ONU acusa Israel de genocídio em Gaza em documento divulgado por comissão de inquérito do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. O relatório sustenta que Tel Aviv violou a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, aprovada em 1948 após o extermínio de seis milhões de judeus pelo regime nazista.
Israel refuta todas as acusações, afirma atuar em legítima defesa para proteger civis e libertar os reféns capturados por Hamas e Jihad Islâmica em 7 de outubro de 2023 — cerca de 20 deles ainda vivos, segundo estimativas.
ONU acusa Israel de genocídio em Gaza, diz relatório
O texto relata bombardeios maciços, demolições controladas e bloqueio que, segundo várias agências da ONU, resultaram em “fome provocada pelo homem” no território. De acordo com o IPC, organismo internacional que avalia emergências alimentares, a escassez de comida, água e medicamentos já provocou mortes e risco generalizado de inanição.
Além dos efeitos militares, a comissão enumera deslocamentos forçados — atualmente um milhão de pessoas deixam Gaza City após ordem das Forças de Defesa de Israel (FDI) para migrarem ao sul — e cita “medidas para impedir nascimentos”. Esta última referência aponta o ataque à maior clínica de fertilidade de Gaza, que teria destruído 4 000 embriões, 1 000 amostras de esperma e óvulos não fertilizados.
Três autoridades israelenses são acusadas de incitar genocídio: o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant, que em 9 de outubro chamou os combatentes de “animais humanos”; o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que comparou o inimigo à figura bíblica de Amalek; e o presidente Isaac Herzog, ao responsabilizar toda a população de Gaza por não se rebelar contra o Hamas.
Israel e Estados Unidos boicotam o Conselho de Direitos Humanos, alegando viés contra o Estado judeu. Ainda assim, o relatório alimenta a crescente reprovação global, inclusive entre aliados históricos de Israel e monarquias árabes que normalizaram relações nos Acordos de Abraão.
Na próxima semana, durante a Assembleia-Geral em Nova York, Reino Unido, França, Austrália, Canadá e outros países devem oficializar o reconhecimento de um Estado palestino soberano, gesto que tende a reconfigurar o debate iniciado há mais de um século com a chegada dos primeiros sionistas europeus à Palestina.
A legalização da acusação de genocídio é complexa; o próprio texto da Convenção estabelece elevado patamar probatório. Ainda assim, o caso aberto pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça seguirá tramitando por anos, enquanto a campanha militar israelense prossegue em Gaza e em outros pontos do Oriente Médio.
Para entender a base jurídica das acusações, consulte a Convenção do Genocídio da ONU, documento que molda o direito internacional humanitário.
O cenário, segundo analistas, aprofunda a divisão entre nações que pedem cessar-fogo imediato e fim do cerco — como Reino Unido e França — e aquelas que mantêm apoio militar e diplomático decisivo a Israel, caso dos Estados Unidos.
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Crédito da imagem: AFP via Getty Images