Reconhecimento do Estado Palestino divide Cisjordânia

Reconhecimento do Estado Palestino pelo Reino Unido, França e outros aliados ocidentais reacendeu a esperança de autonomia na Cisjordânia ocupada, mas também elevou o receio de uma anexação israelense ainda mais agressiva.

Em Jenin, onde tropas israelenses permanecem desde janeiro, moradores como Abdel Aziz Majarmeh lamentam a perda de familiares e denunciam a continuidade das operações militares. O filho dele, Islam, de 13 anos, foi morto este mês perto do campo de refugiados enquanto pai e filho tentavam recuperar documentos da casa da família.

Reconhecimento do Estado Palestino divide Cisjordânia

Autoridades locais avaliam que cerca de 40% de Jenin já se transformou em zona militar, com um quarto da população deslocada. Para o prefeito Mohammed Jarrar, o apoio diplomático europeu “confirma a existência de um Estado palestino, ainda que ocupado”, mas pode ser seguido por avanço israelense sobre o território.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reiterou que “não haverá Estado palestino” e reforçou a expansão de assentamentos. Seu ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, apresentou plano para anexar 82% da Cisjordânia, isolando enclaves palestinos. A organização Peace Now contabiliza mais de 100 novos postos de colonos nos últimos dois anos, violando o direito internacional e, muitas vezes, a própria lei israelense.

Em Burin, próximo a Nablus, o agricultor Ayman Soufan relata ameaças diárias de colonos vindos do assentamento de Yitzhar. Segundo ele, a construção de um novo outpost na colina vizinha visa forçar sua família a abandonar a casa erguida após a guerra de 1967. “Se eu sair daqui, será carregado morto”, resume.

Além da pressão territorial, a Autoridade Palestina enfrenta bloqueio financeiro: Israel retém impostos que seriam usados para pagar servidores, alegando que o governo palestino recompensava famílias de militantes. Ramallah afirma ter encerrado o programa, mas o estrangulamento fiscal prossegue, comprometendo serviços básicos e aumentando a emigração juvenil.

Analistas recordam que as cidades palestinas deveriam avançar rumo à soberania após os Acordos de Oslo, assinados há 30 anos. O prolongamento da ocupação e a escalada de violência, porém, minaram a confiança nas negociações. Para muitos palestinos, o reconhecimento europeu representa uma vitória simbólica, mas insuficiente para alterar “os fatos no terreno” estabelecidos por Israel.

Enquanto isso, o conflito em Gaza mantém a região em alerta. Segundo o portal da BBC, países europeus pressionam por cessar-fogo e retorno às tratativas de dois Estados, ideia cada vez mais distante para o governo israelense.

No saldo, a divergência entre Tel Aviv e seus antigos parceiros europeus torna-se mais visível: as chancelarias buscam criar um “fato político” que contraponha a expansão de assentamentos. Se conseguirá conter a anexação ou apenas acirrar tensões, permanece incerto.

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Crédito da imagem: Reuters

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