Apontado há décadas como solução para substituir os combustíveis fósseis, o hidrogénio continua longe de conquistar o mercado da mobilidade. Apesar de, na combustão, libertar apenas vapor de água, a sua produção em grande escala permanece fortemente dependente de processos com elevada pegada de carbono, o que anula a maior parte dos ganhos ambientais.
Emissões associadas ao hidrogénio cinzento e azul
Mais de 90 % do hidrogénio actualmente disponível é classificado como cinzento. Este tipo resulta da reforma do gás natural a alta temperatura, procedimento que liberta entre 9 e 12 toneladas de dióxido de carbono por cada tonelada de hidrogénio obtida. Em média, são 12 kg de CO2 para cada quilograma de combustível, segundo a Agência Internacional de Energia.
Uma variante designada azul recorre à mesma técnica, mas incorpora sistemas de captura de carbono. Embora reduza parte das emissões, ainda gera entre 3 e 5 kg de CO2 por quilograma de hidrogénio, nível considerado incompatível com metas de neutralidade climática. A dependência do gás natural e o consumo energético elevado agravam a pegada destes métodos.
Hidrogénio verde: baixo impacto, custo elevado
A alternativa mais limpa, conhecida como hidrogénio verde, utiliza electricidade proveniente de fontes renováveis para separar moléculas de água através da electrólise. O processo limita as emissões a cerca de 1 kg de CO2 por quilograma de combustível, mas enfrenta dois obstáculos principais:
- Custo dos electrólisadores – Os equipamentos necessários permanecem caros, encarecendo o produto final em comparação com as versões cinzenta ou azul.
- Intermitência das renováveis – A produção depende da disponibilidade de sol e vento, dificultando o funcionamento contínuo das unidades de electrólise.
Investigadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e de universidades britânicas procuram optimizar catalisadores e integrar baterias de armazenamento, tentando reduzir preços e garantir fornecimento constante.
Perspectivas para a mobilidade e a indústria
Se os desafios de custo e escala forem ultrapassados, o hidrogénio verde poderá abastecer automóveis, camiões, aviação regional e sectores industriais de difícil descarbonização, como o aço e o cimento. Para tal, será necessário expandir rapidamente a capacidade de energia renovável e desenvolver cadeias logísticas, incluindo redes de distribuição e pontos de abastecimento.
Enquanto a produção continuar associada a emissões significativas, o hidrogénio não cumprirá o papel de combustível limpo que muitos lhe atribuem. A transição depende, portanto, de inovação tecnológica e de políticas públicas que viabilizem soluções de baixo carbono em escala industrial.

Imagem: que o uso do hidrogênio como combustív via tecmundo.com.br