamento ampliado aos países em desenvolvimento.

Papel decisivo do G20

Os integrantes do G20 respondem por 77 % das emissões totais e, portanto, possuem influência determinante sobre qualquer rota global de mitigação. Apenas sete membros desse bloco submeteram NDCs estendidas até 2035. Paralelamente, as emissões do grupo cresceram 0,7 % em 2024, movimento que contraria a necessidade de declínio rápido. A lacuna entre a responsabilidade histórica e a ação efetiva permanece um dos principais obstáculos apontados pelo relatório.

Metas brasileiras no contexto do estudo

O Brasil figura entre os países que atualizaram compromissos climáticos. A meta declarada consiste em reduzir emissões de gases de efeito estufa em 53 % até 2030 e alcançar neutralidade de carbono até 2050. Esses objetivos, se cumpridos, contribuem para o esforço global, mas ainda não alteram de forma substantiva a trajetória coletiva quando observados ao lado de compromissos de outras grandes economias. O relatório não apresenta avaliação individualizada da estratégia brasileira, mas coloca o país dentro do conjunto de 60 nações com metas para 2035.

Impacto desigual do aquecimento global

O estudo ressalta que as repercussões do clima mais quente incidirão com maior intensidade sobre países de menor renda, que historicamente emitem menos. A combinação de vulnerabilidade socioeconômica e recursos limitados para adaptação agrava o potencial de perdas econômicas nessas regiões. Ainda que a análise não detalhe setores ou valores monetários, o texto deixa claro que há assimetria entre responsabilidade pelas emissões e consequências sofridas.

Emissões persistentes e tentativas falhas anteriores

Desde a assinatura do Acordo de Paris, a comunidade internacional teve três oportunidades de revisar e fortalecer seus compromissos. O PNUMA observa que em todas as rodadas o conjunto de metas submetidas ficou aquém do necessário para colocar o mundo na trajetória de 1,5 °C. A avaliação considera não apenas a magnitude dos cortes prometidos, mas também a capacidade de implementação visível em políticas domésticas, incentivos e regulamentações efetivas.

A janela de oportunidade estreita

Embora o relatório descreva um quadro preocupante, também aponta que ainda existe chance de evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. Essa abertura, porém, está se reduzindo rapidamente em virtude da continuidade do crescimento das emissões e da demora na adoção de medidas estruturais. A visão de que cada fração de grau importa sustenta o argumento de intensificar a ação já nesta década, no lugar de postergar ajustes para períodos posteriores.

Disponibilidade tecnológica versus vontade política

Energias renováveis, particularmente solar e eólica, são citadas pelo PNUMA como soluções prontas para expansão em larga escala. O estudo reforça que o obstáculo principal não reside mais na maturidade tecnológica, mas na combinação de políticas públicas, modelo de financiamento e cooperação internacional. O incremento de apoio financeiro a países em desenvolvimento é apresentado como condição para acelerar a transição energética e conter o aquecimento dentro dos limites desejados.

Ponte para a COP30 em Belém do Pará

A divulgação do relatório antecede a 30.ª Conferência das Partes (COP30), marcada para ocorrer em Belém do Pará entre 10 e 21 de novembro. A expectativa é de que o encontro refine mecanismos de implementação do Acordo de Paris e exerça pressão sobre governos para apresentar compromissos mais ambiciosos e detalhados. O conteúdo do estudo serve de base técnica para as negociações, delineando tanto o risco de inação quanto as margens de manobra ainda disponíveis.

Perspectivas imediatas

Com a projeção de que o aquecimento temporário acima de 1,5 °C comece, no mais tardar, no início da década de 2030, o relatório ressalta a urgência de acelerar cortes de emissões. A meta de 40 % até 2030, indicada como condição mínima para manter viva a ambição de 1,5 °C, evidencia o descompasso entre promessas correntes e exigências científicas. O PNUMA reforça que zerar emissões líquidas na metade do século continua sendo diretriz central, mas somente será alcançada se países ampliarem o ritmo de ação já nos próximos dois anos.

zairasilva

Olá! Eu sou a Zaira Silva — apaixonada por marketing digital, criação de conteúdo e tudo que envolve compartilhar conhecimento de forma simples e acessível. Gosto de transformar temas complexos em conteúdos claros, úteis e bem organizados. Se você também acredita no poder da informação bem feita, estamos no mesmo caminho. ✨📚No tempo livre, Zaira gosta de viajar e fotografar paisagens urbanas e naturais, combinando sua curiosidade tecnológica com um olhar artístico. Acompanhe suas publicações para se manter atualizado com insights práticos e interessantes sobre o mundo da tecnologia.

Conteúdo Relacionado

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Go up

Usamos cookies para garantir que oferecemos a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você está satisfeito com ele. OK