ONU condena ataque israelita que matou seis jornalistas em Gaza
O Gabinete dos Direitos Humanos da ONU classificou como “violação grave do direito internacional humanitário” o ataque israelita que resultou na morte de seis jornalistas em Gaza.
Detalhes do ataque e vítimas identificadas
O bombardeamento ocorreu na noite de domingo, quando um míssil atingiu uma tenda de imprensa na Cidade de Gaza. Cinco das vítimas trabalhavam para a Al Jazeera: os repórteres Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, bem como os operadores de câmara Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa. O sexto profissional, identificado pelos serviços médicos do Hospital al-Shifa como Mohammad al-Khaldi, exercia atividade como freelancer.
Segundo o exército israelita, o alvo principal era Anas al-Sharif, acusado de “chefiar uma célula terrorista do Hamas”. As autoridades militares referem ter encontrado, em Gaza, documentos que apontam para a sua filiação no movimento, incluindo listas de pessoal, diretórios telefónicos e registos salariais. Até ao momento, apenas foram divulgadas capturas de ecrã de folhas de cálculo, cuja autenticidade não pôde ser verificada de forma independente.
Condenação internacional e apelos a investigação
Organizações de defesa da liberdade de imprensa, como Repórteres Sem Fronteiras e o Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), repudiaram o ataque. O CPJ sublinhou que Israel tem “um padrão documentado” de alegações contra repórteres sem apresentar prova credível e recordou que, desde o início da ofensiva israelita em outubro de 2023, pelo menos 186 jornalistas perderam a vida — o período mais letal para a classe desde que a entidade começou a recolher dados, em 1992.
Governos de vários países também reagiram. Em Londres, o porta-voz do primeiro-ministro britânico declarou que o Executivo está “profundamente preocupado” e defende uma investigação independente. O Qatar, país onde se localiza a sede da Al Jazeera, condenou igualmente a ação militar.
Contexto do conflito e situação humanitária
A ofensiva de Israel contra Gaza teve início após o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que provocou cerca de 1 200 mortos e 251 reféns em território israelita. Desde então, o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas indica que 61 430 pessoas foram mortas na Faixa de Gaza.
Além das vítimas diretas dos bombardeamentos, a crise humanitária agrava-se. Nas últimas 24 horas, mais cinco pessoas — entre elas uma criança — morreram por desnutrição, elevando para 222 o número total de óbitos associados à fome, dos quais 101 são crianças. O Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas assinala que a quantidade de ajuda a entrar em Gaza continua “muito abaixo do mínimo necessário” para responder às necessidades da população.
Israel rejeita que exista fome generalizada no enclave e argumenta que as agências da ONU não recolhem a ajuda disponível nos pontos de passagem. As Nações Unidas, por seu lado, apontam a persistência de “impedimentos e atrasos” impostos pelas forças israelitas na entrega dos carregamentos.
Apelos à proteção dos profissionais de comunicação
Num comunicado divulgado na rede social X, o Gabinete dos Direitos Humanos da ONU reiterou que Israel “deve respeitar e proteger todos os civis, incluindo jornalistas” e pediu “acesso imediato, seguro e sem restrições” à Faixa de Gaza para profissionais dos media. O organismo sublinha que a presença de repórteres no terreno é essencial para documentar acontecimentos e garantir transparência.
Até agora, as autoridades israelitas não apresentaram justificação para as mortes de toda a equipa da Al Jazeera nem revelaram provas detalhadas que sustentem as acusações contra Anas al-Sharif. Organizações internacionais insistem numa investigação independente para apurar responsabilidades e avaliar possíveis violações do direito de guerra.

Imagem: bbc.com