Peixe amazónico faz acrobacias para pôr ovos em terra e garante proteção extra à descendência
O tetra-splash (Copella arnoldi), pequeno peixe dos rios da Amazónia, adota uma estratégia de reprodução invulgar: coloca os ovos fora de água e mantém-nos húmidos até à eclosão. O comportamento foi detalhado num estudo conduzido pelo zoólogo Rafael Farias, da Universidade Federal do Pará, que analisou 117 exemplares capturados no leste da região amazónica.
Salto coordenado garante fecundação em troncos e folhas
Durante o acasalamento, o macho salta da superfície e deposita esperma numa folha, ramo ou mesmo na tampa de aquários onde a espécie é criada como ornamental. A fêmea segue-lhe o exemplo de imediato, lançando os óvulos no mesmo ponto. Concluído o processo, os ovos aderem ao substrato e ficam expostos ao ar.
A película que envolve cada ovo desidrata rapidamente, pelo que o macho permanece junto à superfície durante cerca de três dias — tempo médio de incubação — projetando jatos de água a cada minuto. Assim que eclodem, as larvas caem diretamente no rio.
Chuva reduz esforço dos progenitores
As posturas concentram-se em dois períodos chuvosos, dezembro e abril. Sensores naturais permitem aos machos detetar alterações na coluna de água provocadas pela precipitação; nessas ocasiões, o salpico constante torna-se desnecessário, poupando energia para alimentação e defesa.
Vantagens e raridade do método
Ao afastar os ovos do meio aquático, o tetra-splash reduz o risco de predação e a competição com desovas de outras espécies. Fora esta e duas outras espécies de água doce — Brycon petrosus e Kryptolebias marmoratus — não se conhecem peixes que utilizem o mesmo procedimento.
Implicações para o comércio ornamental
Popular no mercado internacional de aquariofilia, o Copella arnoldi atinge maturidade sexual com 1,8 centímetros e reproduz-se a partir de 2,1 centímetros. O estudo sugere que estes valores sirvam de referência para regulamentar a captura, evitando a recolha de juvenis e contribuindo para a sustentabilidade das populações selvagens.
Segundo Rafael Farias, estabelecer um tamanho mínimo legal permitiria compatibilizar a procura comercial com a conservação da espécie, actualmente sem proteção específica quanto à fase de vida em que pode ser capturada.

Imagem: Reprodução via olhardigital.com.br