Peter Mutharika, ex-chefe de Estado que governou o Malawi de 2014 a 2020, está prestes a reassumir a presidência após vencer as eleições gerais realizadas na semana passada, segundo a apuração preliminar da Comissão Eleitoral.
Aos 85 anos, o veterano político derrotou o atual presidente Lazarus Chakwera com um discurso centrado no retrocesso econômico vivido nos últimos quatro anos, marcado por inflação superior a 30%, falta de divisas e o impacto do ciclone Freddy.
Peter Mutharika volta à presidência do Malawi aos 85
Professor de Direito formado em Yale, Mutharika entrou na vida pública em 2004 para assessorar o irmão, Bingu wa Mutharika, então presidente. Desde então, ocupou pastas de Justiça, Educação e Relações Exteriores, até conquistar o Palácio de Lilongwe em 2014 com 36% dos votos.
Durante o primeiro mandato, o líder do Partido Progressista Democrático (DPP) reduziu a inflação a um dígito e obteve financiamentos chineses bilionários para infraestrutura. O período, contudo, foi marcado por apagões, escassez de alimentos e suspeitas de propina em contrato de 2,8 bilhões de kwachas para abastecer a polícia; ele acabou inocentado.
Em 2019, Mutharika foi reeleito, mas o Tribunal Constitucional anulou o pleito por adulteração de atas com corretivo Tipp-Ex, episódio que lhe rendeu o apelido de “presidente Tipp-Ex”. A decisão, elogiada internacionalmente por proteger a democracia, levou Chakwera ao poder em 2020. Na época, Mutharika classificou a anulação como “inaceitável”.
Quatro anos depois, a deterioração econômica reabriu caminho para seu retorno. Nos comícios, perguntava em chichewa: “Munandisowa eti? Mwakhaula eti?” (“Vocês sentiram minha falta? Vocês sofreram?”). Mesmo ausente da maior parte da campanha, conquistou bastiões tradicionais do adversário, como Lilongwe e Nkhotakota, embora persistam dúvidas sobre sua saúde e capacidade de enfrentar um segundo mandato.
Especialistas apontam que, logo ao tomar posse, ele terá de negociar alívio da dívida externa, conter a inflação e restabelecer estoques de combustível. Segundo análise da BBC, a credibilidade do novo governo dependerá de medidas rápidas contra a corrupção que assola o país desde a independência.
Reservado fora dos holofotes, Mutharika é considerado “mais à vontade com livros do que em palanques”. Viúvo desde 1990, casou-se novamente em 2014 com a ex-deputada Gertrude Maseko. O casal retorna agora à residência oficial com uma pasta mais pesada: recuperar a confiança de 20 milhões de malawianos que cobram emprego, energia e alimentos.
Resta saber se o professor que virou político conseguirá, na reta final de sua carreira, cumprir a promessa feita nas urnas e levar o Malawi de volta aos “melhores tempos”.
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Crédito da imagem: Bloomberg via Getty Images