Processadores de pagamento pressionam e podem afastar GTA das lojas digitais

Plataformas de distribuição de videojogos estão a enfrentar novas exigências de processadores de pagamento, que pedem a remoção de títulos com conteúdo adulto dos respetivos catálogos. A medida, aplicada de forma transversal, ameaça abranger séries consagradas como Grand Theft Auto (GTA), Saints Row e Duke Nukem, apesar de estes jogos não se enquadrarem na categoria de produtos exclusivamente pornográficos.

Pressão financeira amplia âmbito da censura

De acordo com a loja digital retro ZOOM Platform, um dos seus parceiros de pagamentos alertou para “possíveis problemas” relacionados com obras classificadas para maiores de 18 anos. A empresa, que comercializa clássicos de várias editoras, receia que a exigência de limpeza de catálogo atinja projetos com violência, sátira social ou nudez moderada, elementos frequentes em franchises como GTA.

Segundo a ZOOM Platform, a notificação foi seguida de contactos diretos com os operadores PayPal e Stripe. A loja afirmou que não planeia remover qualquer jogo e garantiu que “fará tudo ao seu alcance” para manter os títulos disponíveis, sublinhando que considera a medida uma ameaça à liberdade artística.

A pressão financeira não se limita à ZOOM Platform. Steam e Itch.io já retiraram vários jogos para adultos depois de reclamações de empresas de cartões de crédito, como Visa e Mastercard. A Valve, controladora da Steam, mantém há anos uma política que proíbe representações de pessoas reais em jogos eróticos; no entanto, as novas directrizes alargam o crivo a qualquer produto que possa chocar processadores de pagamento.

Colectivo australiano na origem da campanha

O actual endurecimento das regras ganhou força após uma carta aberta enviada em 14 de julho pelo grupo australiano Collective Shout, conhecido pelo activismo antipornografia. O documento acusou plataformas de jogos online de alojar conteúdos com violação, incesto e violência sexual e solicitou às empresas financeiras que cortassem relações comerciais com essas lojas.

A resposta chegou rapidamente. De forma preventiva, diversos intermediários ameaçaram suspender serviços de pagamento caso os marketplaces não filtrassem o material denunciado. O efeito colateral foi abrangente: jogos +18 com conteúdo consensual, títulos com representações LGBTQIAPN+ e até produções satíricas passaram a constar das listas de risco, independentemente do contexto ou classificação etária.

Plataformas e comunidade mobilizam-se

Nem todas as lojas aceitaram as novas condições sem contestação. A GOG — plataforma detida pela CD Projekt — lançou uma iniciativa de protesto, disponibilizando gratuitamente um conjunto de jogos adultos por tempo limitado. O gesto pretende chamar a atenção para o que a empresa designa como “censura financeira” imposta por intermediários.

Jogadores organizaram petições e campanhas nas redes sociais, alegando que as restrições penalizam obras legítimas e reduzem o acesso a títulos históricos. Entretanto, editoras e estúdios de médio porte aguardam clarificação sobre o tipo de conteúdo que poderá ser vetado no futuro, receando que as incertezas afastem investimento em projectos com classificação etária restrita.

Potencial impacto em franquias de grande dimensão

Embora GTA, Saints Row e Duke Nukem não se foquem em pornografia, os seus temas adultos, linguagem explícita e violência podem torná-los alvos fáceis numa interpretação rigorosa das novas directrizes. Caso processadores de pagamento recusem transações associadas a esses jogos, as lojas digitais ver-se-ão obrigadas a optar entre a manutenção dos títulos e o risco de perder métodos de pagamento populares.

Até ao momento, não há registo de remoções efetivas dessas séries nas principais plataformas. Todavia, a ZOOM Platform adiantou que continuará a negociar com PayPal e Stripe para garantir a permanência de todo o seu catálogo. A empresa reforçou que irá “defender vigorosamente” o acesso a obras que considera culturalmente relevantes, mesmo que contenham material sensível.

Nos bastidores, programadores e distribuidores monitorizam o desenrolar da situação. Se a pressão financeira persistir, poderão surgir modelos alternativos de pagamento ou lojas especializadas para títulos com classificação para maiores de idade. Para já, a indústria debate-se com o equilíbrio entre compliance financeiro e liberdade criativa, enquanto os jogadores aguardam para saber se os seus clássicos favoritos continuarão disponíveis sem restrições adicionais.

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Imagem: tecmundo.com.br

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