Petrobras solicita ampliação de licença para perfurar novos poços na Foz do Amazonas

Petrobras solicita ampliação de licença para perfurar novos poços na Foz do Amazonas

Petrobras protocolou no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) um pedido de extensão da licença ambiental recém-concedida para a perfuração do poço FZA-M-59, na bacia marítima da Foz do Amazonas. O requerimento, encaminhado um dia depois da autorização original, pretende incluir três poços adicionais que não foram avaliados no documento emitido na segunda-feira (20). A iniciativa reacende o debate sobre a abertura de uma nova fronteira petrolífera na Margem Equatorial, mobiliza organizações da sociedade civil e amplia a pressão sobre o processo regulatório em curso.

Índice

Quem está envolvido na solicitação

A estatal Petrobras figura como proponente da expansão das atividades exploratórias, enquanto o Ibama exerce o papel de autoridade licenciadora e fiscalizadora. Do lado opositor, oito organizações e redes dos movimentos ambientalista, indígena, quilombola e de pescadores artesanais recorreram à Justiça Federal do Pará, incluindo-se na controvérsia como autores de uma ação que visa barrar a licença.

O que motiva o novo pedido

No documento remetido ao Ibama, a Petrobras argumenta que os três poços “contingentes” faziam parte do planejamento inicial apresentado durante o processo de licenciamento. A companhia solicita, portanto, a alteração do texto da licença para que as áreas próximas ao FZA-M-59 passem a constar formalmente no escopo autorizado. Segundo fontes internas do órgão ambiental, entretanto, a análise técnica que embasou a decisão publicada considerou exclusivamente os potenciais impactos do FZA-M-59, deixando de fora qualquer avaliação sobre as demais perfurações pretendidas.

Quando e onde ocorrem as operações

A licença original foi emitida na segunda-feira (20) e tem validade alinhada ao cronograma de perfuração exploratória de aproximadamente cinco meses. A região alvo situa-se na bacia da Foz do Amazonas, área marítima que integra a chamada Margem Equatorial brasileira. A sonda de perfuração NS-42, contratada pela Petrobras, deverá operar nesse intervalo, enquanto aguarda-se decisão do Ibama quanto à inclusão dos poços adicionais.

Como foi conduzido o licenciamento inicial

De acordo com nota divulgada pelo Ibama no ato da publicação da licença, o procedimento incluiu Estudo de Impacto Ambiental (EIA), audiências públicas, reuniões técnicas setoriais e avaliações de campo que mobilizaram mais de 400 profissionais. Apesar da declaração de rigor, relatórios técnicos internos — citados por servidores sob anonimato — indicam que pareceres recomendando maior cautela não foram integralmente considerados, especialmente em relação aos riscos de incidentes com derramamento de óleo.

Razões apresentadas pelas organizações que acionaram a Justiça

O grupo de oito entidades solicita uma liminar para suspender imediatamente a perfuração, alegando risco de danos irreversíveis ao ecossistema marinho e às comunidades costeiras. Entre os pontos elencados, destacam-se:

1. Ausência de estudos socioambientais específicos. As entidades afirmam que não foram realizados o Estudo de Componente Indígena nem o Estudo de Componente Quilombola. Argumentam ainda que não houve consulta livre, prévia e informada a povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais possivelmente afetados.

2. Falhas em cenários de vazamento. A petição judicial sustenta que a modelagem utilizada para prever a dispersão de óleo baseia-se em dados de 2013, considerados desatualizados. Segundo as organizações, um eventual “blowout” (vazão incontrolável) poderia fazer com que cerca de 20% do óleo derramado afundasse, atingindo o Grande Sistema Recifal Amazônico.

3. Impacto climático global. Ao liberar nova fronteira petrolífera na Amazônia, o licenciamento ignoraria efeitos sobre o clima, contrariando compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C.

Posicionamentos de Ibama e Petrobras

O Ibama reafirma que o licenciamento seguiu todos os passos previstos na legislação ambiental brasileira. O instituto salienta a existência de pareceres multidisciplinares e do acompanhamento de campo para garantir padrões de segurança. Por sua vez, a Petrobras declara que conduzirá a operação “com segurança, responsabilidade e qualidade técnica”, reiterando que o projeto contempla medidas de mitigação de impactos e planos de emergência.

Pressões políticas e institucionais

Ambientalistas atribuem a emissão da licença a um ciclo de quatro anos de pressão exercida pela Petrobras e pelo Ministério de Minas e Energia. Alegam também que pareceres técnicos do próprio Ibama, bem como recomendações do Ministério Público Federal, teriam sido contrariados durante a decisão final. Esses questionamentos reforçam a tese de vícios processuais apresentados na ação judicial.

Avanço da exploração na Margem Equatorial

O bloco FZA-M-59, onde se localiza o poço Morpho, é o primeiro de uma série na bacia da Foz do Amazonas. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que outros oito blocos encontram-se em fase de licenciamento e 19 foram arrematados no leilão de junho. Das áreas leiloadas, dez ficaram com a ExxonMobil em parceria com a Petrobras, enquanto nove foram atribuídas à Chevron, que conta com participação minoritária da estatal chinesa CNPC. Organizações da sociedade civil associam esse interesse estrangeiro à flexibilização em debate do Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental.

Projeções para a produção brasileira de petróleo

Caso as iniciativas na Foz do Amazonas avancem sem entraves, projeções divulgadas na imprensa especializada indicam que o Brasil poderá figurar entre os quatro maiores produtores de petróleo do mundo na próxima década, ultrapassando a marca de cinco milhões de barris diários a partir de 2030. Esse volume colocaria o país atrás apenas de Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia.

Consequências potenciais para o ecossistema amazônico

A região de influência do empreendimento abriga o Grande Sistema Recifal Amazônico, formação submarina que se estende por centenas de quilômetros na foz do rio. Pesquisadores alertam que o recife apresenta características únicas de biodiversidade adaptada a águas turvas e menos salinas. Um derramamento de óleo em larga escala poderia afetar corais, peixes, mamíferos marinhos e, indiretamente, comunidades pesqueiras que dependem desse ambiente para subsistência.

Próximos passos institucionais

Até o momento, Ibama e Petrobras não se pronunciaram publicamente sobre o pedido de extensão da licença ou sobre a ação judicial protocolada. A decisão liminar solicitada pelas organizações pode suspender as atividades em curto prazo, afetando o cronograma da sonda NS-42. O caso ganha ainda mais relevância por ocorrer meses antes da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), quando a política ambiental brasileira receberá escrutínio internacional.

Enquanto isso, o pedido de três poços adicionais permanece sob análise técnica. Caso seja aprovado, a estatal ampliará a campanha exploratória além do FZA-M-59, consolidando a Foz do Amazonas como marco inicial da exploração de petróleo na Margem Equatorial e elevando o debate sobre desenvolvimento econômico, proteção ambiental e compromissos climáticos.

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