Paracetamol e autismo voltaram ao centro do debate público depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu que o uso do analgésico por gestantes aumentaria o risco de Transtorno do Espectro Autista (TEA) em bebês.
Em resposta, o Ministério da Saúde divulgou nesta terça-feira (23) nota oficial apontando que não existe qualquer comprovação científica entre paracetamol e autismo, reforçando a segurança do fármaco amplamente utilizado contra dor e febre.
Paracetamol e autismo: governo Lula rebate fala de Trump
O comunicado adverte que a divulgação de informações sem respaldo pode gerar pânico, levar gestantes a recusarem tratamento e ainda desrespeitar pessoas com TEA e suas famílias. O governo sublinhou que o medicamento foi “amplamente estudado”, com evidências robustas sobre eficácia e segurança, enquanto o Sistema Único de Saúde (SUS) mantém linha de cuidado dedicada ao diagnóstico e intervenção precoce do autismo.
A posição brasileira vai ao encontro de entidades médicas internacionais. No mesmo dia da declaração de Trump, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) classificou a fala como “irresponsável”, alertando que febre e dor não tratadas representam riscos bem maiores para a gestante e o feto do que o uso do paracetamol. “É altamente preocupante que se anunciem supostos riscos sem dados confiáveis”, afirmou o presidente da entidade, Steven J. Fleischman.
No Reino Unido, a Sociedade Nacional do Autismo chamou a afirmação de “anticientífica e perigosa”, destacando que a pseudociência coloca mulheres grávidas e crianças em risco e desvaloriza pessoas autistas.
Dados do Ministério da Saúde indicam que cerca de 1% da população brasileira vive com TEA, porcentual semelhante ao de outros países. Para garantir intervenção oportuna, o órgão recomenda que profissionais da atenção primária apliquem o questionário M-Chat em todas as crianças entre 16 e 30 meses, prática já incorporada à Caderneta Digital da Criança e ao prontuário eletrônico e-SUS.
Quando há suspeita, o SUS oferece o Projeto Terapêutico Singular, plano individualizado que envolve equipes multiprofissionais e famílias, reforçando a diretriz de cuidado integral. Ao mesmo tempo, o ministério sustenta que combater a desinformação é decisivo para recuperar a confiança da população em políticas públicas de saúde.
Em síntese, autoridades brasileiras e internacionais concordam: não há prova de que paracetamol cause autismo, e seu uso controlado permanece indicado para gestantes quando necessário. Para acompanhar outras análises sobre ciência e saúde, visite a editoria Ciência e tecnologia e mantenha-se informado.
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