O presidente russo, Vladimir Putin, valorizou publicamente o empenho das forças armadas da Coreia do Norte na ofensiva contra a Ucrânia, durante um encontro com o líder norte-coreano, Kim Jong Un, realizado esta quarta-feira em Pequim.
Agradecimento directo e promessa de apoio
Na terceira reunião entre os dois dirigentes em menos de dois anos, Putin sublinhou a “coragem” demonstrada pelos militares enviados por Pyongyang. Segundo o presidente russo, esses contingentes participaram na retoma de zonas da região de Kursk, no oeste da Rússia, palco de combates desde a incursão ucraniana de Agosto passado.
Kim Jong Un respondeu declarando-se disposto a “fazer tudo” para auxiliar Moscovo. Citado pela imprensa estatal norte-coreana, o dirigente referiu que a cooperação bilateral “avança em todas as áreas” e descreveu a intervenção no conflito como parte de uma “luta conjunta”.
Números avançados por Seul
De acordo com estimativas do governo sul-coreano, Pyongyang terá destacado cerca de 15 000 militares para apoiar a Rússia. Fontes ocidentais apontaram, em Janeiro, para pelo menos mil baixas apenas nos três meses anteriores, número que legisladores de Seul actualizaram para 4 700 vítimas, incluindo 600 mortos.
Os soldados norte-coreanos, sem experiência prévia em combate, terão passado as primeiras semanas em território russo em formação e funções de suporte antes de serem colocados na linha da frente.
Intercâmbio militar e económico
Para além de efectivos, a Coreia do Norte forneceu mísseis e armas de longo alcance, recebendo em troca alimentos, financiamento e assistência técnica, segundo as mesmas fontes sul-coreanas. No passado mês de Junho, o secretário do Conselho de Segurança russo revelou ainda que Pyongyang tenciona enviar milhares de trabalhadores para apoiar a reconstrução da região de Kursk.
Em paralelo, Moscovo e Pyongyang assinaram, há um ano, um acordo de defesa mútua que prevê ajuda recíproca em caso de “agressão” contra qualquer dos países. Kim Jong Un qualificou então o tratado como “o mais forte de sempre” entre as duas nações e reafirmou recentemente o seu “apoio incondicional” à campanha russa na Ucrânia.
Cerimónia para famílias de combatentes
Na semana passada, Kim encontrou-se com familiares de soldados norte-coreanos mortos em combate na Ucrânia. Durante a cerimónia, expressou “profunda tristeza” por não ter conseguido trazer os militares de volta com vida, prometendo erguer um memorial em sua honra e garantir assistência aos seus filhos, conforme reportou a agência oficial KCNA.
Contexto da reunião em Pequim
O encontro entre Putin e Kim decorreu à margem de uma parada militar promovida pela China para assinalar os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial na Ásia. O presidente chinês, Xi Jinping, juntou-se aos dois dirigentes durante as celebrações, evidenciando o estreitamento de laços entre Moscovo, Pyongyang e Pequim num momento de tensão geopolítica global.
A presença de tropas estrangeiras na guerra da Ucrânia continua a suscitar críticas ocidentais. Kiev e os seus aliados acusam Moscovo de recorrer a apoios externos para prolongar um conflito que entrou no terceiro ano desde a invasão russa de Fevereiro de 2022. A Rússia, por sua vez, defende que a colaboração com a Coreia do Norte se enquadra numa relação “amistosa” e num esforço comum para enfrentar o que considera ameaças externas.