Reclamações sobre falta de água e energia cercam complexo de data centers da Microsoft no México

Moradores de pequenas cidades do estado mexicano de Querétaro afirmam que a rotina de apagões e a redução no abastecimento de água ganharam força depois da inauguração de um complexo de data centers da Microsoft. A big tech nega qualquer vínculo entre suas instalações e os transtornos relatados.
- Localização e início das reclamações
- Quem está envolvido
- O que mudou na rotina local
- Crise hídrica e impactos sanitários
- Argumentos apresentados pelos moradores
- Posicionamento da Microsoft
- Posicionamento das autoridades mexicanas
- Recorrência de queixas em outras regiões
- Alta demanda de energia e água como fator de tensão
- Próximos passos aguardados pela população
Localização e início das reclamações
O complexo de servidores foi erguido em uma área de Querétaro situada próxima à fronteira com os Estados Unidos. Desde que as primeiras estruturas começaram a funcionar, residentes de localidades vizinhas relatam interrupções frequentes tanto no fornecimento de luz quanto no de água. Esses relatos se intensificaram ao longo do último ano, coincidindo com a expansão das instalações.
Antes da chegada dos data centers, segundo os moradores, os cortes no suprimento de serviços básicos eram pontuais. Depois da construção, tornaram-se, nas palavras de diversos entrevistados pelo The New York Times, um elemento quase permanente do cotidiano. A recorrência dos problemas provocou mobilização de comunidades rurais, indígenas e profissionais de saúde que pedem explicações às autoridades regionais sobre a real capacidade de infraestrutura elétrica e hídrica da região.
Quem está envolvido
Entre os atores centrais do episódio estão os residentes das vilas afetadas, profissionais de saúde que atuam nas clínicas locais e grupos indígenas que dependem de uma nascente para atividades agrícolas e de criação de animais. Do lado corporativo, aparece a Microsoft, proprietária do complexo, representada por seu vice-presidente corporativo para data centers na América, Bowen Wallace. Já no campo institucional mexicano figuram a empresa nacional de energia, responsável pela rede elétrica, e o diretor de desenvolvimento industrial de Querétaro, Alejandro Sterling.
Os moradores, preocupados com a recorrência das falhas, apontam a operação dos servidores como causa principal. Profissionais de saúde, como o médico Victor Bárcenas, reforçam as críticas ao afirmar que as adversidades no abastecimento afetam diretamente condições sanitárias e o atendimento clínico. A Microsoft, por sua vez, contesta o nexo causal, sustentando que os transtornos precedem sua chegada.
O que mudou na rotina local
Segundo relatos, os apagões prolongados têm provocado perda de alimentos e medicamentos refrigerados, danificado computadores e outros equipamentos eletrônicos e interrompido serviços básicos que dependem de energia. As falhas também comprometem o acesso à internet e a comunicação móvel, fundamentais inclusive para acionar emergências médicas.
No departamento educacional, escolas foram obrigadas a suspender aulas temporariamente diante da falta de energia e de água, reduzindo o calendário letivo. Clínicas precisaram atender pacientes em condições precárias, sem iluminação adequada ou instrumentos esterilizados. Casos mais graves, relatam profissionais, exigiram transferência urgente para hospitais de outras cidades.
Crise hídrica e impactos sanitários
A ausência de um suprimento estável de água foi associada a um surto de hepatite na vila de La Esperanza, que alcançou aproximadamente 50 moradores durante o último verão. O médico Victor Bárcenas atribui o avanço da doença às falhas de higiene básica: com a torneira seca, lavar as mãos ou utensílios se tornou tarefa difícil, criando ambiente propício à disseminação do vírus.
Famílias que cultivam hortas ou criam animais relatam prejuízos diretos. A nascente que abastecia as comunidades foi cercada, e muitos passaram a depender de caminhões-pipa contratados a custo próprio. A despesa mensal, segundo os residentes, soma-se a perdas na produção agrícola, aumentando a vulnerabilidade econômica de quem vive do cultivo de subsistência.
Argumentos apresentados pelos moradores
A população local sustenta que a operação dos data centers demanda grandes volumes de eletricidade e de água para resfriar equipamentos. Nesse raciocínio, a prioridade dada à infraestrutura tecnológica reduziria a disponibilidade dos mesmos recursos para a comunidade. Alguns habitantes imputam responsabilidades também aos governos estaduais, acusados de negociar benefícios apenas com a gigante tecnológica, sem contrapartidas sociais que garantam o abastecimento da região.
Entre as críticas mais frequentes está a percepção de que “toda a eletricidade” é desviada para manter os servidores ativos, deixando residências e estabelecimentos à mercê de quedas abruptas. A sensação de injustiça é ampliada pela escala do investimento, descrito como milionário, enquanto as localidades próximas não observam melhorias tangíveis em sua rede de serviços essenciais.
Posicionamento da Microsoft
Em nota enviada após a publicação das denúncias, a Microsoft afirmou não ter encontrado qualquer evidência de que suas instalações contribuam para os apagões ou para a escassez de água em Querétaro. O vice-presidente corporativo para data centers na América declarou que a companhia “sempre priorizará as necessidades básicas da comunidade” e que os centros utilizam “quantidades mínimas” de água para resfriamento, além de uma carga de eletricidade considerada não tão grande.
A multinacional também defendeu que as interrupções relatadas antecedem o início das operações. Ao enfatizar uma análise interna “profunda”, a empresa tentou dissociar a imagem do complexo de qualquer agravamento na infraestrutura local, argumentando que seus processos se pautam por critérios de eficiência e responsabilidade.
Posicionamento das autoridades mexicanas
A empresa nacional de energia do México atribuiu os recentes apagões a tempestades e ao contato de animais com equipamentos da rede elétrica. O órgão não relacionou as falhas ao consumo do complexo de servidores. Já o diretor de desenvolvimento industrial de Querétaro, Alejandro Sterling, minimizou as queixas, reforçando que as instalações não desperdiçam água.
As declarações oficiais contrastam com a experiência cotidiana dos moradores, que continuam reportando oscilações e interrupções repetidas. A divergência de versões gera um impasse: de um lado, a população pede transparência sobre o real impacto do empreendimento; de outro, tanto a companhia quanto órgãos estatais reafirmam não haver conexão direta entre os centros de dados e as carências sentidas.
Recorrência de queixas em outras regiões
O caso de Querétaro não é isolado. Situações semelhantes foram registradas na África do Sul, onde a falta de luz, já frequente, teria piorado após a inauguração de grandes estruturas dedicadas ao treinamento de modelos de inteligência artificial. O mesmo tipo de preocupação foi notado em países como Grã-Bretanha, Espanha, Índia, Malásia, Chile, Irlanda e Brasil, todos citados pela reportagem do The New York Times.
Nesses locais, comunidades vizinhas a empreendimentos de computação em nuvem e centros de dados também alegam sobrecarga nos sistemas elétricos e hídricos. A variedade geográfica das reclamações indica que a discussão sobre o equilíbrio entre infraestrutura digital e necessidades básicas ganha contornos internacionais, ainda que cada governo adote explicações e medidas diferentes.
Alta demanda de energia e água como fator de tensão
As próprias características de funcionamento dos data centers — compostos por servidores e equipamentos de rede — fazem com que sejam reconhecidos inclusive pelos operadores como instalações de “alta demanda de energia e água”. Embora a Microsoft sustente utilizar volumes considerados reduzidos, a percepção pública tende a associar a dimensão dessas construções a pressões sobre recursos locais.
Moradores de Querétaro argumentam que, mesmo que o consumo declarado seja “mínimo”, qualquer acréscimo num sistema já sobrecarregado pode gerar efeito dominó, resultando em interrupções para bairros inteiros. Autoridades, até o momento, mantêm a versão de que fatores climáticos ou acidentais, como tempestades e colisões de animais com a rede, explicam as falhas, mantendo a relação entre data centers e escassez apenas no campo das alegações comunitárias.
Próximos passos aguardados pela população
Sem consenso sobre as causas, os residentes esperam providências que restabeleçam o serviço contínuo de água e energia. Alguns defendem auditorias independentes para verificar consumo real de recursos pelas instalações. Outros cobram investimentos diretos na rede local, sustentando que empreendimentos milionários deveriam financiar melhorias de infraestrutura como condição para operar.
Até que uma verificação técnica compartilhada ocorra, o impasse deve persistir. De um lado, comunidades enfrentam cada novo apagão ou corte de água como prova de que a demanda excessiva existe; de outro, a Microsoft e órgãos oficiais reafirmam que os transtornos não têm relação com os servidores. A tensão reforça um debate cada vez mais presente em diferentes países: como conciliar avanço tecnológico com garantia de serviços básicos para as populações vizinhas a grandes complexos de dados.
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