Protestos no Nepal escalaram nesta terça-feira (data local) com o incêndio do prédio do Parlamento em Katmandu, horas depois de o primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciar em meio à pior onda de agitação popular em décadas.
O estopim foi a morte de 19 manifestantes em confrontos com a polícia na segunda-feira, número que subiu para 22 após novos óbitos registrados hoje. As manifestações, inicialmente contra o bloqueio de 26 redes sociais, evoluíram para um movimento nacional contra a corrupção.
Protestos no Nepal: parlamento incendiado após renúncia
Testemunhas relataram cenas de euforia dentro do Parlamento, com centenas de jovens quebrando janelas, pichando paredes e entoando slogans enquanto chamas e fumaça dominavam o complexo governamental de Singha Durbar. Em outras regiões, edifícios públicos e as residências de líderes como Sher Bahadur Deuba, do Nepali Congress, e do próprio Oli foram incendiados.
Autoridades carcerárias informaram que 900 detentos escaparam de duas prisões no oeste do país durante o caos. Em comunicado, o chefe das Forças Armadas advertiu que “todas as instituições de segurança, incluindo o Exército, estão prontas para controlar a situação” a partir das 22h (16h15 GMT).
A proibição de plataformas como Facebook, Instagram e TikTok, revogada na noite de segunda-feira para “atender às demandas da Geração Z”, foi apontada por analistas como catalisadora da mobilização. A campanha “nepo kid”, que denunciava o estilo de vida luxuoso dos filhos de políticos, já ganhava força nas redes antes do bloqueio.
Sem liderança centralizada, os manifestantes seguem unificados apenas pelo lema anticorrupção. Mesmo dentro do Parlamento, ainda não há definição sobre quem assumirá o cargo de primeiro-ministro. Segundo a presidência, discussões internas para escolher um sucessor já começaram.
Em entrevista à BBC, a estudante Muna Shreshta, 20 anos, afirmou que “é hora de mudar quem está no poder para que os impostos sejam usados no crescimento do país”. Pesquisa recente do Transparency International coloca o Nepal entre as nações com maiores índices de percepção de corrupção na Ásia Meridional.
Enquanto isso, líderes governistas buscaram abrigo em instalações de segurança, e várias províncias mantêm toque de recolher. Caso a violência persista, observadores internacionais temem uma intervenção militar direta nos próximos dias.
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