Protestos em Madagascar: gás lacrimogêneo após demissão do governo

Protestos em Madagascar mantêm a tensão nas ruas de Antananarivo e de outras oito cidades, mesmo depois de o presidente Andry Rajoelina ter anunciado, na segunda-feira (15), a dissolução do gabinete. Jovens ligados ao chamado movimento Gen Z reivindicam o fim dos cortes recorrentes de água e energia e exigem responsabilidades pelo uso de força contra manifestantes.
A Polícia Nacional voltou a empregar gás lacrimogêneo nesta terça-feira (16) para dispersar pequenos grupos que se reuniam próximo a bloqueios na capital, segundo a agência AFP. O toque de recolher entre o anoitecer e o amanhecer segue em vigor após episódios de violência e saques.
Protestos em Madagascar continuam após demissão do governo
Rajoelina afirmou na televisão estatal que “compreende a raiva” da população e abriu, até quinta-feira, prazo para inscrições ao cargo de primeiro-ministro. Até a formação do novo ministério, os atuais titulares permanecem como interinos. A medida, no entanto, foi classificada como insuficiente em publicações nas redes sociais do movimento, que também cobra pedido formal de desculpas do presidente pelos mortos durante as manifestações.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, ao menos 22 pessoas morreram e cerca de 100 ficaram feridas desde o início dos protestos, na quinta-feira passada (11). O órgão acusa as forças de segurança malgaxes de empregar força “desnecessária e desproporcional”, inclusive balas de borracha e munição real. O Ministério das Relações Exteriores do país contesta os números, alegando tratar-se de “boatos ou informações incorretas”.
As primeiras marchas ocorreram de forma pacífica em Antananarivo, mas rapidamente se espalharam para cidades como Toamasina, Mahajanga e Fianarantsoa. Em alguns casos, relatos apontam depredação de residências de parlamentares; os organizadores negam envolvimento e dizem que “mercenários” teriam agido para deslegitimar o movimento.
Madagascar enfrenta ciclos de instabilidade política desde a independência, em 1960. O próprio Rajoelina assumiu o poder pela primeira vez após protestos massivos em 2009. Reeleito para um terceiro mandato em 2023, ele encara agora o maior desafio de seu novo governo.
Enquanto o país aguarda a nomeação de um novo gabinete, o chefe da ONU para direitos humanos, Volker Türk, pediu a libertação imediata de manifestantes detidos arbitrariamente e a suspensão do uso de força excessiva. Ele classificou como “chocante” a repressão, que, segundo ele, incluiu prisões, espancamentos e disparos contra civis.
A previsão de retomada das negociações entre o governo e representantes da juventude ainda não possui data. Em cartazes exibidos nos atos, os dizeres mais comuns são “Queremos direitos, não conflitos” e “Luz e água já”. Para muitos jovens, a crise energética simboliza falhas estruturais mais amplas, como desemprego e falta de serviços públicos.
Em resumo, o recuo parcial do presidente não conteve a onda de insatisfação popular, e a segurança segue reforçada em pontos estratégicos do país. Analistas avaliam que, sem soluções rápidas para o abastecimento e sem apuração transparente das mortes, os protestos tendem a persistir.
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Crédito da imagem: Getty Images
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