ONU reconhece que aquecimento global ultrapassará 1,5 °C e convoca ação antes da COP30

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O secretário-geral das Nações Unidas declarou, em Genebra, que o limite de 1,5 °C de aquecimento acima dos níveis pré-industriais não será alcançado. O reconhecimento veio durante encontro na Organização Meteorológica Mundial (OMM) e foi acompanhado de um apelo: todos os governos devem apresentar novos planos climáticos antes da Conferência das Partes (COP30), agendada para novembro de 2025 em Belém. A constatação insere-se em um momento no qual dados observacionais já apontam elevação média global de 1,4 °C e indicações temporárias de 1,6 °C em 2024, sinalizando que o planeta vive, mesmo que de modo intermitente, a realidade pós-1,5 °C.
- Contexto do anúncio
- Origem e importância do limite de 1,5 °C
- Dados recentes reforçam a tendência de superação
- Implicações práticas da ultrapassagem
- Convocação para planos climáticos até a COP30
- Papel da Organização Meteorológica Mundial
- Sistemas de alerta precoce: avanço e desafios
- Iniciativa Alertas Antecipados para Todos
- Conexão com fenômenos climáticos sazonais
- Consequências para países em desenvolvimento
- Percurso histórico da meta climática
- Próximos passos recomendados pelas Nações Unidas
- Panorama geral
Contexto do anúncio
A declaração do secretário-geral ocorreu na primeira vez em que ele se dirigiu oficialmente ao congresso da OMM, que celebra 75 anos de atuação. O encontro reuniu representantes dos 193 Estados-membros e concentrou-se na avaliação de riscos climáticos, avanços na modelagem meteorológica e expansão de sistemas de alerta precoce. Diante desse público, a liderança das Nações Unidas caracterizou a agência meteorológica como fonte essencial de informação confiável em meio à crise climática, reforçando a necessidade de respostas governamentais coordenadas.
Origem e importância do limite de 1,5 °C
O patamar de 1,5 °C foi definido em 2015, no âmbito do Acordo de Paris, como linha de contenção para minimizar impactos severos das mudanças climáticas. À época, tornou-se consenso científico e diplomático que restrições mais ambiciosas do que 2 °C forneceriam margem de segurança maior para ecossistemas, agricultura, saúde pública e infraestrutura. Avaliações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) deixaram claro que, mesmo nessa faixa, o planeta enfrentaria perdas, porém as consequências cresceriam de forma acentuada com aquecimentos adicionais.
Dados recentes reforçam a tendência de superação
Observações divulgadas pelo serviço europeu Copernicus indicam que a média global de temperatura já se encontra 1,4 °C acima do período pré-industrial. Adicionalmente, os registros de 2024 apontam aquecimento temporário de 1,6 °C, demonstrando que a barreira simbólica já foi, em certos momentos, ultrapassada. Esses números sustentam a avaliação de que limitar o aquecimento a longo prazo a 1,5 °C se tornou inviável nas condições atuais de emissões e mitigação.
Implicações práticas da ultrapassagem
Ultrapassar definitivamente 1,5 °C representa ampliação de riscos associados a eventos extremos, tais como ondas de calor mais prolongadas, precipitações intensas, secas agravadas e elevação do nível do mar. O discurso oficial ressaltou que, diante desse cenário, a prioridade passa a ser reduzir o tempo de permanência acima desse limiar e evitar aquecimentos adicionais rumo a 2 °C ou mais. Para tanto, a ONU solicita que cada país entregue compromissos nacionalmente determinados mais ambiciosos antes da COP30.
Convocação para planos climáticos até a COP30
A próxima Conferência das Partes, marcada para ocorrer em Belém de 10 a 21 de novembro de 2025, foi citada como ponto de corte para submissão de estratégias revisadas de mitigação e adaptação. O apelo inclui a atualização de metas de redução de emissões, cronogramas para descarbonização de setores intensivos em carbono e iniciativas para proteção de populações vulneráveis. A expectativa do secretário-geral é que os documentos tragam, pela primeira vez, compromissos alinhados com trajetória de emissões que evite aumento superior a 2 °C, mesmo após o fracasso da meta anterior.
Papel da Organização Meteorológica Mundial
A OMM foi descrita como entidade fundamental na produção de previsões e na manutenção de registros de longo prazo que permitem acompanhar tendências climáticas. Sem esse monitoramento, segundo o relato do dirigente da ONU, seria impossível antever eventos extremos ou planejar políticas públicas adequadas. A fala reforçou ainda a importância de consolidar a cooperação científica internacional, especialmente em uma fase em que as anomalias de temperatura aceleram.
Sistemas de alerta precoce: avanço e desafios
Durante o congresso, a secretária-geral da OMM apresentou balanço que destaca evolução no alcance dos sistemas de alerta multirriscos: 108 países reportaram contar com tais estruturas em 2024, número mais que dobrado em relação aos 52 registros de 2015. Apesar do progresso, a organização divulgou que a mortalidade decorrente de desastres naturais permanece seis vezes maior em nações com cobertura limitada de alerta. O dado evidencia a lacuna entre capacidade técnica disponível e efetiva proteção de todas as populações.
Iniciativa Alertas Antecipados para Todos
Lançada pela liderança da ONU em 2022, a iniciativa tem objetivo de assegurar que a totalidade da população mundial receba avisos tempestivos de desastres até o fim de 2027. O secretário-geral reiterou essa meta, enquanto a direção da OMM solicitou intensificação de esforços, principalmente em Estados em desenvolvimento. As ações previstas incluem ampliação de redes de observação, modernização de serviços meteorológicos nacionais e treinamento de equipes locais para interpretar e disseminar informações de risco de maneira eficiente.
Conexão com fenômenos climáticos sazonais
Além da discussão sobre os limites de aquecimento, o congresso da OMM mencionou a possível transição para o fenômeno La Niña no decorrer do ano. Embora não tenha sido o foco da declaração do secretário-geral, a referência destaca como eventos naturais modulam padrões climáticos regionais, podendo agravar ou atenuar impactos em diferentes partes do planeta. O acompanhamento contínuo desses fenômenos reforça a necessidade de sistemas de alerta robustos para antecipar chuvas intensas, estiagens ou variações extremas de temperatura.
Consequências para países em desenvolvimento
A disparidade na disponibilidade de sistemas de alerta e na capacidade de resposta coloca nações de renda mais baixa em situação de vulnerabilidade acentuada. Com menor infraestrutura, redes de saúde fragilizadas e recursos limitados para reconstrução, essas sociedades enfrentam perdas humanas e econômicas desproporcionais. A ONU e a OMM defendem que a expansão de tecnologia e financiamento climático seja direcionada de maneira prioritária a esses países, a fim de reduzir o fosso de resiliência.
Percurso histórico da meta climática
Desde o estabelecimento do Acordo de Paris, a comunidade internacional empenhou-se em elaborar mecanismos para manter o aquecimento global dentro do limite de 1,5 °C. Contudo, os compromissos voluntários submetidos nos últimos ciclos mostraram-se insuficientes em projeções de longo prazo. Diversos relatórios indicaram a necessidade de cortes de emissões mais profundos e rápidos. A confirmação, agora, de que a meta não será cumprida em tempo hábil representa mudança de paradigma: a mitigação continua crucial, mas ganha peso adicional a agenda de adaptação.
Próximos passos recomendados pelas Nações Unidas
Com base na nova realidade, a ONU propõe três eixos imediatos para a comunidade global. Primeiro, revisão de compromissos nacionais, com metas alinhadas ao cenário de aquecimento já superior a 1,5 °C. Segundo, aceleração de financiamento para sistemas de alerta, proteção de infraestrutura crítica e apoio a comunidades expostas. Terceiro, fortalecimento da cooperação científica para atualização constante de dados e metodologias que orientem a tomada de decisão em tempo real.
Panorama geral
A admissão de que o limite de 1,5 °C será superado marca momento decisivo nas negociações climáticas. O pronunciamento, respaldado por observações de temperatura e pela avaliação da OMM, estabelece novo ponto de partida para a ação coletiva. À medida que o planeta já experimenta condições de aquecimento de 1,6 °C em certos períodos, a ênfase desloca-se para reduzir danos, prolongar o máximo possível o tempo para alcançar 2 °C e garantir que nenhum Estado-membro fique sem capacidade de preparação. A estrada até a COP30, portanto, transforma-se em janela estratégica para que políticas públicas, investimentos e ciência se alinhem a essa urgência inadiável.
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