Predadores naturais ajudam a conter populações de escorpiões no Brasil
Escorpiões como o amarelo (Tityus serrulatus) e o marrom (Tityus bahiensis) estão cada vez mais presentes em áreas urbanas brasileiras, cenário que se reflete no avanço dos acidentes: só em 2022, o Estado de São Paulo registrou 42.757 ocorrências, 22 % acima de 2021. Em 2023, o país totalizou 200 mil casos, dos quais 48.655 em território paulista, equivalente a 24 % do total nacional e 15 % superior ao ano anterior.
O aumento é atribuído a fatores como crescimento urbano desordenado, acúmulo de entulho, oferta de baratas e fácil reprodução dos escorpiões, que podem gerar filhotes sem acasalamento. Embora o problema exija ações de limpeza e vedação de abrigos, a preservação de predadores naturais continua sendo peça importante no equilíbrio populacional desses aracnídeos.
Sapo-cururu
Um dos maiores anfíbios do país, o sapo-cururu caça à noite e tolera bem o veneno de escorpiões graças a proteínas plasmáticas que neutralizam toxinas. Estudos do Instituto Butantan indicam que o animal engole rapidamente indivíduos de até 5 cm, reduzindo riscos de ferroada. Em jardins e zonas úmidas periurbanas, sua presença ajuda a conter escorpiões jovens e adultos.
Coruja-buraqueira
Com hábitos noturnos e visão aguçada, a coruja-buraqueira captura escorpiões ao imobilizar a cauda com as garras. Análises de pelotas publicadas na Revista Brasileira de Ornitologia mostram que esses aracnídeos podem representar 15 % da dieta da ave em regiões de Cerrado e Caatinga. O animal é frequente em terrenos baldios, campos de futebol e pastagens, áreas onde escorpiões prosperam.
Lacraia-gigante
A centopeia das espécies Scolopendra viridicornis e Scolopendra subspinipes vive sob pedras e folhas secas, ambientes compartilhados com escorpiões. Apesar de também ser venenosa, a lacraia costuma levar vantagem nos confrontos e devorar filhotes de escorpiões. Seu potencial de controle é limitado, porém, porque a picada da centopeia representa risco considerável a humanos.
Tamanduá-mirim
O pequeno tamanduá se alimenta principalmente de formigas e cupins, mas consome escorpiões encontrados em troncos ou folhagens. Levantamento da Embrapa aponta participação inferior a 5 % desses aracnídeos em sua dieta, pois o mamífero prefere presas menos perigosas. Mesmo assim, sua língua viscosa e patas com pele espessa oferecem alguma proteção contra ferroadas ocasionais.
Galinhas domésticas
Ciscando o solo em sítios e quintais, galinhas engolem escorpiões inteiros após bicadas rápidas que evitam o ferrão. Estudos da Unesp de Botucatu revelam que um único animal pode consumir até 20 escorpiões por mês sem danos, graças ao pH ácido do estômago que degrada toxinas. Propriedades rurais com criações soltas relatam redução de até 70 % na presença desses aracnídeos.
Gambá
Mamífero noturno adaptado a áreas urbanas, o gambá possui proteínas sanguíneas que neutralizam toxinas de escorpiões e serpentes. Pesquisas do Instituto Butantan mostram que ele suporta picadas repetidas e costuma esmagar a presa com as patas antes de comer. Além de atacar escorpiões adultos, o animal reduz a população de baratas, principal alimento dos aracnídeos.
Teiú
Chegando a mais de um metro de comprimento, o teiú é um lagarto onívoro que percorre o solo em busca de ovos, frutas e pequenos vertebrados. Quando encontra escorpiões, utiliza mandíbulas fortes e pele resistente para se proteger do veneno. Embora não seja solução única para infestações, sua presença em zonas rurais e periferias urbanas contribui para limitar populações de T. serrulatus adultos.
Especialistas ressaltam que a simples valorização desses predadores não basta para controlar surtos. Medidas básicas de saneamento, eliminação de entulho, vedação de ralos e orientação à população continuam fundamentais. Quando a cadeia biológica permanece intacta, porém, sapos, aves, mamíferos e répteis atuam como aliados silenciosos na contenção desse problema de saúde pública.
Em caso de picada, o Ministério da Saúde recomenda lavar o local com água e sabão e procurar atendimento médico imediato. A manutenção do equilíbrio ecológico, aliada a ações preventivas, segue como caminho mais seguro para reduzir acidentes e mitigar a presença de escorpiões em ambientes urbanos.
Fonte: notícia fornecida pelo usuário