Protestos da Gen Z no Marrocos exigem saúde antes da Copa

Protestos da Gen Z no Marrocos exigem saúde antes da Copa mobilizam milhares de jovens que, desde 27 de setembro, saem às ruas em pelo menos dez cidades para contestar o investimento estimado em US$ 5 bilhões na construção de estádios para a Copa do Mundo de 2030, que o país co-sediará.
Coordenado pelo coletivo Gen Z 212, que usa Discord, TikTok e Instagram, o movimento ganhou força após a morte de oito mulheres em uma maternidade de Agadir, fato que expôs a precariedade do sistema de saúde local. Entre os principais gritos de ordem, destacam-se “Sem Copa do Mundo, saúde primeiro” e “Queremos hospitais, não estádios”.
Protestos da Gen Z no Marrocos exigem saúde antes da Copa
Os manifestantes apresentam uma pauta abrangente: atenção médica de qualidade, educação gratuita, moradia acessível, transporte público eficiente, combate ao desemprego juvenil, melhoria de salários e adoção do inglês como segunda língua oficial no lugar do francês. Segundo dados oficiais de 2023, o Marrocos possui 7,8 médicos por 10 000 habitantes, muito abaixo da recomendação de 23 da Organização Mundial da Saúde.
A resposta das forças de segurança tem sido dura. Até quarta-feira (2), o Ministério do Interior confirmou 409 detenções, 260 policiais e 20 manifestantes feridos, além de três mortes na cidade de Lqliaa, onde, segundo as autoridades, houve tentativa de invasão a uma delegacia. Veículos foram incendiados e vídeos das prisões circulam nas redes sociais, reforçando a indignação de ativistas como Hajar Belhassan, 25 anos: “Estamos fazendo exigências básicas. Saúde e educação deveriam ser prioridade”, afirmou.
Apesar de o primeiro-ministro Aziz Akhannouch declarar abertura ao diálogo, o movimento — sem liderança formal ou ligação partidária — promete manter as manifestações até que medidas concretas sejam anunciadas. Analistas lembram que revoltas populares já provocaram reformas significativas, como a emenda constitucional de 2011, mas observam que a geração atual se organiza de forma ainda mais descentralizada.
Para muitos jovens, o conflito entre paixão futebolística e necessidades fundamentais é o cerne do problema. “Queremos sediar o Mundial, mas com a cabeça erguida, não escondendo carências de saúde”, disse um manifestante identificado como Hakim, de 23 anos, detido em Casablanca. Seu relato sobre a dificuldade de tratar o pai após um AVC resume a frustração geral: “Sem economia estável e serviços básicos, o megaevento vira fachada”.
No horizonte imediato, os protestos devem continuar, enquanto aumentam os pedidos para que o rei Mohammed VI pressione o governo por mudanças estruturais. Resta saber se a energia das ruas se converterá em políticas públicas capazes de equilibrar o orgulho esportivo com o bem-estar social.
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Crédito da imagem: Anadolu via Getty Images
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