Rede elétrica subterrânea ganha destaque após vendaval de 96 km/h derrubar fornecimento em São Paulo

Rede elétrica subterrânea volta ao centro das discussões sobre infraestrutura depois que um vendaval com rajadas de até 96 km/h, registrado na quarta-feira, 10, expôs novamente a vulnerabilidade da rede aérea e gerou um blecaute de grandes proporções na Região Metropolitana de São Paulo. Às 19h29 da quinta-feira, 11, mais de 1,3 milhão de unidades consumidoras ainda estavam sem eletricidade, o que representa cerca de 15 % das ligações atendidas pela concessionária local. Sem prazo para recuperação total, o episódio reacendeu a pergunta: enterrar cabos é solução viável para reduzir impactos de eventos climáticos extremos?
- Vendaval de 96 km/h expõe fragilidade da rede aérea em São Paulo
- Apagão atinge 1,3 milhão de imóveis e paralisa serviços essenciais
- Rede elétrica subterrânea: conceito e etapas de operação
- Benefícios da rede elétrica subterrânea frente a ventos e chuvas
- Custos e desafios na expansão da rede elétrica subterrânea
- Soluções imediatas: redes compactas e religadores automáticos
Vendaval de 96 km/h expõe fragilidade da rede aérea em São Paulo
O “quem” deste acontecimento é a população da Grande São Paulo, especialmente moradores da capital, que enfrentaram interrupções abruptas na rotina quando rajadas de 96 km/h derrubaram estruturas da rede de distribuição. O “o quê” concentra-se na destruição física: queda de postes, rompimento de cabos e avarias em transformadores espalhados por diferentes bairros. O cenário tornou-se ainda mais crítico porque os ventos continuaram na quinta-feira, gerando aproximadamente 300 mil novos chamados de emergência à distribuidora.
O “quando” está demarcado em dois dias decisivos: a quarta-feira em que a tempestade se instalou e a quinta-feira em que a extensão do dano ficou evidente. O “onde” engloba não apenas a capital, mas toda a região metropolitana, área densamente povoada e com alta dependência de serviços eletrointensivos.
Apagão atinge 1,3 milhão de imóveis e paralisa serviços essenciais
Hospitais, escolas, sistemas de semáforos, abastecimento de água e modais de transporte foram diretamente impactados pela interrupção elétrica. Cada setor sofre com o “como” da falha: salas de emergência precisam acionar geradores, aulas são canceladas, cruzamentos perdem sinalização luminosa, bombas de estações elevatórias deixam de operar e linhas de metrô ou trens veem a circulação restringida. O “porquê” dessa abrangência está na dependência generalizada da eletricidade em áreas urbanas avançadas.
Segundo a distribuidora, a reparação, em muitos pontos, exige a reconstrução completa da rede. Isso significa substituir postes quebrados, reinstalar transformadores danificados e reconduzir quilômetros de cabos. Trata-se de um processo que demanda tempo, pessoal especializado e condições climáticas favoráveis, fatores que prolongam o restabelecimento.
Rede elétrica subterrânea: conceito e etapas de operação
Diante da repetição de danos causados por vento, chuva e queda de árvores, a rede elétrica subterrânea aparece como alternativa. No modelo enterrado, cabos trafegam por dutos ou galerias abaixo do nível do solo, envoltos por materiais isolantes capazes de resistir à umidade e à abrasão. O percurso segue três etapas:
1) A energia sai das usinas de geração e percorre linhas de alta tensão instaladas em torres afastadas de áreas urbanas. 2) Ao chegar às subestações, passa por transformadores que reduzem a tensão para níveis médios ou baixos. 3) Dos transformadores, segue por cabos subterrâneos até os pontos de consumo, protegida por equipamentos de seccionamento, sensores de monitoramento remoto e câmaras de inspeção.
Nos centros históricos de grandes cidades, como o distrito central de São Paulo, essa configuração já é realidade. Embora menos exposta a ventos e quedas de árvores, a malha subterrânea requer planejamento detalhado para manutenção, envolvendo ventilação adequada e acesso restrito a galerias.
Benefícios da rede elétrica subterrânea frente a ventos e chuvas
O principal “porquê” para considerar o enterramento é a confiabilidade. Cabos protegidos no subsolo ficam fora do alcance de galhos, descargas atmosféricas diretas e esbarrões de veículos altos. Além disso, reduzem a poluição visual e liberam espaço aéreo. Em situações como o vendaval paulista, a chance de interrupção seria sensivelmente menor, poupando custos indiretos decorrentes do desligamento de serviços críticos.
Outra vantagem é a redução de curtos-circuitos causados por contato entre condutores sem isolamento, cenário frequente na rede convencional sustentada por cruzetas no alto de postes. Ventos fortes balançam cabos e podem aproximá-los, gerando faíscas. No sistema subterrâneo, cada conductor é isolado individualmente, mitigando esse risco.
Custos e desafios na expansão da rede elétrica subterrânea
Apesar dos ganhos, adotar rede elétrica subterrânea envolve barreiras. Estudos citados por especialistas apontam que a implantação chega a custar dez vezes mais que a rede aérea. A execução requer escavações, interdição de ruas, uso de maquinário pesado e coordenação com outras infraestruturas subterrâneas, como água, esgoto e telecomunicações. Isso torna o processo demorado e dependente de planejamento de longo prazo.
A manutenção também muda de natureza. Quando há falha em um cabo enterrado, a localização exata do ponto de defeito pode exigir instrumentos específicos e acesso controlado às galerias. Além disso, profissionais enfrentam riscos como altas temperaturas e presença de animais peçonhentos no subsolo, fatores que demandam equipamentos de proteção e protocolos rigorosos de segurança.
Cidades como Nova York e Paris adotaram essa estrutura após projetos graduais. Para São Paulo, especialistas defendem a mesma estratégia: escolher trechos prioritários e enterrar alguns quilômetros de cabos por ano. Ao final de décadas, a malha poderia migrar consideravelmente para baixo da terra, diminuindo a exposição aos eventos climáticos.
Soluções imediatas: redes compactas e religadores automáticos
Enquanto o enterramento total não avança, há meios de fortalecer a rede aérea. Um deles é a adoção de redes compactas. Essas linhas utilizam cabos dispostos mais próximos entre si e, em alguns casos, parcialmente isolados, reduzindo a possibilidade de o vento causar contato direto e curtos. A estrutura torna-se menos suscetível a galhos soltos e apresenta visual mais organizado.
Complementarmente, a automação com religadores eletrônicos permite manobras remotas. Quando um curto-circuito temporário ocorre, o dispositivo desliga o trecho afetado e tenta reconectar automaticamente após poucos segundos. Se o problema desaparece, o fornecimento volta sem intervenção humana; se persiste, o religador mantém o setor isolado, evitando danos maiores.
Essa tecnologia também possibilita transferir cargas. Caso uma árvore atinja cabos em determinado quarteirão, a parte do circuito que permanece íntegra pode ser redirecionada para outro alimentador, minimizando o número de consumidores prejudicados. Esse procedimento, realizado em segundos, reduz tanto a duração quanto a área do apagão.
Redes compactas e automação exigem investimentos menores do que a construção subterrânea integral e podem ser implementadas em prazos mais curtos. Dessa forma, servem como medida de mitigação enquanto políticas de longo prazo para enterramento avançam.
Até que a concessionária conclua a reconstrução completa da rede danificada pelo vendaval e restabeleça o fornecimento aos 1,3 milhão de imóveis remanescentes, a discussão sobre modernizar a infraestrutura elétrica — seja por meio de redes compactas ou pela expansão da rede elétrica subterrânea — permanecerá em evidência, impulsionando avaliações de custo, viabilidade técnica e cronogramas para futuras etapas de instalação.

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